Em 1982, após quase duas décadas, a Ditadura Militar ainda assombrava a democracia brasileira. Mesmo com a abertura gradual da economia e da política, o governo comandado pelo general Ernesto Geisel ainda ditava as regras do funcionamento do país.
Naquele ano, no dia 22 de agosto, um pequeno jornal em preto e branco desafiava as instituições, lutando em favor da democracia no Brasil e no Pará. A manchete daquele novo informativo conclamava por “Eleição Limpa”. Este surgiu do sonho do jornalista Laércio Wilson Barbalho de criar um jornal combativo e desafiador às dificuldades impostas pelo regime militar. Assim surgiu, há 41 anos, o jornal DIÁRIO DO PARÁ.
Dias antes, dia 17 de agosto, circulou nas ruas uma edição experimental do DIÁRIO – o número zero -, que serviu para os ajustes necessários e definição de um modelo que durou dois anos. A edição que marca a data oficial de aniversário chegou à casa dos paraenses cinco dias depois com uma entrevista do desembargador Nelson Amorim, então presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ao repórter Francisco Alencar.
Naquele mesmo ano, Jader Barbalho foi eleito governador do Estado, tendo Laércio Franco como vice, e o jornal seguiu a sua trajetória, passando por várias etapas em nível de tecnologia, até chegar ao estágio atual, mantendo a linha editorial sempre em defesa dos interesses da coletividade.
Ao longo da década de 80, pressões por eleições resultou no movimento “Diretas Já”, um envolvimento cívico de várias camadas da sociedade, que contou com a participação de intelectuais, artistas, pessoas ligadas à igreja (e outras religiões que não a Católica), partidos políticos (que se formavam como o PT, PMDB e PSDB), entre tantas personalidades políticas.
A bandeira do movimento era a redemocratização do país com a participação da sociedade civil na escolha de seus governantes. Embora as diretas não tenham tido o efeito que se esperava (uma vez que o Congresso ainda era controlado pelo governo, retardando as eleições apenas para o final da década), mesmo que indiretamente um presidente civil foi eleito: Tancredo Neves.
No entanto, Tancredo faleceu em 21 de abril de 1985 e não chegou a assumir o cargo para comandar a transição para a democracia, fato que levou José Sarney, seu vice, a assumir a presidência da República.
No Pará, o DIÁRIO continuou sua trajetória como grande marca do jornalismo local. A disputa pela hegemonia na Imprensa escrita era grande: de um lado O DIÁRIO surgia como um “jornal de campanha” sem tecnologia, impresso pelo sistema de “chumbão”. Do outro, dois concorrentes de peso – ”O Liberal” e “A Província do Pará” – com leitura cativa e com sucesso editorial superior, sendo impressos já no sistema offset. Laércio já havia trazido as máquinas que rodariam o jornal de Bauru, em São Paulo, de uma oficina velha e já sucateada.
Os equipamentos ultrapassados dos primeiros tempos davam um tom de heroísmo ao trabalho dos funcionários do parque gráfico, que trabalhavam em dobro para fazer o trabalho com a qualidade exigida pelo público. As máquinas de linotipo vieram de São Paulo e o método de impressão a quente – o chamado “chumbão” – funcionou durante 17 meses. Foram 418 edições do jornal, antes de ser desativado em 1984.
O DIÁRIO foi pioneiro do sistema offset no Estado e a fotocomposição acelerou o processo de impressão e modernizou o mercado. O posicionamento firme a favor dos interesses do cidadão, da democracia, da informação a serviço do público conquistou os leitores. Ainda em 1982, a redação saiu da rua dos Mundurucus e foi transferida para outro prédio, na rua Gaspar Viana.
EXPERIÊNCIA
Como não poderia deixar de ser, Laércio Barbalho foi fundamental na fase embrionária da publicação. Ele trouxe ao jornal sua experiência política da época em que trabalhou no “O Liberal Baratista”, entre 1946 a 1964. A tarimba e a experiência política que repassou aos jornalistas da época foi fundamental e fez com que o jornal não parasse de circula.
A política e o jornalismo sempre estiveram presentes na vida do de Laércio Barbalho. Ele começou no jornalismo em 1950, num periódico ligado ao PSD, partido que apoiava Magalhães Barata e que lhe deu três mandados. Tinha entre os colegas de redação, Hélio Gueiros, Newton Miranda, Álvaro Paes do Nascimento e outros nomes de expressão.
Além do PSD, Laércio também plantou as bases de outro partido político: o PMDB, que se transformaria na grande frente de oposição à ditadura militar. O jornalista cassado em 1969, logo após ser reeleito deputado estadual, dessa vez pelo PMDB. A cassação não o desmotivou. Continuou atuando nos bastidores da luta pela democracia, que resultou na eleição do filho para o governo do Estado.
A irreverência, inteligência e principalmente a generosidade foram as marcas de Laércio Barbalho na passagem pela política e pelo jornalismo, durante mais metade de sua vida. O afastamento da política o levou direto ao jornalismo, assegurando o espaço de mais uma fonte de informação no Pará. Em maio de 2004 Laércio falece e entra para a história da Imprensa paraense e nacional.
A continuidade desse trabalho se deu através do executivo Jader Barbalho Filho, que chegou ao DIÁRIO com apenas 21 anos de idade, em 1998. Com o passar dos anos, o DIÁRIO se consolidou como uma grande marca do jornalismo paraense, no impresso inicialmente e, agora, na internet e nas redes sociais, com o site próprio e a integração ao grupo RBA. Jader Filho chegou a presidente do grupo RBA, cargo que deixou em janeiro deste ano para assumir o Ministério das Cidades do governo Lula.