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Após início promissor, base do Remo ficou “de escanteio” por mais uma temporada

Tylon Maués

Há pouco mais de uma semana o Remo emprestou cinco jogadores para o Santa Rosa, clube que vai disputar a Segundinha do Campeonato Paraense. O goleiro Ruan, o lateral-direito Luisinho, o meia Renan Tiago e o atacante Ricardinho vão defender o Pantera da Vila pelos próximos três meses. Todos com contratos vigentes com o Leão Azul, devendo retornar ao Baenão após o fim do torneio estadual, previsto para terminar no dia 29 de outubro. Nenhum deles conseguiu maior destaque treinando no elenco de cima, assim como quase nenhum outro garoto da base. A ideia da diretoria azulina é fazer com que esses atletas emprestados ganhem minutagem de jogo e possam retornar mais amadurecidos.

Esses jogadores já estouraram a idade do sub-20 e, em teoria, deveriam estar no profissional e, se possível, com mais chances na equipe. Entre muitos torcedores, essa é uma reclamação constante. Entra técnico e sai técnico, o discurso de que a base será privilegiada é sempre repetido e nunca cumprido. Do atual elenco azulino, a única exceção vem sendo o atacante Ronald. Aos 20 anos, o jogador está desde os 16 no Baenão e só não teve mais chances por causa de lesões pontuais.

Quando perguntado sobre a prata da casa ser mais útil, Ronald é diplomático ao afirmar que, para ele, é uma questão de empenho para ter mais chances. “Oportunidade cada um vai ter e tem que estar preparado para quando ela aparecer. Tudo tem seu tempo”, diz o jogador.

Hoje, o elenco azulino conta, de jogadores vindos da base, além de Ronald, com o goleiro João Vítor, de 16 anos, com o zagueiro Jonilson, o volante Henrique e o também atacante Vinícius Kanu.

Curiosamente, um dos principais destaques da base azulina do ano passado para cá teve pouquíssimas chances na equipe de cima e voltou ao sub-20. O meia Guty, de 20 anos, brilhou na disputa da Copa São Paulo deste ano, marcando dois gols e sendo peça fundamental no Remo, que obteve sua melhor campanha do clube na história da Copinha, chegando à terceira fase. Mas, no grupo de cima, esse destaque inexistiu, assim como as chances foram poucas. Ele chegou a atuar em três partidas oficiais no Campeonato Paraense, no clássico contra a Tuna Luso, contra Tapajós e Castanhal. Nesta última foi a única em que foi titular, sendo substituído no segundo tempo.

Em abril, o clube azulino emprestou ao Santa Cruz-PE o volante Pingo, este com bem mais chances na equipe de cima. Mas, invariavelmente, assim como acontece com quase todos os jogadores locais, em especial os mais jovens, ele foi perdendo espaço aos poucos. Antes de ir para o clube pernambucano, ele também já havia sido emprestado para outros clubes locais.

Remo venceu a Copa Pará Sub-20, torneio criado para suprir lacunas no calendário da base – Foto: Ascom Remo

Entraves de um lado, evolução de outro

Boa parte das explicações dadas pelos treinadores que vêm a Belém sobre o pouco aproveitamento dos jogadores da base é que torna-se mais difícil pelo trabalho que é feito anteriormente com os garotos, sem uma rodagem para eles, com poucos jogos e um trabalho muito abaixo do que é feito no profissional. De fato, em quase 100% dos casos vemos esses treinadores dizendo que quem subiu precisa de mais tempo para ganhar massa muscular e se acostumar a um trabalho mais pesado como o do profissional.

Há quatro anos o Clube do Remo inaugurou o Núcleo Azulino de Saúde e Performance (NASP), nas dependências do Baenão. Esses equipamentos também estão à disposição do sub-20, assim como o espaço do Centro de Treinamento de Outeiro, mas este ainda passa por reformas para ser utilizado da forma apropriada.

Os poucos jogos ainda fazem parte do problema. Um time sub-20 no Remo, por exemplo, joga menos de um terço das partidas que clubes como Vitória-VB, Palmeiras-SP e Fluminense-RJ fazem por ano. Há tentativas, como a realização da Copa Pará Sub-20, conquistada pelo time azulino no último dia 24, ao vencer o Sporting Fonte Nova, de Maracanã, por 4 a 1. O Campeonato Paraense da categoria será disputado no segundo semestre. Ainda assim é pouco.

“O calendário melhorou no Pará, com mais competições da federação para dar mais lastro aos garotos. Cada vez mais há uma evolução nesse sentido. Os garotos têm jogado mais”, defende Marcelo Bentes, coordenador da base azulina, que defende as oportunidades que vêm sendo dadas aos garotos criados no clube. “O Remo tem dado oportunidade aos garotos, sim. Hoje temos muitos garotos da base com contratos profissionais e eles estão tendo chances”.

Bentes afirma que os bons resultados da base azulina no futebol paraense são reflexos do maior investimento do clube. “Há uma evolução quanto aos treinamentos. Com o CT tem melhorado bastante. A base usa toda a estrutura que o profissional tem, daí os bons resultados que estamos tendo”.