Gabriel Justo/Folhapress/São Paulo, SP
Das mercearias mais populares às adegas dos supermercados mais refinados, os vinhos “reservados” estão sempre presentes, com seus preços atraentes e uma experiência até bastante agradável para quem só quer uma tacinha para acompanhar o jantar. Não à toa, segundo a Nielsen, o Reservado da vinícola chilena Concha y Toro está entre os rótulos importados mais vendidos do país.
Mas não é só a Concha y Toro que tem vinhos reservados. Outras vinícolas chilenas populares no Brasil, como Santa Helena e Santa Carolina, e até mesmo vinícolas nacionais também tem o “reservado” em seu portfólio. Mas o que, afinal significa essa expressão? Vinho reservado é ruim? É bom?
O vinho reservado nada mais é do que um vinho jovem, que foi da produção direto para as garrafas, sem passar por nenhum processo de descanso ou envelhecimento em barricas de madeira, por exemplo. “Isso não significa que ele é ruim. Apenas que ele é menos complexo do que um vinho envelhecido”, explica Ricardo Morari, presidente da Associação Brasileira de Enologia.
Sem tempo de armazenagem, a produção desses vinhos fica mais barata, fazendo deles um produto “de entrada”, os mais em conta que as vinícolas conseguem fazer. Os chilenos e argentinos perceberam o Brasil como um importante mercado para esse tipo de vinho, mas faltava neles algum elemento distintivo de qualidade que fisgasse o brasileiro de vez. Foi então que eles criaram o termo “reservado”.
“Nossos vizinhos chilenos e argentinos passaram a chamar os vinhos jovens de ‘reservado’ para dar a eles um ar mais sofisticado, posicionando-os como uma categoria diferente e até superior”, explica Morari. “Mas essa classificação nem obrigatória é. Um produtor pode engarrafar um vinho fino sem classificá-lo de nenhuma forma. Mas a maior parte das vinícolas acabam usando essas classificações porque elas ajudam a vender mais.”
Após protestos de produtores brasileiros que se sentiram em desvantagem em relação aos chilenos e argentinos, em 2018 o Ministério da Agricultura brasileiro publicou uma instrução normativa que padronizou as nomenclaturas que podem ser utilizadas nos vinhos vendidos no país.
O vinho reservado é um vinho jovem pronto para consumo, com graduação alcoólica mínima de 10%. Já o vinho reserva é um vinho com graduação alcoólica mínima de 11%, envelhecido por pelo menos 12 meses (para tintos) ou 6 meses (para brancos e rosés) em qualquer tipo de recipiente. Enquanto que o vinho gran reserva tem graduação alcoólica mínima de 11%, e deve ser envelhecido por pelo menos 18 meses (para tintos) ou 12 meses (para brancos), necessariamente em recipientes de madeira.
Vale lembrar que essa classificação se aplica apenas aos vinhos finos e nobres, que são aqueles produzidos com uvas europeias – como a Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Chardonnay, etc. Os vinhos produzidos com outras uvas, como Cataúba ou Niágar, pertencem a outra categoria, a dos “vinhos de mesa”, que apesar de serem considerados inferiores, têm ganhado respeito e espaço no mercado.
Dos cinco melhores vinhos brasileiros reconhecidos no International Wine and Spirits Competition, uma das mais importantes competições do gênero no mundo, apenas dois passaram por envelhecimento e ganharam o selo “reserva” ou “gran reserva”. Todos os outros, incluindo o melhor deles, é um vinho jovem, da safra de 2022, e custa R$74.
Da próxima vez que for escolher um vinho, lembre-se: pode escolher o reservado sem medo. A única diferença é que, por não ser envelhecido, ele é menos elaborado e complexo que os vinhos mais nobres e caros.
NOMENCLATURAS
- Vinho reservado: vinho jovem pronto para consumo, com graduação alcoólica mínima de 10%
- Vinho reserva: vinho com graduação alcoólica mínima de 11%, envelhecido por pelo menos 12 meses (para tintos) ou 6 meses (para brancos e rosés) em qualquer tipo de recipiente.
- Vinho gran reserva: vinho com graduação alcoólica mínima de 11%, envelhecido por pelo menos 18 meses (para tintos) ou 12 meses (para brancos), necessariamente em recipientes de madeira.