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Mick Jagger completa 80 anos ainda cheio de energia

Mick Jagger completa 80 anos ainda cheio de energia Mick Jagger completa 80 anos ainda cheio de energia Mick Jagger completa 80 anos ainda cheio de energia Mick Jagger completa 80 anos ainda cheio de energia
O lendário vocalista dos Rolling Stones tem trajetória invejável no rock FOTO: REPRODUÇÃO
O lendário vocalista dos Rolling Stones tem trajetória invejável no rock FOTO: REPRODUÇÃO

Silvio Essinger/Agência O Globo/RJ

Não foi o inglês Mick Jagger quem inventou a figura do homem branco que canta e dança como se um negro fosse – o cinema recente ensinou que, na verdade, foi o americano Elvis Presley, uns poucos anos antes. Como muitos ingleses, porém, Jagger aperfeiçoou a descoberta alheia em alguns pontos, tornando-a um sucesso duradouro. O rock’n’roll tal qual se conhece deve muito a esse homem, que chega nesta quarta-feira aos 80 anos de idade ainda em plena atividade e, a despeito de tudo, como uma das mais bem-acabadas encarnações não somente do estilo musical como de sua filosofia.

“O tempo não espera por ninguém – exceto Mick Jagger!”, brincam os artigos sobre o cantor à beira da octogenareidade. Ele despontou para o estrelato numa época em que seus colegas do Who cantavam “espero morrer antes de ficar velho” (“My generation”) e o lema (atribuído ao ator James Dean, de “Juventude transviada”) era “viva rápido, morra cedo e deixe um cadáver bonito”. O rock era, então, a promessa (póstuma) da eterna juventude, inacessível aos que apresentam os primeiros sinais do declínio físico. Jagger chegou para mudar essa escrita.

Aos 20 e poucos anos, perguntava-se ao moço como seria quando tivesse 30. Aos 30, como seria se tivesse 40. E aí por diante. Seu primeiro desafio foi manter-se vivo, num ambiente dos mais perigosos, que ceifou as vidas do stone Brian Jones, de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Keith Moon, John Lennon e tantos outros. Por essa, Mick Jagger passou fácil – a sua cota de sexo (imensa), drogas (razoável) e rock’n’roll (ideal) foi cumprida sem prejuízos significativos ao corpo e tampouco à reputação.

Mick Jagger sobreviveu aos 20 e aos 30 anos, diferente do que vinha ocorrendo com grandes estrelas do rock FOTO: REPRODUÇÃO

O desafio seguinte foi o de se manter relevante ao longo dos anos. Para além de Elvis, Jagger cunhou uma figura de irresistível apelo: magra no limite do impossível, com muita pele à mostra, aditivada por calculadas doses de degradação, masculinidade, mistério, deboche e fleuma britânica. Ocupando freneticamente todos os espaços do palco, ele serviu de modelo para sucessivas gerações de astros de rock, de David Bowie e Iggy Pop a Steven Tyler (Aerosmith) e, se formos pensar bem, até mesmo Harry Styles.

Sem dúvida, a longevidade artística do cantor se deve à reconhecida habilidade de Sir Michael Philip Jagger em gerenciar a sua própria marca. Incursões no cinema e uma carreira solo se provaram fiascos ou, no máximo, distrações. Mick Jagger é, para todos os efeitos, o cantor dos Rolling Stones, a grande máquina do rock que sobreviveu ao progressivo, ao punk, ao synthpop, ao rap, ao grunge e às boy bands como uma espécie de reserva (i)moral do estilo. A banda que jamais abandonou os palcos, mesmo quando lançava discos ruins (ou até quando não lançava qualquer disco).

Ao entendimento dessa verdade, porém, o astro não chegou sozinho: foi preciso que a intervenção quase sempre turbulenta da sua nêmesis, sua cara-metade nos Stones, o guitarrista Keith Richards, para que ele fosse reconduzido à trajetória com a banda. Depois de míticos anos 1960 e problemáticos 1970, os Stones entraram pelos 1980 como uma espécie de lenda viva que adaptou sua experiência de rock puro para os estádios, atingindo plateias (e cifras) cada vez maiores. A Richards, coube manter a integridade do grupo, descabelado e com o cigarrinho no canto da boca. A Jagger, fazer o que sempre fez – a despeito da idade.

Para a lenda do rock britânico, idade nunca foi razão para deixar de fazer o que gosta FOTO: GETTY IMAGES

Em 2013, num texto para o jornal “O Globo” sobre os 70 anos do cantor, Tony Bellotto, guitarrista dos Titãs, aventou a hipótese de que o inglês fosse uma espécie de Dorian Gray dos nossos tempos – em alguma de suas mansões existiria um retrato cujas feições envelhecem enquanto o homem seguia “exalando jovialidade e testosterona adolescente”. Aos 80, é inútil “esconder” as rugas. Mas graças ao DNA (seu pai viveu até os 93 anos), a dietas e a exercícios, e aos avanços da medicina (acessíveis a quem, como ele, tem toda uma fortuna), Jagger consegue, mesmo depois de ter operado o coração em 2019, cantar e dançar sem perder o fôlego e tocar o circo dos Stones.

Com Keith Richards (que completa 80 anos em 18 de dezembro e certamente irá sobreviver à Humanidade e às baratas), ele prepara o lançamento de um álbum de inéditas do grupo (o primeiro desde “A bigger bang”, de 2005), com as participações do beatle Paul McCartney e do ex-baixista dos Stones, Bill Wyman, de 86 anos. Um disco que deve levá-los aos palcos, onde, desde 1980, já arrecadaram a cifra de US$ 2,1 bilhões.
Mas, por enquanto, o certo é a festa de aniversário, para a qual o cantor alugou o Chelsea Physic Garden, um jardim botânico em Londres, onde recebe à noite seus mais de 300 convidados, entre os quais a noiva Melanie Hamrick (coreógrafa, de 36 anos), Keith Richards, Ronnie Wood (o outro guitarrista sobrevivente dos Stones) e Bill Wyman. Dizem por aí que não tem hora para acabar.