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Artistas paraenses lamentam morte de João Donato

João Donato fez parceria em música com Dona Onete FOTO: REPRODUÇÃO INSTAGRAM
João Donato fez parceria em música com Dona Onete FOTO: REPRODUÇÃO INSTAGRAM

TEXTO: Wal Sarges

Morreu, na madrugada desta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, o pianista, compositor e arranjador João Donato, aos 88 anos. O músico morreu em decorrência de uma série de problemas de saúde. Na última semana, ele havia sido internado, num hospital no Rio de Janeiro, devido a uma infecção nos pulmões. A notícia foi confirmada pela família de Donato.
“Hoje o céu dos compositores amanheceu mais feliz: João Donato foi para lá tocar suas lindas melodias”, anunciaram as redes sociais dele. “Agora, sua alegria e seus acordes permanecem eternos por todo o universo.”

O acriano impressionou o mundo com seu talento, simplicidade e generosidade, em uma trajetória que somou 74 anos dedicados à música. O corpo do artista será velado nesta terça-feira, 18, no Theatro Municipal do Rio, e depois cremado no Memorial do Carmo.

Nascido em 1934, João Donato é considerado um precursor da Bossa Nova pelos próprios bossanovistas. Ele trabalhou com artistas como Astrud Gilberto, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Eumir Deodato, Stan Kenton, Nelson Riddle, Herbie Mann e Wes Montgomery. O letrista mais constante foi seu irmão, Lysias Enio. Entre as composições mais conhecidas, estão “A paz”, com Gilberto Gil, “A rã”, com Caetano Veloso, e “Simples carinho”, com Abel Silva.

Há duas semanas, ele publicou uma foto no Instagram com o filho Donatinho, mostrando que estava feliz de ter saído do hospital e de celebrar a vida ao lado de seus familiares. “Depois de 26 dias de molho no hospital, minha maior alegria é compartilhar com meu filho Donatinho, um dos meus pratos favoritos (feito com todo amor por ele): ‘spagabola’, mais conhecido como spaghetti à bolonhesa. Viva a vida!”, escreveu o artista em seu Instagram.

Pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor, João Donato deixa um legado sem tamanho para a cultura. Em Belém, lugar onde ele formou importantes parcerias, como a do compositor Paulo André Barata, Donato se apresentou em 2022 no Festival Sonido, dedicado à música instrumental e experimental.

 “ficamos muito honrados em ter um dos maiores nomes da música instrumental do mundo no nosso palco.”

“Acho que a história e a importância de João Donato já estavam registradas há muitos anos na música brasileira. Dos 88 anos, 74 era só de sua carreira musical, em que ele nunca parou de trabalhar. Estamos falando de alguém que iniciou sua carreira nos anos 1950. Como realizador do Festival Sonido, onde ele tocou pela última vez em Belém, posso dizer que nós ficamos muito honrados em ter um dos maiores nomes da música instrumental do mundo no nosso palco.  Sobretudo por tratar-se de um artista amazônida, nascido em Rio Branco, no Acre”, afirmou o produtor cultural Marcelo Damaso.

PAULO ANDRÉ BARATA TRABALHAVA EM LETRA PARA DONATO

Em um ritmo descompassado, com a voz rouca, o compositor paraense Paulo André Barata, coautor com Donato de outro grande sucesso, “Nasci para Bailar”, disse que agora se sente ainda mais só sem o parceiro e amigo. O mais recente encontro entre os dois no palco ocorreu em novembro de 2018, no Theatro da Paz, no show de lançamento do disco “Paulo André Barata”, gravado naquele ano.

“Ele vai fazer muita falta. Era um cara alegre, um excelente músico, maestro, era meu parceiro e eu o amava muito. Sua generosidade, seu bom humor, ele era um cara ímpar. Fizemos uma canção, ‘Nasci para Bailar’, e íamos fazer outras. Ele esteve aqui em Belém há três meses e pediu para eu fazer uma letra para ele. Ele não tinha nada para ele, era bom, além de um pianista fantástico e um ilustre compositor. Eu já chorei, me sinto muito só. Donato vai me deixar só também, perder um amigão assim como ele vai ser muito difícil”, disse, emocionado.

“Eu já chorei, me sinto muito só. Donato vai me deixar só também, perder um amigão assim como ele vai ser muito difícil”

Dona Onete, que também fez música com Donato, lamentou a perda em suas redes sociais. “Essa caboquinha do Pará teve a oportunidade de colocar letra numa música dele, gente, vocês não fazem ideia de como me senti muito honrada de ter dividido esse momento com ele! Eu também tive a oportunidade de conhecer a pessoa incrível e generosa que ele foi”, disse a cantora. “Que nosso senhor o receba, que a força da nossa floresta, que ele tanto falava, dê a ele um descanso sereno”, completou.

João Donato também fez parceria com outros paraenses, Felipe Cordeiro e Jorge Andrade, em “Eu gosto de você”, no último álbum que lançou, “Serotonina” (2022), com obras inéditas e novos parceiros como Céu, Anastácia, Ronaldo Evangelista e Rodrigo Amarante. “Um gênio da síntese, do simples, do fundamental. Acreano do mundo e propagador de uma alegria única. Ouvir Donato é passar a ver tudo mais leve, bonito e ritmado. A paz invadindo o coração…”, escreveu Felipe em seu Instagram.