Cintia Magno
De uma maneira geral, os transtornos alimentares são caracterizados pela presença de descompassos ou comportamentos que interferem na alimentação, na prática alimentar dos indivíduos. Tais interferências no comportamento alimentar podem advir de alguma condição emocional que o indivíduo está passando ou até mesmo do próprio metabolismo que começa a recusar alguns tipos de alimento. Em ambos os casos, o quadro demanda atenção e acompanhamento especializado.
A nutricionista, gastrônoma, especialista em clínica e mestre em epidemiologia, Danielle Carneiro Farias (@farias.dani.nutrichef), explica que existem transtornos que já são categorizados na alimentação e nutrição como, por exemplo, a anorexia, a bulimia e a compulsão alimentar.
“A anorexia é quando a pessoa não quer comer com medo de engordar, são pessoas que recusam qualquer tipo de alimentos e ficam o tempo todo presas à contagem das calorias dos alimentos e não querem comer nada. Na bulimia, que normalmente é associada com a compulsão alimentar, a pessoa come muito e, normalmente, muito rápido, só que logo depois fica se sentindo culpada e provoca o vômito, tentando eliminar tudo que ingeriu. A compulsão alimentar já é aquela pessoa que come descontroladamente, que quer comer o tempo inteiro”, explica.
VIGOREXIA
“Todos esses casos são muito graves e nós temos outros subitens também como, por exemplo, a vigorexia que é aquela pessoa que é obsessiva por atividade física. Então, além dos transtornos alimentares, também existem processos alimentares que vão dificultar a alimentação, como, por exemplo, a seletividade alimentar, a intolerância a alguns alimentos, a alergia a alguns alimentos que também podem interferir na alimentação”.
Comportamentos acendem alerta
Como os transtornos alimentares são mistos e de várias naturezas – o que se come muito, o que não quer comer nada, o que come compulsivamente, o que come, mas logo em seguida põe para fora tudo que comeu – a nutricionista Danielle Carneiro Farias aponta que existem vários sinais e sintomas das doenças. Porém, de uma maneira geral, existem alguns comportamentos que podem acender um alerta para um possível desenvolvimento de algum transtorno alimentar.
“O que que a gente pode falar, de uma forma geral, é que quando a criança, o adolescente, ou mesmo o adulto evita comer em público, evita comer com as pessoas, não utiliza a alimentação como uma forma de interação social, é algo que você pode desconfiar”, orienta. “Também quando a pessoa tem algum sinal como aquela situação em que acabou de comer e vai se trancar no banheiro ou no quarto. São os primeiros sinais que a gente pode desconfiar de alguma dificuldade para se alimentar”.
A necessidade de se manter alerta a comportamentos que podem levar à desconfiança de ocorrência de algum transtorno alimentar é fundamental porque essas doenças podem resultar em riscos à saúde do indivíduo e, portanto, precisam ser tratadas.
Danielle Farias aponta que os efeitos à saúde vão além da falta de energia proporcionada pela baixa ingestão calórica. “Quando você deixa de ingerir alimentos de forma balanceada, com diversidade alimentar, diversidade de cores, diversidade de nutrientes, o seu metabolismo deixa de ter não somente a energia, mas também micronutrientes, como vitaminas e sais minerais que vão participar ativamente das nossas gerações químicas metabólicas, então, quando há carência de algum desses nutrientes, pode faltar para o nosso metabolismo como um todo, assim como levar ao desenvolvimento de outras doenças por carência nutricional ou por excesso alimentar”.
Problemas na alimentação – Acompanhamento corrige transtornos
O tratamento dos transtornos alimentares irá buscar, justamente, o equilíbrio da ingestão de nutrientes necessários para a manutenção da saúde do indivíduo. O ideal é que crianças, adolescentes, jovens e adultos mantenham uma rotina alimentar adequada de acordo com os horários, as quantidades e a qualidade do que é escolhido.
“As escolhas alimentares são muito importantes, saber como adaptar a palatabilidade e preferência de cada pessoa, a que prefere [o alimento] mais mole, mais durinho ou crocante. De maneira geral, então, a nutrição vai trabalhar junto com o psicólogo nesse controle dos transtornos alimentares. Se o paciente for criança, o trabalho pode ser em conjunto com o pediatra também. Se for adulto, com o clínico geral, ou com psiquiatra”, explica a nutricionista Danielle Carneiro Farias.
“Especificamente dentro da nutrição, primeiro a gente precisa avaliar a pessoa que apresenta algum sinal de transtorno alimentar para entender se ela aceita alimentação, para entender qual é o problema que a pessoa tem ao se alimentar. A partir daí, trabalha-se com estratégias nutricionais para tentar controlar ou incentivar essa pessoa a comer, ou a entender sobre os nutrientes, a necessidade deles, então, no atendimento nutricional com transtorno alimentar, não é a nutrição tradicional”.
Nos casos em que há a ocorrência de algum transtorno alimentar, Danielle Farias aponta que é preciso trabalhar a necessidade desse paciente, considerando a dificuldade que ele apresenta, sempre trabalhando a individualidade. “Quando há seletividade alimentar, eu consigo apresentar alimentos e formas de apresentação desses alimentos para que essa criança possa desenvolver. Mas se a criança tem recusa alimentar ou transtorno, a gente precisa atender de forma individual realmente para entender a necessidade de até onde a gente pode ir”, aponta.
“Normalmente, nos casos em que há transtorno alimentar, não existe a prescrição dietética tradicional, acompanhamento de dobras e peso, por exemplo”, considera. “A nutrição vem para orientar sobre essas necessidades de nutrientes, mas no paciente com transtorno alimentar, visto que é um transtorno emocional, psicológico, primeiro a gente precisa ganhar confiança, entender a necessidade e a dificuldade para poder traçar as medidas”.
FIQUE POR DENTRO – TRANSTORNOS ALIMENTARES
Os transtornos alimentares são condições psiquiátricas caracterizadas por alterações persistentes nas refeições ou em comportamentos relacionados aos hábitos alimentares. Quando há alteração no consumo ou na absorção de alimentos, isso afeta a saúde física e mental do indivíduo.
EM NÚMEROS
70 milhões de pessoas no mundo são afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia, compulsão alimentar e outros. A estimativa é apontada pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
INCIDÊNCIA
A anorexia nervosa e a bulimia apresentam grande incidência entre os jovens. As mulheres são as mais acometidas por esses distúrbios, sendo a anorexia a de maior incidência no público de 12 a 17 anos e a bulimia se mostrando mais presente no início da vida adulta.
SINAIS E SINTOMAS
Geralmente, os responsáveis e as pessoas mais próximas são os que detectam os primeiros sinais de alerta. Nesse sentido, alguns sintomas merecem atenção.
– Anorexia
Realização de dietas que se tornam cada vez mais restritivas com o passar do tempo, observação constante das embalagens de produtos e contagem de valor calórico, isolamento para não se alimentar junto da família, comportamento de se pesar e medir o corpo com frequência.
– Bulimia
Episódios de compulsão alimentar onde a pessoa passa a comer muito rápido e em grande quantidade, e se direciona ao banheiro logo após a ingestão desses alimentos para provocar vômito ou quando, após grande ingestão de comida, o indivíduo decide fazer um longo período de jejum, além da compra de grandes quantidades de laxantes e diuréticos sem prescrição médica.
Fonte: Ministério da Saúde.