Pará

Pai doa rim para filha que não conhecia no interior do Pará

Não esperava que ao conhecer o meu pai biológico receberia um rim de presente
Não esperava que ao conhecer o meu pai biológico receberia um rim de presente

“Não esperava que ao conhecer o meu pai biológico receberia um rim de presente. Eu achei que ia perder toda a minha juventude presa a uma máquina de hemodiálise”, afirma Acalita Maria Dias, de 18 anos, moradora da cidade Rurópolis, oeste do Pará.

Ela ganhou um rim novo do pai biológico em um transplante realizado em junho deste ano no Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), localizado em Santarém. No dia 13 de julho, médicos e os pacientes comemoram 1 mês desde o procedimento; o transplante é considerado um sucesso até o momento.

Pai e filha se conheceram pessoalmente em maio de 2022, quando Daniel Vieira, 41 anos, saiu de Boa Vista, Roraima, e veio à Santarém para fazer o exame de DNA, registro de paternidade e o teste de compatibilidade dos rins. Os dois receberam a notícia positiva para o transplante poucos dias depois do primeiro encontro, motivo que os conectou ainda mais.

Todo processo de preparação até a data do transplante durou cerca de um ano, período em que houve acompanhamento efetivo da equipe multiprofissional do serviço de transplante renal do HRBA.

No dia 13 de julho, médicos e os pacientes comemoram 1 mês desde o procedimento

“A gente não se conhecia e alguns dias antes de eu completar 17 anos tive a iniciativa de mandar uma mensagem para ele, falei que eu era filha dele. Ele logo me respondeu, conforme fomos conversando eu contei sobre a minha condição clínica, sobre a doença. Então, o meu pai pronunciou-se, perguntou como poderia fazer para ser meu doador. Eu fiquei em estado de alegria e choque”, contou Acalita.

Daniel Vieira relata também que quando soube do diagnóstico renal da filha ficou assustado e que o primeiro pensamento foi em ajudá-la. “Quando ela fez contato comigo eu fiquei feliz e depois triste por saber da situação. É muito ruim saber que um filho nosso tem uma doença crônica. Eu não pensei duas vezes e vim para Santarém. A equipe do Hospital fez tudo acontecer de forma satisfatória e acolhedora”, relembra ele.

Transplante – De acordo com responsável técnico pelo serviço de transplante renal do HRBA, o nefrologista Emanuel Espósito, o transplante renal é uma alternativa de tratamento para a substituição da função renal indicado para pacientes que sofrem de doença renal crônica em estágio avançado, ou seja, quando ocorre a perda gradual e irreversível das funções dos rins. Ele explica que o procedimento cirúrgico total dura em média cerca de 8 horas.

“Cada transplante é muito marcante para toda equipe, porque sabemos que o paciente antes disso está passando por hemodiálise, que não é fácil, toda a rotina muda, muitos deles precisam sair da casa onde moram para estar perto do Hospital. O transplante leva esse paciente de volta para sociedade”, destaca o médico.

Sobre a Acalita, o médico fez questão de dizer que ficou ainda mais comovido por ser um encontro entre pai e filha. Ele enfatiza que a paciente teve uma doença renal crônica secundária, uma glomerulopatia, que é uma doença que nasceu no rim. Esse diagnóstico faz o rim perder proteína e com o tempo tira as funções do órgão.

“Ela foi presenteada duas vezes com o pai e com a doação do rim e tudo foi perfeitamente compatível. Nós fizemos uma série de avaliações com diversos especialistas, entre eles, cardiologista, reumatologista, urologista, nutricionista, psicólogo. O procedimento foi um sucesso, com resultado imediato, o rim já produziu urina logo em seguida e isso nos mostra que tem grandes chances de ter um bom funcionamento”, avaliou.

1 mês de transplante

Após a realização do transplante de rim, os dois ficaram cerca de 10 dias internados na clínica cirúrgica do hospital, onde houve o acompanhamento dos profissionais da saúde. Em geral, o tempo de recuperação demora cerca de 3 meses, contudo é fundamental seguir os cuidados orientados pelo médico nefrologista e estabelecer uma alimentação balanceada conforme recomendado pelo nutricionista.

O nefrologista Henrique Rebelo, nefrologista do HRBA, foi quem realizou a consulta de um mês de cirurgia de Acalita. O especialista fez questão de destacar a evolução da paciente e reforçar o sucesso do transplante.

“Ela está muito bem, exames dentro do que esperamos, a evolução dela é excelente. Hoje, ela está com a função renal normal e vamos começar a modular a imunossupressão, retirando algumas medicações. Já é possível começar uma atividade física leve, como caminhada, para retornar às atividades normais que a jovem fazia antes da diálise”.