Nildo Lima
Para tentar acabar com a crise que vem abalando a defesa do time, mais especificamente a posição de goleiro, o Paysandu decidiu “repatriar” o preparador de jogadores da posição, Silvano Austrália, que ocupa, desde a semana passada, o posto que era de Rodrigo Barroca. A mudança se deu em razão das últimas atuações dos arqueiros Gabriel Bernard e Thiago Coelho, que cometeram falhas fatais, como as dos jogos contra o Botafogo-PB e Brusque-SC, respectivamente, pela Série C do Brasileiro. Os jogadores foram apontados, principalmente Bernard, como principais responsáveis pelas derrotas do Papão nas partidas.
Austrália teve a sua primeira passagem pela Curuzu nos anos de 2019 e 2020, quando compôs a comissão técnica comandada pelo treinador Hélio dos Anjos, que também está de volta à Curuzu, já tendo dirigido o Papão em dois jogos – Brusque e Amazonas-AM. O novo preparador estava trabalhando no Botafogo-PB antes de acertar sua volta ao antigo clube. Ele divide com o preparador permanente do clube, Ronaldo Willis, a responsabilidade pela preparação dos goleiros bicolores, tendo, no entanto, a palavra final sobre a indicação a Dos Anjos deste ou daquele goleiro para as partidas do time.
Neste bate-papo com a reportagem do DIÁRIO, Austrália abordou, entre outros assuntos, a contratação de Matheus Nogueira, o seu método de trabalho e de que maneira é escolhido o goleiro para os jogos do time.
A torcida anda na bronca com os goleiros do Paysandu há um tempo. Qual a sua avaliação sobre o preparo dos jogadores dessa posição atualmente?
Em cinco dias é difícil se fazer uma avaliação e dizer como eles estão. Não é só a parte técnica. Para se avaliar um jogador profissional, um atleta de alto rendimento, você precisa ter vários parâmetros. Você precisa ver ele nos aspectos, sejam eles táticos, físicos, mental, principalmente. O que a gente avaliou depois de ter chegado é que fisicamente eles estão muito bem. Tecnicamente são goleiros formados, jogadores que a gente queria ter com a gente e até tentamos levar para outros lugares onde trabalhamos. Agora, futebol é esporte coletivo. Quando se vai mal no coletivo, como o Paysandu está na tabela, com certeza algumas das posições são mais acionadas. Entre elas a do goleiro.
Já foi identificado algum problema-chave na preparação dos goleiros que deva ser reforçado nos treinamentos?
Uma coisa que nós temos de ficar muito atentos na preparação de um atleta de alto rendimento é não confundir o resultado (dos jogos) com a falta de preparo, principalmente quando se trata de goleiro. A questão coletiva, volto a falar, faz muita diferença. Agora, a gente tem um lema entre os goleiros e os preparadores de goleiros que o esporte se torna quase individual quando há uma falha. Então o goleiro vive nessa gangorra de que, quando está tudo bem, ele está num esporte coletivo, e quando está tudo mal, ele está num esporte individual. A cobrança sobre ele é muito grande. Costumo falar que um erro do goleiro em uma partida não significa que ele não treinou aquela situação. Apenas que no futebol você não controla. Existe imprevisibilidade no futebol que você não consegue se antecipar a ela. No momento em que ela acontece muitas vezes vem a falha e a falha não determina que você não tenha feito um bom trabalho durante a semana.
Explique um pouco sobre a sua metodologia de trabalho. Em que difere da que estava sendo realizada pelo clube até então?
Da minha metodologia de trabalho posso falar que sou um treinador de goleiro que busca trabalhar muito a parte física, muita força e potência dos jogadores. Na parte técnica, sou criado onde o foco maior é buscar a técnica do goleiro. Dentro das mudanças que estão acontecendo no futebol dentro dos últimos anos, a gente tem de focar também na parte tática e, com certeza, na parte mental. Essa é a metodologia do Austrália. Agora, falar da metodologia que vinha sendo aplicada por parte de uma pessoa que você não acompanhou no dia a dia é praticamente impossível, além de ser antiético de minha parte.
Há algum goleiro na base do clube que esteja em condições de brigar pela camisa 1 ou a hora é dos mais experientes, mesmo com essas deficiências apresentadas?
Falar em base é muito interessante porque em 2019 fui ver a um jogo do Paysandu sub-20 em Castanhal, se não me engano, e vi um garoto jogando lá e pedi ao supervisor da base, o Carlos, que está no Cruzeiro-MG, que ele buscasse esse menino para o Paysandu para ele poder integrar e ajudar no profissional fazendo parte da base. Quando eu volto para o clube, neste momento, quem está lá e com bastante evolução é o garoto Cláudio Vitor. O futebol é imprevisível. A gente não pode falar do amanhã, mas hoje tendo ele como garoto da base, é muito precoce a gente jogar a responsabilidade dessas, como é vestir essa camisa na situação em que o time está.
O Paysandu contratou o Matheus Nogueira, você conhece?
O Matheus é um goleiro que a gente acompanha desde a época do Cuiabá-MT. Tenho vários amigos preparadores de goleiros que conhecem muito bem ele e me deram referência do dia a dia, porque jogando eu já o conheço desde a época de Cuiabá, ABC-RN. Então para nós que somos do meio, é um goleiro que vem se destacando quando tem a oportunidade de jogar. Foi assim, inclusive, na reta final (da Série C do Brasileiro) pelo ABC. É um goleiro que a gente conhece, sim, já há algum tempo.
Em um momento difícil como o que ocorreu com o Gabriel Bernard é melhor dar um tempo ao atleta, como foi feito?
Olha, é difícil você bater o martelo, você falar ‘tem de fazer isso’. Como disse, a imprevisibilidade no futebol não te permite falar, ‘tem de fazer A tem de fazer B’. Na grande maioria das vezes em que isso aconteceu com um garoto da idade dele (22 anos), ao se tirar ele do foco, dar um tempo, foi a melhor solução. Então, cada atleta reage de um jeito e a comissão também do seu jeito. Não temo como a gente prever que isso aqui vai dar certo. Tem a nossa experiência, o tempo de futebol. Eu como treinador de goleiros há 23 anos, na grande maioria em que isso aconteceu, quando fizemos o que foi feito pelo Paysandu, pude contribuir para o atleta evoluir na carreira mais ainda.
Qual o peso do preparador na escolha de quem vai jogar, é de 100% a decisão ou é dividida com o treinador?
Isso depende de treinador para treinador. O professor Hélio nos dá a liberdade, nos ouve quando a gente vai conversar a respeito dos goleiros, mas isso é dividido. Ele gosta de participar, ele gosta de ver o dia a dia. Se fosse só uma escolha técnica, acho que deveria ser só do treinador de goleiros. Mas como a evolução no futebol tem colocado o goleiro muito dentro da parte tática, acho que isso tem de ser dividido entre o técnico e o treinador de goleiros. Sou 100% responsável pela preparação técnica do goleiro, mas divido com o treinador, que busca o melhor goleiro na parte tática. Hoje não tem mais a escolha 100% por parte do treinador de goleiros. O que temos hoje é uma comissão técnica que conversa entre si na hora de escalar o jogador.
O fato de os jogadores sofrerem pressão da torcida pela campanha do time afeta mais os goleiros ou é tudo igual?
A pressão de um modo geral afeta a todos. Mas, com certeza, quanto mais próximo do gol você está, a pressão de um mau resultado afeta mais. O volante tem um peso, o zagueiro outro peso e o goleiro um peso muito maior. Você pode perder um jogo por 3 a 2, no qual o atacante fez dois gols, só que o goleiro levou três. Então esse jogador de linha que fez os gols terá uma cobrança bem menor que o goleiro.
Como se deu esta sua volta à Curuzu?
Tive outras oportunidades de voltar, mas não aconteceu. Foi tudo muito rápido. Fomos jogar pela minha equipe anterior, o Botafogo, da Paraíba, em São Paulo, no sábado, o professor tinha sido contratado. Conversamos no sábado à noite, acertamos, cheguei domingo ao meio-dia em João Pessoa e às 17h estava embarcando para Belém. É um lugar que eu conheço e a diretoria do Paysandu é praticamente a mesma com a qual eu trabalhei da vez passada, tem uma comissão que foi campeã aqui. O futebol é muito dinâmico.