Cintia Magno
Carregando consigo as riquezas características de cada região, a produção artística paraense é responsável por movimentar não apenas a cultura, mas também a economia criativa local. Sabendo desse potencial, o projeto Movimenta Pará, patrocinado pelo Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, percorre seis cidades paraenses levando oficinas gratuitas de capacitação voltadas para quem tem interesse em transformar uma ideia em um projeto cultural, além de diversas atividades culturais e apresentações artísticas.
O primeiro ciclo de oficinas previsto pelo projeto já ocorreu, capacitando 176 pessoas, e outros ainda serão realizados ao longo deste ano.
Em sua primeira edição, o Movimenta Pará busca fortalecer quem ajuda a movimentar a economia criativa do Estado. Coordenador geral do projeto, Gilberto Scarpa aponta que o foco é a capacitação de artistas e agentes culturais para que eles possam seguir cada vez mais longe em suas carreiras.
“O Movimenta Pará, patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, é voltado para capacitar quem faz cultura no estado”, reforça. “O projeto tem o objetivo de atuar no amplo escopo da cadeia criativa, contemplando não só artistas, mas também produtores, gestores, técnicos de diversas linguagens, advogados, profissionais do setor administrativo, e demais interessados na profissionalização e promoção de suas carreiras”.
Para que isso seja possível, o projeto caminha rumo ao interior do Estado, numa descentralização das ações previstas, alcançando artistas e fazedores de cultura de diferentes cidades.
“A iniciativa nasceu a partir de outra ação promovida no Estado, o Movimenta Pebas, que teve duas edições realizadas no município de Parauapebas: em 2020 e 2022. Agora, o Movimenta Pará amplia sua atuação e oferece oficinas de capacitação gratuitas em três temas: Elaboração e Gestão de Projetos Culturais; Marketing Digital; e Direção de Arte”, explica Gilberto Scarpa.
Além das atividades de formação, o projeto vai oferecer também diversas atividades culturais e apresentações artísticas. O primeiro destes eventos ocorreu no último dia 3 de junho, na Praça do Carmo, em Belém.
A primeira oficina prevista pelo projeto, de Elaboração e Gestão de Projetos Culturais, foi realizada nos meses de maio e junho deste ano, passando por seis cidades paraenses: Ourilândia do Norte, Canaã dos Carajás, Parauapebas, Serra Pelada (distrito de Curionópolis), Marabá e Belém. Por onde passou, a capacitação chamou a atenção do público-alvo, recebendo uma grande procura. “Um sinal de que o Pará tem muito potencial e muita demanda por projetos como o Movimenta Pará”, pontua Scarpa.
A coordenadora pedagógica do Movimenta Pará, Lena Cunha, conta que a recepção tem sido tão boa que, durante o primeiro ciclo de oficinas, foi necessário abrir duas turmas extras, uma em Parauapebas e outra em Belém, para atender à demanda. Ao todo, o projeto recebeu 550 inscrições nas seis cidades e, ao final das oficinas, 176 alunos foram formados.
“Através dos depoimentos das professoras e nos relatórios vimos muito entusiasmo dos alunos em relação ao processo de aprendizagem, falam da importância de se relacionar com pessoas de outras áreas da cultura, dessa troca”, lembra Lena. “Durante as oficinas tivemos muitas pessoas com projetos muito interessantes, o que faz enxergar um grande potencial que a área apresenta no Estado”.
Durante as oficinas, os participantes têm acesso a aulas presenciais e tutoriais online, envolvendo atividades teóricas e práticas em cada uma dessas temáticas apresentadas. Nesse sentido, todas as atividades são voltadas à ideia mais importante, que é o participante aprimorar as suas habilidades na área.
“A ideia é que eles possam, a partir do contato com esse conteúdo, desenvolver suas carreiras e viabilizar negócios. Uma coisa que a gente destaca, também, é a importância do contato entre as pessoas que estão fazendo as oficinas e essa possibilidade de troca entre elas. Todo o processo de formação mobiliza também uma troca de experiências muito importante, entre os alunos e entre eles e os professores”, considera a pedagoga.
As oficinas são para pessoas a partir de 18 anos, que residam na cidade onde as aulas presenciais acontecem e que têm interesse em se capacitar nos temas abordados pela oficina. Muitas vezes, não é preciso que a pessoa já tenha experiência prática com o tema abordado, mas basta que tenha algum contato com a área da cultura e, sobretudo, interesse em se capacitar nas temáticas propostas.
“Às vezes, a pessoa não tem experiência nenhuma, mas já tem algum tipo de contato com essa atividade e tem um desejo muito grande de atuar. Na oficina de Elaboração e Gestão de Projetos Culturais, às vezes a pessoa tem algum contato, tem algum movimento na área da cultura, mas ainda não teve uma experiência de elaboração de projeto mesmo. Então, esse curso pode exatamente provocar essa primeira experiência, ajudar a gerir e estruturar essa ideia para elaborar um projeto”, explica Lena Cunha.
Um novo horizonte de possibilidades
A importância de uma formação integrada no campo da cultura pode ser vivenciada na prática pela educadora, socióloga e fazedora de arte e cultura, Celma Campelo. Depois que ela teve a oportunidade de participar da oficina de Elaboração e Gestão de Projetos Culturais no município de Ourilândia do Norte, um novo horizonte de possibilidade se abriu à sua frente.
“Para mim, como fazedora de cultura e como uma agente cultural em crescimento, que está em busca de ocupar esses espaços e aproveitar essas oportunidades, foi bastante produtivo. Principalmente pelas orientações que foram apresentadas pelos professores acerca de quais caminhos são necessários para você elaborar um bom projeto e captar recursos. Esse é o centro da discussão que envolve as organizações culturais que precisam levantar um recurso financeiro para se manter, para promover o seu projeto”.
Celma conta que, a partir das informações técnicas e das experiências de vida passadas pelos ministrantes da oficina, ela pode enxergar os passos que ela precisa percorrer para alcançar o esperado apoio a projetos culturais que ela possa vir a desenvolver.
“Me ajudou bastante a enxergar os desafios que estão envolvidos quando a gente busca viver da cultura. Existem, sim, espaços onde você consegue o apoio e o incentivo financeiro que precisa, mas é necessário que a gente se capacite, que nós estudemos sobre o assunto, conheçamos o nosso projeto e saibamos elaborar uma boa estruturação para que o projeto consiga captar o recurso”, considera.
“Então, os professores nos deram um norte e nos mostraram que é possível a gente se organizar, principalmente num efeito de coletividade porque a cultura não se faz sozinho, ela tem que ser fortalecida em grupo e é importante que esse grupo se capacite, que a gente não fique só no campo das ideias, mas que a gente entenda que é necessário colocar essas ideias no papel, aperfeiçoar esse conhecimento e, se possível, ir em busca de apoio para aperfeiçoamento técnico do grupo”.
Tão importante quanto ter acesso a esse tipo de informação, Celma destaca a relevância de poder fazer essa formação no seu município de moradia, Ourilândia do Norte.
“Há uma carência muito grande desses tipos de capacitação. Aqui na nossa região a juventude é muito carente de espaços culturais, de promoção de eventos culturais e mesmo nós, que nos colocamos como agentes culturais, não temos muito acesso a esse tipo de oportunidade de aprender como construir movimentos culturais. Agimos muito pela nossa aptidão mesmo”, considera.
“Então, a gente se sentiu muito contemplado porque poucos ensinamentos desse padrão vêm para a nossa região e eu acredito que, tanto nós artistas, quanto outras pessoas que sabem a importância de fortalecer a arte e a cultura, acharam muito interessante que essa formação viesse até nós. Público tem, o que falta é oportunidade e uma oficina como essa que ocorreu já deixa uma sementinha”.