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Fera das HQs, Bruno Abdias integra a editora norte-americana Top Cow

“Fusion Man” (Northstar Comics-França 2022) e “El Poder de la Educación” (Embaixada dos EUA - Peru 2022) estão entre os trabalhos que o artista já publicou.
“Fusion Man” (Northstar Comics-França 2022) e “El Poder de la Educación” (Embaixada dos EUA - Peru 2022) estão entre os trabalhos que o artista já publicou.

Aline Rodrigues

Mais de 4 mil artistas de todo o mundo estavam na disputa do programa de caça-talentos da editora norte-americana Top Cow, responsável por títulos como “Cyberforce”, “The Walking Dead”, “The Darkness” e “Witchblade”. Apenas o ilustrador paraense Bruno Abdias, 41 anos, e o escritor William “Billy” Muggleberg III foram aprovados.

“É um concurso muito concorrido, eu participei das últimas quatro edições e nunca tinha conseguido nada (risos). A gente sempre espera o melhor, mas é um pouco surreal achar que vai realmente acontecer com a gente que é brasileiro. São muitos anos tentando e estudando para melhorar. Tudo isso tentando conciliar com meu trabalho como bancário”, falou Bruno, que está radicado no Ceará, é um fã declarado da editora desde a adolescência e sonhava em desenhar seus personagens.

O processo de seleção acontece de dois em dois anos, onde a editora fornece um roteiro de sete páginas e o artista tem um prazo para desenhá-las e entregar no formato padrão do mercado americano. “Neste caso o prazo foi de um ano, mas eu entreguei em dois meses”, conta.

O responsável pela escolha do artista é Marc Silvestri, um dos maiores artistas dos EUA, presidente da Top Cow e fundador da Image Comics. “Eles selecionam sempre um artista e um escritor de qualquer parte do mundo”, explicou Bruno, que possui formação em Design Gráfico, com especialização em Game Design e Animação 2D.

A paixão pelo universo dos quadrinhos começou na vida de Bruno ainda na infância. Foi instrutor de oficinas na Fundação Curro Velho, em Belém, na juventude, mas somente há pouco mais de três anos começou a desenhar profissionalmente.

A paixão pelo universo dos quadrinhos começou na vida de Bruno ainda na infância

“Leio quadrinhos desde criança e desenhar acabou vindo junto com essa paixão. Adorava os personagens da Disney e desenhava escondido pela casa. Com 12 anos conheci os X-Men e fiquei fascinado por eles, pois foi a primeira vez que vi personagens negros, parecidos comigo. E ao mesmo tempo foi quando eu entendi que existia a profissão de desenhista. Teve uma revista desenhada pelo paraense Joe Bennett. Foi quando eu descobri que era possível”, contou Bruno.

O artista cursou até o quarto ano de Arquitetura na Universidade Federal do Pará (UFPa), passou no concurso para bancário, profissão que exerceu por 18 anos, deixando de lado o sonho de ser desenhista. Até que, em 2020, ele recebeu um convite da Agência Glass House Graphics, dos EUA, para fazer testes como desenhista, foi quando fez o seu primeiro trabalho, “The Youngblood”, uma revista que foi famosa nos anos 1990 e iria comemorar 30 anos.

“Infelizmente não foi publicado por problemas com direitos autorais. Comecei a conciliar o trabalho no banco pela manhã e desenhista nas madrugadas. Fiz isso por um ano e juntei todo o dinheiro que recebia. Em 2021 comecei a trabalhar exclusivamente com quadrinhos e o dinheiro que tinha guardado dava pra aguentar por seis meses, caso tudo desse errado (risos). Mas graças a Deus deu tudo certo e, apesar dos medos e incertezas, tudo que aconteceu me trouxe até aqui, até as coisas ruins”, pontou ele.

Hoje faz diversos trabalhos para o mundo todo. “Fusion Man” (Northstar Comics-França 2022) e “El Poder de la Educación” (Embaixada dos EUA – Peru 2022) estão entre os trabalhos que o artista já publicou.

“Esse concurso [da Top Cow] representa um novo momento, que confirma minhas escolhas e acaba com os medos. É muito difícil você sair de um emprego estável para apostar num sonho. Todas as pessoas do meu convívio foram contra, exceto minha esposa. O que muda é que agora estarei produzindo para uma editora de grande porte, a terceira maior dos Estados Unidos, e as portas se abrem para trabalhos cada vez melhores. A minha meta é chegar à Marvel e desenhar os X-Men”, projetou Bruno.