TEXTO: ALINE RODRIGUES
Cento e vinte e cinco filmes em pré-estreias e mostras temáticas – 30 longas, 9 médias e 86 curtas-metragens -, vindos de cinco países (Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, EUA) e de 14 estados brasileiros (AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, PB, PR, RJ, RN, RS, SC, SP), distribuídos em nove mostras – Contemporânea, Homenagem, Preservação, Histórica, Educação, Valores, Mostrinha e Cine-Escola -, fazem parte da programação da CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, que chega à 18ª edição entre os dias 21 e 26 de junho, consolidada no calendário e circuito de mostras e festivais do Brasil como único evento a enfocar o cinema como patrimônio, preservação, história e educação.
A cidade mineira, Patrimônio Mundial da Humanidade, sedia uma programação intensa e gratuita, que inclu, além das sessões de cinema, oficinas, workshops, masterclasses, lançamentos de livros, exposição e atrações artísticas, além de uma homenagem ao ator e cantor Tony Tornado.
Além das exibições presenciais no Centro de Artes e Convenções e na Praça Tiradentess de Ouro Preto, o público poderá assistir a filmes na plataforma do evento (cineop.com.br), na plataforma Itaú Cultural Play, na TV UFOP e no Canal Educação, ampliando as janelas de exibição.
“A CineOP estrutura sua programação em três temáticas – Preservação, História e Educação. Cada temática irá enfocar uma questão diferente. A Preservação vai colocar em discussão o Patrimônio Audiovisual em Rede, visando a criação de uma Rede Nacional de Preservação Audiovisual; a História vai destacar as Imagens da Música Preta no Brasil, apresentando filmes raros que revelam histórias e cantores que integram a história da música e do cinema, com destaque para o ator e cantor Tony Tornado, nosso homenageado desta edição, e a Educação vai abordar a relação do Cinema com a Educação Digital” , detalha Raquel Hallak, diretora do evento.
TODAS AS IDADES
“São 125 filmes em pré-estreias e mostras temáticas que apresentam a diversidade da produção brasileira – uma temporada audiovisual recheada de atrações para todas as idades. Uma oportunidade de conhecer filmes raros e filmes que acabaram de ficar prontos. Além dos filmes, 87 profissionais estarão no centro de 31 debates e rodas de conversa”, completa Raquel.
Os debates vão acontecer no âmbito do 18º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e pretendem discutir as necessidades e demandas para a criação de uma Rede Nacional de Arquivos Audiovisuais. Já no contexto do Encontro da Educação, vão enfocar a regulamentação da Política Nacional de Educação Digital, a cultura digital e os desafios da sociedade contemporânea.
A mostra foi planejada para ser um espaço de luta pela salvaguarda do patrimônio audiovisual brasileiro. Na 3ª edição, em 2008, foi eleita pelo Fórum de Encaminhamentos e Diretrizes para o Setor da Preservação.
“Ao longo de sua trajetória, presenciou avanços, conquistas, perdas e retrocessos no campo da preservação e vivenciou transformações no audiovisual. Uma trajetória que é testemunha das mudanças e luta por políticas públicas no campo da preservação em duas múltiplas dimensões”, diz Raquel Hallak.
“A CineOP tornou-se um espaço de encontros, discussões, reflexões fundamentais para a preservação audiovisual no Brasil em diálogo com a educação e em intercâmbio com o mundo”, pontua a diretora.
De Ruth Souza a Antunes Filho, filmes trazem memórias da arte
Sob o recorte “Imagens da MPB (Música Preta no Brasil)”, os filmes apresentados enfatizam a presença da criação musical de artistas pretas e pretos nas trilhas sonoras e nos elencos dos mais variados filmes. A curadoria de Cleber Eduardo e Tatiana Carvalho Costa buscou colocar as sonoridades pretas em evidência dentro de contextos históricos e culturais nos séculos 20 e 21, como formas de invenção de universos populares. A ascensão do soul, a chegada do funk e vários outros momentos importantes dessa trajetória estarão representados numa série de filmes.
Entre eles, o filme de abertura da CineOP, na noite de 22 de junho, dá o ritmo: “Baile Soul”, de Cavi Borges, documenta um período entre anos 1960 e 1970, quando as equipes de som realizavam bailes blacks em centenas de clubes espalhados pelo subúrbio do Rio de Janeiro, dando origem ao movimento “Black Rio”. O fenômeno colaborou para a consolidação do movimento negro em todo o país. Tony Tornado, ator e cantor, homenageado este ano, teve participação fundamental nesse processo e aparece no longa-metragem.
“A escolha do Tony Tornado como homenageado da 18ª CineOP está diretamente associada à Temática Histórica que enfoca a Música Preta no Brasil. E com muita alegria que faremos a entrega do Troféu Vila Rica ao ator e cantor, que é símbolo da cultura negra consolidada nas artes cênicas e musicais do Brasil. Precursor do movimento da ‘black music’ brasileira, Tony Tornado estará presente em Ouro Preto participando da homenagem, roda de conversa e, ainda, do show que fará ao lado do seu filho Lincoln Tornado”, diz Raquel.
Outros títulos da Mostra Histórica resgatam grandes nomes da música, mas não sob o viés apenas biográfico, como destaca a curadora Tatiana Carvalho Costa: “A proposta é de fabulação preta nos filmes, de arte reformuladora e inventiva, tendo a música como afirmação de um modo de vida e de uma vitalidade existencial e coletiva não apenas no mundo, como também no cinema”.
Já na mostra Contemporânea, assinada pelos curadores Cleber Eduardo e Camila Vieira (longas e médias) e Tatiana Carvalho Costa (curtas), o enfoque é em filmes que lidam com memória, com arquivos, com a relação do presente e do passado. Entre os selecionados em longa-metragem, estão retratos documentais de figuras importantes da cultura brasileira, casos de “Diálogos com Ruth de Souza”, de Juliana Vicente; “Lô Borges: Toda Essa Festa”, de Rodrigo de Oliveira; e “Antunes Filho: Do Coração para o Olho”, de Cristiano Burlan.
Já na Mostra Preservação, um programa especial é a sessão do Brazilian Film and Video Preservation Project (BFVPP), iniciativa de preservação do Ostrovsky Family Found (OFF), dedicada a salvaguardar imagens em movimento realizadas de 1960 até 1984, ligadas à arte contemporânea e à videoarte, e que tenham usado diferentes suportes (filme super-8, U-matic, 1/4 de polegada, etc). Será exibido o filme dedicado à artista plástica Anna Bella Geiger, com direção de Sônia Andrade.