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Gerson Nogueira analisa vitórias de Remo e Paysandu

Foto: Samara Miranda/Remo
Foto: Samara Miranda/Remo

Vitória dramática e importante

O Remo manteve a pegada vitoriosa que marca o trabalho de Ricardo Catalá no clube. Com o quase heroico triunfo de sábado sobre o Pouso Alegre, no interior mineiro, o time soma agora três vitórias e dois empates nas últimas cinco rodadas. Onze pontos ganhos em 15 disputados, uma brutal diferença em relação ao pífio desempenho de Marcelo Cabo, que perdeu os quatro primeiros jogos na Série C.

Não foi uma partida exuberante do ponto de vista técnico. Muito longe disso. Erros de passe, muitas faltas e zero inspiração. Os times jogaram o 1º tempo como legítimos disputantes da Série C. Muita transpiração, luta, gana. Nenhum sinal de vida inteligente no meio-de-campo. Ataques à espera de uma bola rebatida ou um vacilo das zagas.

E o sistema defensivo do Remo foi generoso nos erros. Que não se culpe apenas o centro da zaga, com Diego Ivo e Diego Guerra. As falhas foram propiciadas por uma marcação frouxa no meio-de-campo e nas laterais.

Fosse o time do Pouso Alegre ligeiramente mais aplicado nas finalizações teria criado inúmeros problemas para o Leão na partida. A exceção foi Vinícius, novamente perfeito nas intervenções, como já havia sido diante da Aparecidense. Recomenda-se que os críticos do goleiro recolham as armas por enquanto.

Um episódio aparentemente prejudicial para o Remo acabou oportunizando uma reação que levou à vitória. Aos 34 minutos, o atacante Fabinho aplicou um carrinho por trás em Ryan, do Pouso Alegre. Uma falta imprudente e desnecessária, que lhe custou a expulsão de campo.

Com 10 homens, o Remo encarou o segundo tempo de forma mais decidida. Passou a marcar melhor e reavivou uma antiga virtude: a objetividade nos contra-ataques. Aos 7 minutos, Rodriguinho acertou um chute cruzado no ângulo direito da trave do Pouso. Com o placar de 1 a 0 o jogo ficou eletrizante.

O Pouso concentrou pressão no jogo aéreo e quase empatou. A zaga paraense continuou errática, espanando bolas nos pés de jogadores adversários. Vinícius fez três defesas espetaculares e, quando não defendeu, a bola bateu na trave.

Aí, já nos acréscimos, com Leonan atuando como um ala avançado pela esquerda, o Remo voltou a ameaçar. Aos 52’, em contra-ataque puxado por Richard Franco, a bola chegou aos pés de Lucas Mendes e foi morrer no fundo do barbante, fechando a contagem.

Vitória importantíssima, obtida em circunstâncias dramáticas, mas que confirma que a mentalidade vitoriosa está de volta ao Leão, mesmo quando a situação parece desfavorável.

 

De virada, na raça, Papão vence e sai da zona

Outra atuação ruim, abaixo do nível esperado para um mandante, mas o Papão conseguiu ganhar. Na Série C, muitas vezes, não importam as circunstâncias, mas o desfecho. Com o 2 a 1 sobre o Floresta, quebrou a sequência de cinco jogos sem vitórias. O resultado também deixa o time fora da zona de rebaixamento, ocupando a 11ª posição.

Na partida de ontem na Curuzu, ainda sem torcida, o PSC sofreu pressão do Floresta, principalmente quando o arisco ponta Romarinho era acionado. Sem jogadas criativas, Mário Sérgio ficava isolado na frente e não tinha oportunidades. O visitante quase marcou em duas chegadas perigosas.

Para o 2º tempo, Marquinhos Santos lembrou finalmente de João Vieira e Bruno Alves, que entraram para dar mais vitalidade às ações ofensivas. Apesar disso, quem abriu o placar foi o Floresta, com Romarinho, após falha geral da defensiva do Papão.

A reação foi rápida. Em cruzamento na área, Mário Sérgio desviou para as redes, igualando tudo. O Floresta sentiu o gol e se posicionou mais atrás, enquanto o PSC aumentava a intensidade e a frequência dos ataques.

Com Nicolas Careca e Fernando Gabriel em campo, a pressão cresceu e o segundo gol veio aos 31 minutos. Bruno Alves cruzou e Mário Sérgio, em posição irregular, só desviou para o gol. A virada tranquilizou o Papão e causou impacto no Floresta, que não conseguiu atacar como antes, principalmente depois da expulsão de Rikelme na reta final do jogo.

Curiosamente, dois bicolores também foram expulsos do banco de reservas. Vinícius Leite e Robinho levaram cartão vermelho por reclamação – quando o Papão já administrava a vitória. Esquisito.

 

Amistoso desnecessário e no ambiente errado

Enquanto a Seleção Brasileira continuar a escolher adversários de quinta categoria será difícil avaliar o nível da equipe nesta fase pós-Copa e de ressaca das invencionices de Tite. Sob o comando de Ramon Menezes, sem Neymar, o time não teve dificuldade em golear Guiné, no sábado.

Um treino de luxo para o Brasil, que não precisou suar para se impor. Valeu pela simbologia da camisa preta usada no primeiro tempo. Que sirva para reforçar a luta de Vinícius Jr. contra o racismo doentio dos espanhóis. De toda sorte, será muito difícil mudar a cultura de ódio e xenofobia deles.

Aliás, continuo sem entender a ideia de jerico da CBF de levar um jogo da Seleção à Espanha, como se estivesse ávida pela aprovação dos racistas. A essa altura, em nome da dignidade, seria mais lógico passar longe do ranço e da intolerância que predominam por lá.

Depois do amistoso, um segurança entregou banana a um integrante da equipe de Vini. Atitude típica de um país que nunca se importou com empatia e receptividade. Herança maldita do franquismo, como bem lembrou Pep Guardiola em recente entrevista.

Por enquanto, fica a impressão de que a Seleção terá que mudar muito nos próximos dois anos, com ou sem Carlo Ancelotti. Peças (Richarlyson, Paquetá) precisam ser observadas com mais rigor e outras figuras merecem chances.