Wesley Costa
O laudo contendo os resultados do teste da corda, que será utilizada durante as duas principais procissões do Círio de Nazaré 2023, foi entregue na manhã de ontem (12) à Diretoria da Festa de Nazaré (DFN) e a empresa Castanhal Companhia Têxtil (CTC), responsável pela doação do famoso ícone da festa mariana. A avaliação do material foi conduzida por equipes da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará (UFPA), que aprovaram a resistência dos fios que compõem a estrutura.
Essa é a primeira vez que a corda do Círio será fabricada no Pará, levando em consideração toda a matéria-prima utilizada e necessária para suportar a força dos devotos, que chegam à capital paraense oriundos de vários lugares e participam das procissões pagando as suas promessas. Diferente de outras edições do Círio, a corda deste ano não será fabricada em sisal, mas sim em juta e malva. A união das duas fibras se mostram, inclusive, 10% mais resistentes durante os testes.
O diretor-coordenador do Círio 2023, Antônio Salame, destacou a felicidade de a produção da corda voltar a ser feita no estado, além de ressaltar algumas diferenças bastante visíveis no novo material. “É uma imensa alegria ver esse retorno da produção da corda aqui, e com todos os elementos genuínos do Pará, desde as sementes até a fabricação dos filetes. Percebemos nela uma coloração um pouco mais escura, porém, com duas fibras que tornam mais agradável ao toque”, disse.
Responsável pelo controle de qualidade na CTC, Vitor Fernandes contou um pouco sobre o processo de produção dos fios que vão compor os 800 metros de corda que serão divididos em partes iguais para atender as procissões da Trasladação e a grande festa no segundo domingo de outubro. Um dos aspectos frisados foi a importância da parceria dos pequenos agricultores, responsáveis pelo plantio das árvores de onde são extraídas as fibras de juta e malva.
“As fibras que formam os fios de juta e malva são retiradas diretamente dos caules das árvores plantadas em nossa região amazônica. São necessários oito meses, desde a plantação das sementes, até que o vegetal esteja pronto para essa extração das fibras do seu tronco. Nesse tempo, é o produtor familiar que está totalmente envolvido e, por isso, merece total destaque dentro desse resultado que estamos vivenciando”, diz.
Para chegar ao laudo de aprovação de resistência da corda, a equipe de engenharia utilizou um protótipo de 50 metros, também produzido pela empresa CTC. A corda foi separada em amostras e colocada em uma máquina adaptada para prendê-la e exercer forças de tração em sentidos opostos, durante dez minutos. Após esse tempo, os pedaços da corda eram removidos do aparelho e os profissionais analisavam, fio a fio, os impactos sofridos.
A engenheira civil e responsável pela execução dos testes, Carolina Dantas, pontuou que as avaliações foram feitas com a corda totalmente seca e que, por isso, questões de absolvição de líquidos, abrasão ou outros elementos que possam interferir na durabilidade e resistência do objeto, não foram levados em consideração neste primeiro laudo entregue.
“O que fizemos aqui foi justamente simular o movimento de tração que os romeiros exercem sobre a corda durante a procissão. Além de fazer o teste na corda de juta e malva, também realizamos os mesmos procedimentos na corda produzida em sisal e que já é utilizada no Círio. Ao final, se verificou que a resistência da corda em malva e juta é 10% superior em relação à corda de sisal, quando levada em consideração o tempo de tração que ambas sofreram e as configurações que nos foi entregue”, explicou.
HISTÓRIA
l A corda passou a fazer parte do Círio em 1885, quando uma enchente da Baía do Guajará alagou a orla desde próximo ao Ver-o-Peso até as Mercês, no momento da procissão, fazendo com que a berlinda ficasse atolada e os cavalos não conseguissem puxá-la. Os animais então foram desatrelados e um comerciante local emprestou uma corda para que os fiéis puxassem a berlinda. Desde então, foi incorporada às festividades.