O movimento antivax, oposição organizada à vacinação pública que tem crescido nos últimos anos, pode estar interferindo na vacinação de cães domésticos. A constatação é fruto de trabalho realizado pela equipe do Laboratório de Bacterioses e Pesquisa da Escola de Veterinária da UFMG, que aplicou um questionário on-line a mais de 1 mil tutores para entender a relação entre a vacinação contra a covid-19 e a imunização dos pets.
O levantamento mostrou que tutores que não se vacinam contra a covid-19 têm sete vezes mais chance de também não vacinar seus cães, o que indica que o movimento antivacina ocorre também no âmbito da saúde animal. “Vimos que existe uma relação entre a vacinação humana e a animal. As pessoas que estão com o esquema vacinal contra a covid-19 incompleto não acreditam que vacinas têm a capacidade de proteger, então elas estendem essa crença à vacinação de seus animais”, explica o professor Rodrigo Otávio Silva, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva.
Rodrigo Otávio acrescenta que as respostas ao questionário trouxeram outras informações interessantes, como as constatações de que o negacionismo vacinal não está associado à renda ou à escolaridade e de que tutores que não vacinam seus cães tendem também a não castrá-los. Esse grupo também recorre com mais frequência à homeopatia, especialidade médica sem comprovação científica.
“Uma das questões abordadas no questionário se referia aos motivos pelos quais os tutores não vacinavam seus pets. Sessenta por cento deles afirmaram não vacinar devido aos custos. Porém, ao analisarmos a renda dessas pessoas, percebemos que mesmo as que tinham dinheiro para vacinar os cães não o faziam. Isso mostra que esses tutores não veem uma boa relação de custo-benefício na vacina animal. A não vacinação está mais relacionada à crença de que a imunização não é benéfica”, diz.
Origem da informação
Entre as razões que o questionário mapeou para a não vacinação dos cães está o local onde os tutores costumam se informar sobre a saúde de seus pets. Rodrigo Otávio explica que quem vacina os cães costuma se informar com o médico veterinário. Quem não vacina, por outro lado, obtém informação na internet e em grupos de WhatsApp.
“Isso condiz com os estudos realizados em outros países. Existe uma associação clara entre o número de vezes que você visita o veterinário e a chance de vacinar o seu animal. Pessoas que levam o pet ao veterinário pelo menos uma vez ao ano têm nove vezes mais chances de vaciná-lo. Isso está relacionado ao fato de que as informações fornecidas no consultório veterinário têm comprovação científica”, afirma o professor.
Negacionismo crescente
Os dados obtidos são preocupantes porque mostram o crescimento do negacionismo em todos os ambientes. Segundo o censo do Instituto Pet Brasil (IPB) de 2021, o Brasil tem a terceira maior população de animais de estimação do mundo (140 milhões de indivíduos). Os cães lideram esse ranking, com uma população de quase 60 milhões de animais, e um dos pilares da saúde canina é a vacinação, considerada a medida mais importante para prevenção e controle de doenças infecciosas. Daí a importância que os tutores continuem vacinando seus animais.
“O movimento antivax começa a afetar os pequenos animais, e isso mostra que, em um futuro próximo, teremos mais problemas em relação à proteção dos pets e à disseminação de doenças entre eles e entre os humanos. Está mais do que comprovado que a vacinação é benéfica. Vacinar é um ato de cuidado”, alerta o professor.
Fonte: UFMG