SAMUEL FERNANDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma pesquisa publicada nesta quarta (24) observou que o risco de demência é maior em pessoas com diagnóstico precoce para diabetes tipo 2. Por exemplo, entre aqueles com a confirmação deste distúrbio antes dos 60 anos, o risco de ter demência no futuro é quase três vezes maior comparado a quem não apresenta diabetes.
No entanto, quando o indivíduo tem pré-diabetes, mas não evolui para um quadro diabético, o risco para as complicações cognitivas é baixo. O achado é um alerta para a necessidade de medidas que evitem a progressão da doença: isso poderia gerar um efeito positivo também contra o aparecimento de casos de demência.
O pré-diabetes é um estágio em que o nível de açúcar no sangue se encontra num meio-termo entre o normal e o índice elevado comum ao diabetes. Dados já indicam que a evolução entre os quadros de saúde é alto: cerca de 70% das pessoas com pré-diabetes terão diabetes em algum momento da vida. Mas, com mudanças de hábitos e acompanhamento médico, é possível evitar essa progressão -o estudo recém-publicado aponta para a necessidade disso ser feito.
A pesquisa foi publicada na revista científica Diabetologia, e a intenção dos cientistas era investigar a relação do pré-diabetes com a demência. Além disso, outro objetivo foi entender se a idade em que a pessoa chegasse ao diabetes influenciava uma maior chance de ter o problema cognitivo.
Para atingir esses objetivos, os cientistas montaram uma amostra inicial de mais de 15 mil participantes nos EUA. Alguns deles, porém, não cumpriam alguns requisitos do estudo, como não ter diagnóstico de diabetes no começo da pesquisa. Por isso, essas pessoas foram descartadas -sobraram 11.656, que foram acompanhadas por anos para observar as relações entre as diferentes condições.
De início, foram identificados aqueles que apresentavam pré-diabetes -eram 2.330. Com o passar dos anos, cerca de 44% desse público evoluiu para diabetes. Por outro lado, entre aqueles que não eram pré-diabéticos, cerca de 22% tiveram o distúrbio. Ou seja, a incidência da doença foi consideravelmente maior entre aqueles com pré-diabetes.
Em paralelo, dados sobre a presença de demência também era investigada pelos pesquisadores por meio de visitas recorrentes aos participantes.
Com os dados do estudo consolidados, estimativas foram feitas para, de início, entender a relação do pré-diabetes com a demência. Segundo os autores, as informações coletadas apontavam que a associação até existe, mas só é relevante se a pessoa desenvolver o diabetes.
“O pré-diabetes é associado com o risco de demência, mas esse risco é explicado pelo subsequente desenvolvimento do diabetes”, resumem os autores.
Então, o segundo objetivo da pesquisa foi investigado: isto é, a relação entre idade do diagnóstico de diabetes e a chance de ter demência. Os pesquisadores dividiram os diabéticos em quatro grupos considerando o momento que eles passaram a ter o problema de saúde: se foi antes dos 60 anos, entre 60 e 69 anos, no intervalo de 70 a 79 e, por último, entre 80 e 93 anos.
Esses grupos foram contrapostos com aqueles mais de 11 mil no início da investigação que ainda não tinham diabetes. A conclusão principal foi que, quanto mais cedo alguém contar com um diagnóstico para o distúrbio associado com o nível alto de açúcar no sangue, maior a chance de a demência aparecer.
Por exemplo, para aqueles com diabetes antes dos 60 anos, o risco era quase três vezes maior para a complicação cognitiva. No público mais velho, por outro lado, esse percentual caiu para 13%, o que não foi considerado pelos pesquisadores como um dado estatisticamente relevante.
Foi justamente por essa conclusão que os autores apontam a importância de evitar ou pelo menos retardar ao máximo a evolução do pré-diabetes para o diabetes. “Tomados em conjunto, nossos achados sugerem que a prevenção da progressão do pré-diabetes, especialmente em indivíduos mais jovens, pode ser uma maneira importante de reduzir a carga de demência”, escreveram.