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Mulher de Mauro Cid admite uso de cartão de vacinação falso

Gabriela Santiago Cid culpou o marido pela adulteração do cartão

FOTO: Igo Estrela-Metrópoles
Gabriela Santiago Cid culpou o marido pela adulteração do cartão FOTO: Igo Estrela-Metrópoles

Paolla Serra/Agência Globo

Mulher do tenente-coronel Mauro Cid, Gabriela Cid responsabilizou o marido pela inserção de dados falsos sobre vacinação de Covid-19 em sistemas do Ministério da Saúde. Em depoimento à Polícia Federal, ela afirmou que o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro “tomava a frente da dinâmica familiar” e não o questionou sobre a obtenção da carteira fraudada. Assim como o marido, Gabriela foi alvo de busca e apreensão e é investigada no inquérito que apura os crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa e corrupção de menores.

Em cerca de duas horas e meia, Gabriela afirmou aos investigadores não ter questionado Mauro Cid sobre os documentos por “ter certeza” de que ele não falaria como os obteve. Ela disse portar o cartão de vacinação com os dados falsos porque possivelmente o esqueceu dentro da carteira.

No documento, ao qual O GLOBO teve acesso, Gabriela negou saber se Mauro Cid “arquitetou e capitaneou toda a ação criminosa relativa às inserções de dados nos sistemas” em benefício de Bolsonaro e de sua filha Laura à revelia ou sem o conhecimento e a anuência do ex-presidente.

Na tarde de quinta-feira, Mauro Cid deixou pela primeira vez em duas semanas a cela que ocupa no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília (BPEB). Ele foi levado para prestar depoimento na PF, mas ficou em silêncio.

As investigações apontaram que Mauro Cid teria emitido os certificados e os utilizado para, por exemplo, embarcar com a família para destinos internacionais, como os Estados Unidos.

Para a PF, a análise das mensagens de WhatsApp, decorrentes da quebra de sigilo telemático, “reforça os indícios de novas inserções de dados falsos nos sistemas do Ministério da Saúde”. As conversas demonstraram que as filhas de Cid realizavam “atividades cotidianas” em Brasília nas datas em que seus cartões de vacinação registraram as imunizações em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

O inquérito mostra ainda que um perfil associado aos dados de Bolsonaro foi conectado ao aplicativo ConecteSUS por pelo menos quatro vezes desde dezembro do ano passado. Segundo os investigadores, até 22 daquele mês, a conta era administrada pelo ex-ajudante de ordens.

A partir dessa data, o cadastro da conta de Bolsonaro foi alterado para um e-mail de Marcelo Costa Câmara, então assessor especial e quem o acompanhou em sua estadia nos Estados Unidos. “A alteração cadastral foi realizada a partir do mesmo endereço de IP utilizado para emitir o certificado de vacinação ideologicamente falso, com registro no Palácio do Planalto”, frisou a PF.

Em depoimento na terça-feira, o ex-presidente negou ter conhecimento da inserção de dados falsos de vacinação em seu nome e no de familiares. Ele também afirmou não ter determinado a inclusão das informações nos sistemas de saúde por não ter motivos para isso e disse não acreditar que Mauro Cid tenha arquitetado o esquema criminoso.

Nesta sexta-feira, Bolsonaro disse não temer ser preso e defendeu Mauro Cid. O ex-presidente afirmou não haver motivos para ir para a cadeia, mas disse, sem apresentar provas, que pessoas “importantes” já discutiam prendê-lo antes do fim do governo, numa espécie de “prisão light”, segundo ele, “apenas para carimbá-lo com a pecha de ex-presidiário”.

Em entrevista à revista Veja, Bolsonaro citou o caso da ex-presidente boliviana Jeanine Áñez, presa e condenada sob acusação de atos antidemocráticos, mas negou temer que o mesmo ocorra com ele.

“Para ter algum motivo que justificasse isso, eu precisaria ter feito pelo menos 10% do que ela fez. E eu fiz 0%. Algumas pessoas importantes, não vou dizer os nomes, já diziam antes de acabar o governo que querem me prender. Uma prisão light, apenas para me carimbar com a pecha de ex-presidiário”, afirmou ele.

O ex-presidente afirmou acreditar que “alguém fez besteira” no caso da emissão de certificados falsos de vacinação. No entanto, defendeu Mauro Cid: “Quem indicou o Cid foi o comando do Exército da época, mas ele me serviu muito bem. Nunca tive nenhum motivo para desconfiar dele, e não quero acusá-lo de nada. Eu tenho um carinho muito especial por ele. É filho de um general da minha turma, considero um filho”.

Também em entrevista à Veja, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro negou ter qualquer relação com Mauro Cid, mas disse que o militar pagava as contas pessoais dela porque ficava com o cartão da conta-corrente de Bolsonaro.

Conversas interceptadas pela PF revelaram trocas de mensagens entre o ex-ajudante de ordens e duas assessoras de Michelle que apontam a existência de uma orientação para o pagamento em espécie das despesas da então primeira-dama.