MATHEUS TUPINA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-coordenador da Operação Lava Jato e deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) perdeu o mandato na terça-feira (16), conforme decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por unanimidade.
Ela foi tomada após representação apresentada pela Federação Brasil da Esperança, composta por PT, PC do B e PV, e pelo PMN alegando a impossibilidade de o então procurador deixar a carreira no Ministério Público porque respondia a uma série de sindicâncias no órgão.
O parlamentar cassado ainda pode recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele disse estar indignado com a decisão do TSE e que está em curso no Brasil uma “vingança sem precedentes” contra “agentes da lei que ousaram combater a corrupção”.
Entenda em cinco pontos o desenrolar do caso:
Por que Deltan perdeu o mandato?
O ex-procurador da República perdeu o mandato porque o TSE tornou inválido seu registro de candidatura. Isso significa que Deltan não poderia ter concorrido e nem recebido votos porque respondia a sindicâncias e outros processos junto ao CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público).
Os autores das representações alegaram que Deltan antecipou sua exoneração para se livrar de 15 procedimentos que estavam em andamento no conselho e que poderiam eventualmente motivar a abertura de PAD (Processo Administrativo Disciplinar).
A base da acusação foi a Lei da Ficha Limpa, que prevê a inelegibilidade de membros do Ministério Público que pediram “exoneração ou aposentadoria voluntária na pendência de processo administrativo disciplinar”. Se configurada, a inelegibilidade é por um prazo de 8 anos.
Segundo o relator do caso, ministro Benedito Gonçalves, Deltan deixou o cargo antecipadamente visando burlar uma possível inelegibilidade, caso o resultado dos processos administrativos fosse contrário a ele.
Ele pediu exoneração em novembro de 2021 com planos de disputar um cargo eletivo, em movimento similar ao do ex-juiz da Lava Jato e agora senador Sergio Moro (União Brasil-PR).
Qual foi o trâmite da representação apresentada contra o ex-procurador?
Os partidos que apresentaram a representação iniciaram pelo TRE-PR (Tribunal Regional Federal do Paraná), que julgou os pedidos como improcedentes à época e autorizou a diplomação de Deltan -o procedimento atestava os mais de 340 mil votos recebidos e permitia a posse no mandato.
A PGE (Procuradoria-Geral Eleitoral) havia entendido que processos administrativos são diferentes de investigações preliminares, opinando, então, pelo registro de Deltan.
As siglas, então, interpelaram um recurso junto ao TSE, pedindo a análise do caso pela corte superior. Benedito Gonçalves acolheu a argumentação da acusação e votou pela cassação do mandato, seguido por todos os outros ministros do tribunal eleitoral.
O que diz Deltan sobre o caso?
Após perder o mandato, Deltan disse estar indignado com a decisão da corte, afirmando haver no Brasil uma “vingança sem precedentes” contra os que, segundo ele, combatem a corrupção.
“344.917 mil vozes paranaenses e de milhões de brasileiros foram caladas nesta noite com uma única canetada, ao arrepio da lei e da Justiça. Meu sentimento é de indignação com a vingança sem precedentes que está em curso no Brasil contra os agentes da lei que ousaram combater a corrupção.”
“Mas nenhum obstáculo vai me impedir de continuar a lutar pelo meu propósito de vida de servir a Deus e ao povo brasileiro”, concluiu em nota o ex-coordenador da força tarefa da Lava Jato
Existe possibilidade de reversão da cassação?
A decisão só pode ser revertida caso Deltan entre com recurso junto ao STF, e a corte veja alguma inconstitucionalidade na cassação. Caso a Suprema Corte brasileira considere a deliberação constitucional, a perda de mandato é efetivada pelo TRE do Paraná.
O ex-procurador ainda pode entrar com embargos de declaração no TSE, pedindo esclarecimentos sobre a deliberação tomada. Estes instrumentos, porém, não alteram de alguma forma a decisão, e servem, na prática, para atrasar a efetividade do que foi decidido pela corte eleitoral.
Qual a repercussão do caso?
Enquanto aliados de Deltan ficaram surpresos com o veredicto, correligionários de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comemoraram a decisão e ironizaram o ex-coordenador da Lava Jato.
Sergio Moro afirmou, em suas redes sociais, ter recebido a notícia da perda de mandato com tristeza e disse estar estarrecido, “por ver fora do Parlamento uma voz honesta na política que sempre esteve em busca de melhorias para o povo brasileiro”.
Já a presidente do PT, a deputada federal também pelo Paraná Gleisi Hoffmann, celebrou a cassação do mandato, disse que agora o parlamentar possui “um PowerPoint para chamar de seu”, em referência a uma apresentação de slides feita pelo ex-procurador em 2016 sobre a primeira denúncia de Lula na Lava Jato.
O ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), utilizou uma frase bíblica para ironizar a condição de Deltan. “Sobre julgamento realizado hoje no TSE, lembrei-me de um texto bíblico, que dedico ao presidente @LulaOficial: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!”, tuitou.