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Bolsonaro diz à PF que não pediu inserção de dados em sua carteira de vacinação

CGU concluiu que houve adulteração nas informações do ex-presidente inseridas no portal estadual de vacinação de São Paulo, mas o órgão não aponta culpados para a fraude.
FOTO: PR
CGU concluiu que houve adulteração nas informações do ex-presidente inseridas no portal estadual de vacinação de São Paulo, mas o órgão não aponta culpados para a fraude. FOTO: PR

Marianna Holanda e Mônica Bergamo/Folhapress

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse em depoimento nesta terça-feira (16) à Polícia Federal que não determinou a inserção de dados falsos na sua carteira de vacinação e na de sua filha. Ele também afirmou que só teve conhecimento da adulteração quando esse tema começou a ser divulgado pela imprensa, em fevereiro deste ano.

O ex-mandatário disse ainda às autoridades policiais que o tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-braço direito e ex-chefe da ajudância de ordens do Planalto, “sequer comentou sobre certificados de vacina” com ele. Cid foi preso na mesma operação da PF.

O ex-chefe do Executivo negou ter solicitado a Cid ou outras pessoas envolvidas no esquema a adulteração dos cartões de vacina dele e de sua filha, e disse desconhecer motivos para que tenham feito isso. Bolsonaro afirmou ainda não acreditar que o seu ex-auxiliar tenha arquitetado a ação criminosa, que não a determinou, e que se ele o fez, “foi à revelia, sem qualquer conhecimento ou orientação” dele.

Bolsonaro disse aos policiais que, no dia 29 de dezembro de 2022, o então ministro da CGU (Controladoria-Geral da União), Wagner Rosário, entrou em contato com ele para obter autorização para retirar o sigilo de seu cartão de vacinação.

O ex-presidente relatou ter autorizado seu auxiliar e afirmou que “o orientou que, caso houvesse alguma coisa errada, que se procedesse a investigação pertinente”. Bolsonaro sempre disse não ter se vacinado e criticava, sem evidências, a vacina contra a Covid-19.

Durante o depoimento, ele disse que a CGU havia aberto uma investigação sobre possíveis fraudes em seu cartão de vacinação quando ele ainda era presidente da República.

A suspeita da PF é de que Mauro Cid tenha adulterado, com ajuda de João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), os cartões de vacinação de Bolsonaro e da filha do ex-presidente.

À polícia Bolsonaro afirmou não ter “a menor ideia” das razões que levaram Brecha a fraudar o seu perfil no sistema do SUS (Sistema Único de Saúde). Ele também foi questionado se conhecia as enfermeiras que, segundo os registros adulterados, teriam aplicado as doses de vacina.

Depois que os dados falsos foram inseridos no sistema, o aplicativo do ConecteSUS emitiu dois certificados de vacinação em nome de Jair Bolsonaro. O ex-presidente afirmou que nem sequer sabe mexer no aplicativo e que toda a sua “gestão pessoal” sempre ficou a cargo de Cid. Mas disse não saber se foi, de fato, Cid quem emitiu os certificados.

O ex-chefe do Executivo repetiu à PF que não tinha razão para emitir um certificado falso, já que, segundo ele, “jamais tomou vacina” contra a Covid. Bolsonaro também foi questionado pelos policiais sobre áudio enviado por Ailton Barros a Cid em que diz saber quem foi mandante do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, e respondeu que o seu então ajudante de ordens nunca comentou sobre o áudio com ele.

Em outro áudio obtido pela PF, Barros fala ainda sobre influenciar pautas das manifestações golpistas em Brasília. O ex-chefe do Executivo disse que “nunca repassou qualquer orientação sobre as referidas pautas a Ailton e/ou qualquer grupo”. Ele disse ainda só mantinha contato por “conversas esporádicas” com Barros e que as aproximações se davam “principalmente em momentos eleitorais”.

O ex-chefe do Executivo disse ainda que Barros “não possui liderança” para arregimentar pessoas para ato golpista, e ressaltou “que não concorda com qualquer tratativa nesse sentido”.

Bolsonaro diz que “não participou ou orientou qualquer ato de insurreição ou subversão contra o Estado Democrático de Direito” e que duvida que Cid tenha dado reforço a pautas golpistas.