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Áudios de WhatsApp indicam que gastos de Michelle foram pagos em dinheiro vivo

A decisão do ministro tem como argumento a avaliação de que a comunicação entre eles pode prejudicar o andamento de investigações.
A decisão do ministro tem como argumento a avaliação de que a comunicação entre eles pode prejudicar o andamento de investigações.

Agência Globo

Conversas entre o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, e duas assessoras de Michelle, interceptadas pela Polícia Federal e obtidas pelo Uol, indicam a existência de orientação para o pagamento em dinheiro vivo das despesas da ex-primeira-dama. Cid está preso por suspeitas de fraude em cartões de vacinação.

A quebra de sigilo mostra o temor de Cid de que os gastos fossem interpretados como um esquema de rachadinha, a exemplo da investigação envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no Ministério Público do Rio de Janeiro. “É a mesma coisa do Flávio”, disse Cid sobre os desembolsos em espécie, em áudio para a assessora Giselle dos Santos Carneiro, que trabalhava com a ex-primeira-dama. O ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse que “não há nada de ilegal nas transações efetuadas”.

Em uma decisão que integra o inquérito, o ministro Alexandre de Moraes, segundo a Folha de S. Paulo, afirmou que a investigação da PF aponta “fortes indícios de desvio de dinheiro público, por meio da Ajudância de Ordens da Presidência da República”.

Em janeiro, o portal Metrópoles apontou o ex-ajudante como responsável por pagar contas do clã presidencial em dinheiro vivo. À época, o caso foi negado por Bolsonaro. A investigação apurou que Michelle usava cartão de crédito vinculado à conta de uma amiga, Rosimary Cardoso Cordeiro. Cid pagava a fatura do cartão em dinheiro vivo, em uma agência do Banco do Brasil no Palácio do Planalto.

Nos áudios revelados agora, as assessoras conversam com Cid sobre o pagamento das despesas da ex-primeira-dama. Elas afirmam que tentam convencer Michelle a parar de usar o cartão da amiga.

“Você poderia falar assim: ‘Dona Michelle, o que a senhora acha da gente fazer um cartão para a senhora?’ Pra evitar que a gente fique na dependência da Rose. E aí a gente pode controlar melhor aqui as contas (….). Pode alertá-las o seguinte, que isso pode dar problema futuramente, se algum dia, Deus o livre, a imprensa descobre que ela é dependente da Rose”, diz Cintia Borba em áudio a Giselle em 30 de outubro de 2020.

OUTRA CONVERSA

Em outro áudio, Giselle conta a Mauro Cid ter conversado com uma pessoa próxima a Michelle, e que a ex-primeira-dama ficou “pensativa”, mas que continuaria a usar o cartão de Rosimary. Cid responde: “Ela ficou com a pulga atrás da orelha mesmo. É a mesma coisa do Flávio. O problema não é quando! É como deputado, rachadinha, essas coisas”.

“O MP, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio, vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle”, continua Cid.

Ainda de acordo com o Uol, uma empresa com contratos públicos da gestão de Bolsonaro teria realizado uma série de transferências a um militar que trabalhava com Mauro Cid. O segundo-sargento Luis Marcos dos Reis fez ao menos 12 depósitos em dinheiro em conta de uma tia de Michelle, de acordo com a PF. Os pagamentos teriam ocorrido até julho de 2022.

Segundo investigações, o dinheiro era depositado pelo pai de uma sócia da empresa. Ao cair na conta, o sargento a serviço de Cid sacava as notas. Segundo a PF, o segundo-sargento era responsável pelos pagamentos de despesas da ex-primeira-dama Michelle.