Nildo Lima
O futebol brasileiro volta a conviver com um grande escândalo, que ganha projeção internacional, sendo noticiado em todo o mundo. O caso se relaciona a um esquema envolvendo uma gama de jogadores e aliciadores, suspeitos de interferir e/ou manipular resultados de jogos do Brasileiro em suas diversas séries, além de campeonatos estaduais.
O jogo sujo dentro de campo teria como objetivo beneficiar apostadores de plataformas de apostas eletrônicas. O “mar de lama” que invade os gramados brasileiros, felizmente, até aqui, não chegou ao futebol do Pará, mas disparou o sinal de alerta entre os dirigentes dos clubes locais.
O máximo que se tem notícia até aqui do envolvimento do Pará no caso diz respeito ao zagueiro Vitor Mendes, de 24 anos, natural de Belém, mas que nunca atuou por uma equipe local profissionalmente. O jogador que está no Fluminense-RJ, cedido por empréstimo pelo Atlético-MG, teve o seu nome citado na investigação da operação “Penalidade Máxima”, evidenciada pelo Ministério Público de Goiás.
O defensor é acusado de ter recebido uma quantia em dinheiro ao provocar uma punição com um cartão amarelo, quando defendia o Juventude-RS, em 2022, em jogo contra o Fortaleza-CE pela Série A do Brasileiro – confira nas páginas 10 e 11 um panorama da atual situação da manipulação de resultados no nosso futebol.
Assim como vem ocorrendo em outros clubes de grande projeção no futebol brasileiro, Clube do Remo e Paysandu, de acordo com suas direções, estão atentos ao caso. Os presidentes de Leão e Papão, Fábio Bentes e Maurício Ettinger asseguram que medidas preventivas estão sendo tomadas, a fim de evitar que seus atletas e as próprias agremiações tenham seus nomes envolvidos no caso.
Pelo menos por enquanto, por aqui, não há nada que se assemelhe à medida adotada pelo Vasco-RJ, que lançou recentemente uma cartilha elaborada pelo Departamento Jurídico do clube destinada a prevenir o envolvimento dos atletas no esquema de corrupção.
Mas, se não há nenhuma cartilha, desde que o escândalo veio à tona, o assunto passou a ser bastante debatido dentro dos estádios Baenão e Curuzu. As conversas entre dirigentes e atletas têm acontecido tanto de maneira formal como informal no dia a dia dos clubes.
Até mesmo situações corriqueiras nos jogos das equipes, que antes eram vistas como de menor relevância, como, por exemplo, o recebimento desnecessário de cartão amarelo por algum jogador, agora estão tendo outro tratamento, visto que o fato pode – conforme lembrou um cartola – se configurar como alerta de algo suspeito.
Remo e Paysandu adotam postura de tolerância zero
O novo escândalo no futebol brasileiro vem deixando em alerta os clubes, jogadores e as empresas que atuam no segmento de apostas de jogo no país. O presidente do Clube do Remo, Fábio Bentes, de 46 anos, em conversa com a reportagem, informou que a diretoria azulina vem adotando medidas preventivas para evitar o envolvimento de atletas do clube no caso.
Se antes do surgimento da operação “Penalidade Máxima”, os jogos do time remista eram acompanhados e, depois, analisados com foco no desempenho e rendimento técnico de cada atleta, agora as partidas ganham uma atenção a mais, segundo Bentes.
“A gente monitora os lances ocorridos nas partidas da equipe”, diz o presidente. “Qualquer lance que fuja ao habitual, ao natural, é tido como algo suspeito”, explica o dirigente. Até aqui, pelo menos publicamente, nenhum caso colocou em suspeição algum atleta do Leão. Bentes informou que algumas reuniões entre o comando do clube e o elenco de atletas para tratar do assunto já foram realizadas.
“A gente tem conversado com os nossos jogadores e mostrado o prejuízo que o envolvimento em casos como esse pode trazer não só para a carreira deles, mas também para o clube que eles defendem”, salientou Bentes.
O dirigente garante que “qualquer sinal concreto de que possa estar tendo algo de suspeito, providências serão tomadas” pela direção azulina.
“Até então não temos nenhuma sinalização de que algo neste sentido tenha ocorrido em jogos da nossa equipe”, assegura. Entre os patrocinadores do futebol do Clube do Remo existe pelo menos uma empresa ligada ao ramo de apostas eletrônicas do futebol. Isso, no entanto, não significa absolutamente nada, visto que as próprias plataformas, assim como os clubes, são consideradas até o momento as principais vítimas das máfias ligadas à manipulação de lances e resultados ligados aos jogos dos times.
PREOCUPAÇÃO ANTIGA
De acordo com o presidente do Paysandu, Maurício Ettinger, de 64 anos, antes mesmo do surgimento da operação Penalidade Máxima desencadeada pelo MP de Goiás, o tema já vinha sendo abordado pelo clube de forma preventiva em relação aos jogadores.
“Em todo início de temporada, a direção se reúne com atletas e integrantes da comissão técnica exclusivamente para tratar desse assunto. Todos eles (jogadores) assinam um documento de norma interna no qual falamos diretamente sobre esse assunto e sobre a participação deles nesse tipo de atividade”, afirmou o dirigente, por intermédio da assessoria bicolor.
Ettinger ressaltou em seu depoimento que a ação da diretoria do Papão teve início há quase quatro anos. “Lembro que a primeira vez que fizemos isso foi em 2019, quando esse mercado começou a se expandir. Desde aquela época, a nossa intenção nas reuniões é de conscientizar o grupo inteiro sobre as consequências e riscos para quem se deixa levar por esse tipo de situação”, contou “Mas confiamos no valor e no caráter das pessoas que foram escolhidas para estar aqui e temos certeza de que nenhum desses profissionais agiria dessa forma. É um assunto muito sério e grave e que não podemos permitir que ele tire o brilho do futebol”, comentou.
Assim como já vem ocorrendo em alguns clubes, nos quais atletas foram afastados das atividades do time, o Paysandu, segundo seu presidente, adotará linha dura em caso de suspeita ou envolvimento concreto de qualquer jogador de seu elenco com algo ilegal em jogos da equipe, seja para beneficiar apostadores de jogos eletrônicos ou outras atividades criminosas.
“Qualquer tipo de má conduta requer punições severas, então nesse caso não seria diferente. O Paysandu jamais compactuaria com algo ilegal, até porque o clube fatalmente poderia ser prejudicado em uma situação como essa, então não há como tolerar ou aceitar algo do tipo”, avisa o dirigente.