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Mil e uma noites alucinantes de terror: um olhar sobre a franquia Evil Dead

O ano de 1981 foi o ponto de virada para Sam Raimi e Bruce Campbell. Com a realização de “Evil Dead” – aqui no Brasil você pode escolher se chama de “A morte do demônio” ou “Uma noite alucinante” –, os dois amigos, tomando como exemplo a primeira possuída do seu filme, Cheryl, arrebentaram as correntes do porão e subiram ao estrelato do horror. Vista hoje, a produção, mesmo envelhecida, ainda guarda resquícios da sua força revolucionária.

O medo, de fato, fica de lado, mais de quarenta anos depois. Uma razão é que a mitologia da franquia avançou em outros filmes e na série derivada muitas vezes pesando a mão na comédia – o que de forma alguma é um demérito. Mas o que importa é que a sensação de inquietação do longa de 1981. Aquele incômodo permanece. É uma ode ao grotesco. E muito disso se deve ao fato do sobrenatural sair do espectro da mera sugestão e ganhar contornos extremamente violentos, com sangue jorrando por todos os lados.

Na trama, um grupo de amigos, liderado por Ash Williams, viaja para uma cabana remota na floresta e, acidentalmente, após encontrarem o livro dos mortos, ressuscitam uma antiga força demoníaca. Essa simplicidade no conteúdo contrasta com a execução. A começar pela câmera subjetiva, da perseguição pela floresta, fazendo-a ganhar vida e se tornar um personagem amedrontador – a cena do estupro é pesadíssima, assim como os closes de mutilações e demais ferimentos. Some-se a trilha sonora acertadamente um tom acima, é certeza de taquicardia.

“Evil Dead” tem essa energia anárquica, que guarda até hoje, inclusive. Embora na época ela tenha sido resultado da falta de recursos financeiros e da pura vontade dos seus realizadores, que foram, dessa forma, levados à ousadia, à experimentação com a linguagem cinematográfica. Um exemplo é o uso de ângulos holandeses, ou seja, enquadramentos feitos com a câmera inclinada. A ordem era causar desorientação no espectador, criar o caos, mostrar que aqueles personagens estavam à mercê de uma força sobrenatural. Missão cumprida com louvor.

Outro aspecto técnico formidável é o uso do stop-motion para dar o efeito de “derretimento” dos demônios. Claro, hoje tais sequências podem ser consideradas toscas, mas, ora, tratava-se de um projeto basicamente de jovens estudantes apaixonados por cinema e o que eles fizeram com o que tinham em mãos foi admirável – e, sim, assustador para a época. Fazer esse resgate histórico é imprescindível para a análise do filme, que está, sem dúvida, entre os maiores exemplares do gênero e fundou as bases para uma das melhores franquias de terror do cinema.

O LEGADO

Os filmes de Evil Dead, cada um com a sua proposta, são grandes acertos – Fotos: Divulgação

Não há uma produção sequer que seja ruim com o selo “Evil Dead”. A continuação, de 1987, por exemplo, tem uma cena clássica: Ash mergulha na insanidade quando toda a cabana explode em gargalhadas, zombando do seu desespero. Assim, ele também começa a rir de forma descontrolada ao lado de uma cabeça de cervo empalhado e demais objetos inanimados. É bizarro, cômico e perturbador ao mesmo tempo. Perfeito. Sem contar que, neste mesmo filme, temos o balé macabro de Linda, a namorada de Ash, que foi decapitada por este após ser possuída, dançando à luz do luar.

Depois disso, Ash ainda vai para a Idade Média lutar contra a sua versão maligna e um exército de esqueletos, em uma terceira parte maravilhosamente cômica, com inúmeras referências à cultura pop, de “O dia em que a Terra parou” até “As viagens de Gulliver”. Não custa lembrar que é aí também que são inseridos detalhes como a existência de três livros dos mortos, o que enriquece a mitologia da saga.

O personagem de Bruce Campbell retornaria mais tarde na série “Ash vs Evil Dead”, que teve três temporadas, neste mesmo estilo caricatural e nonsense, como o grande herói que precisamos e merecemos para combater os deadites – como são chamados os demônios. Lá, ele é a grande estrela e brilha imensamente, com suas tiradas sacanas e canastrice habitual.

Mas, para além de Ash, que foi por esse caminho sem volta do humor, a franquia abriga duas obras que bebem das raízes do horror implementado em 1981. Em 2013, Raimi e Campbell ficaram na produção executiva e Fede Alvarez dirigiu um elenco de novatos. Foi um banho de sangue, feito para chocar. E consegue. O filme transpira violência e a opção por efeitos práticos em detrimento da computação gráfica é um acerto, pois torna o filme mais cru, mais verossímil – fora que isso honra o espírito do original. Há alguns fanservices, mas todos inseridos organicamente na narrativa, sem prejuízo a quem não estiver familiarizado com os anteriores.

Por fim, no recém-lançado “Evil Dead – A Ascensão”, sai a cabana e entra um prédio de Los Angeles. Mas o isolamento, crucial para o desespero crescente das vítimas, continua, assim como a ferocidade das investidas demoníacas, recriando cenas icônicas, agora em um novo espaço, o que dá um ar de originalidade ao longa – os galhos da floresta sendo substituídos pelas engrenagens de um elevador são igualmente aterradores. A substituição de um grupo de amigos por um núcleo familiar também eleva a tensão. De resto, é puro “Evil Dead”: litros de sangue despejados na sua cara, alguém idiota o suficiente para ler passagens do livro dos mortos e pronto. Que a batalha continue – eternamente!

ONDE ASSISTIR:

Evil Dead – A morte do demônio (1981)

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  • Amazon Prime Video (para alugar)
  • Apple TV (para alugar)

Evil Dead 2 – Uma noite alucinante (1987)

  • Google Play (para alugar)
  • Apple TV (para alugar)
  • Microsoft (para alugar)

Evil Dead 3: Army of Darkness – Uma noite alucinante 3 (1992)

  • Amazon Prime Video (para alugar)
  • Apple TV (para alugar)

Evil Dead – A morte do demônio (2013)

  • HBO Max
  • Now
  • Claro Video (para alugar)
  • Amazon Prime Video (para alugar)
  • Microsoft (para alugar)
  • Apple TV (para alugar)

Ash vs Evil Dead (2015-2018)

  • Darkflix (primeira temporada)

Evil Dead Rise – A morte do demônio: Ascensão (2023)

  • Nos cinemas

*Fale com o colunista: [email protected]