Uma das principais tradições culturais do Pará e um dos mais importantes festivais de ópera do país abre sua 22ª edição nesta terça-feira (9), às 20h. Destaque na cena lírica nacional e internacional, o Festival de Ópera do Theatro da Paz, que leva o nome da primeira casa de espetáculos construída na Amazônia, terá a abertura da programação com apresentação da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP) e do coro infantil da Fundação Amazônica de Música (FAM).
Com diversas novidades, a nova temporada está orçada em aproximadamente R$ 1,7 milhão, e se constitui hoje em três frentes distintas: a frente artística, com as óperas, recitais e concertos; a frente pedagógica com o projeto “Academia de Ópera”, que oferece uma formação continuada para cantores líricos paraenses; e a frente social, com o projeto “Sons de Liberdade”, criado por meio de parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), com objetivo de capacitar custodiadas e custodiados do sistema penal para futura reinserção no mercado de trabalho, por meio da cadeia produtiva da ópera.
Na programação artística, a primeira apresentação acontece nos dias 23 e 24 de maio, com a ópera bufa “Auto da Compadecida”, de Tim Rescala. A obra é baseada na peça homônima de Ariano Suassuna, e o texto foi adaptado pelo próprio Rescala, ao lado do maestro Rodrigo Toffollo, diretor artístico e regente titular da Orquestra Ouro Preto.
Publicado em 1955, o “Auto da Compadecida” criou figuras que se tornaram marcantes na história do teatro brasileiro: João Grilo e Chicó, duas pobres almas sábias que jogam com as desvirtudes dos demais personagens; o padeiro e sua mulher, avaros, ciosos de um frágil status social; o Padre e o Bispo, interesseiros, racistas, desonestos e o cangaceiro Severino. Todos, com exceção de Chicó, acabam mortos, são julgados por Jesus e o Encourado, e defendidos por Nossa Senhora.
De acordo com Daniel Araújo, diretor do Theatro da Paz, o festival deste ano vai seguir em duas direções. “Uma direção é confirmar nossas relações com teatros já parceiros, como o Teatro Amazonas, por meio do Corredor Lírico do Norte, e com Minas Gerais, por meio do Palácio das Artes e da Orquestra de Ouro Preto. A outra direção é a inclusão de óperas contemporâneas: ‘O Menino Maluquinho’, do Amazonas e ‘O Auto da Compadecida’, produzida por Minas Gerais”, explica o diretor.
ACESSÍVEL
Partindo do princípio de que a cultura deve ser acessível a todos, sem distinção, o Festival de Ópera do Theatro da Paz vem, ao longo de mais de duas décadas, estabelecendo conexão com diversos públicos. O evento cultural, atualmente, gera cerca de mil postos de trabalho a cada ano, fortalecendo a indústria da ópera e movimentando o setor de serviços e turismo.
Por meio do projeto “Sons de Liberdade”, são realizadas oficinas de capacitação voltadas às artes performáticas, como cenotécnica, figurino e visagismo, ministradas por profissionais que atuam no evento, consolidando o Theatro da Paz como um teatro-escola. Além disso, o festival tem se alinhado aos debates globais, e vem se transformando em um ecofestival, se engajando em defesa da sustentabilidade.
Em 2023, o tema escolhido foi “Vozes ecoando Amazônia”, avançando nessa ideia com a preparação de toda a cadeia produtiva da ópera para receber o maior evento climático do mundo – a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) – que acontecerá em 2025, e tem Belém como cidade candidata à sede.
“Nosso Festival de Ópera do Theatro da Paz implementou, ao longo dos últimos anos, processos hoje já consolidados de formação profissional e inclusão social. E esse perfil é um dos mais importantes diferenciais desta política pública de acesso à cidadania cultural. As récitas, galas líricas e concertos são sempre lotados e, da plateia aos bastidores, nos deparamos com histórias de vida que se transformam por meio do contato com a arte e com os fazeres artísticos”, diz a secretária de Cultura do Pará, Ursula Vidal.
“A cultura sempre será uma importante ferramenta de transformação social. E a ópera, pela dimensão de sua estrutura produtiva, alcança impactos de grande escala”, completa a titular da Secult.
* Com informações de assessoria.