Notícias

Sem roteiristas, não há histórias

Há 16 anos, greve de 100 dias afetou produção de séries como “Lost”. FOTO: divulgação
Há 16 anos, greve de 100 dias afetou produção de séries como “Lost”. FOTO: divulgação

Roteiristas de cinema e televisão dos EUA entraram em greve na última terça-feira (2), a partir de anúncio do sindicato da categoria, após o fracasso inicial nas negociações de salários e condições de trabalho entre os profissionais e os grandes estúdios. A mobilização deve afetar toda a indústria de entretenimento americana e também pelo mundo, já que parte do conteúdo de streaming catalogado no mundo vem de produções em território americano.

Para se ter uma ideia, os roteiristas são responsáveis pelos textos de filmes e episódios de séries, mas também de documentários, programas de televisão e até reality shows. Na última paralisação, em 2007, as atividades ficaram paradas por cem dias, o que custou à indústria do entretenimento do país US$ 2 bilhões, além de uma sequência de filmes e séries prejudicadas em plena produção (como o sucesso “Lost”) e outras sendo atrasadas ou canceladas.

Quem vê astros e diretores milionários, além de produtores com grande poder na indústria do cinema americano, não sabe que no restante da cadeia de produção, que envolve muita gente, a situação é bem menos favorável. Contratos com baixa remuneração, prazos exíguos e espaços de trabalho insalubres.

Para piorar, os roteiristas dizem que o sistema de trabalho de streaming piorou, principalmente na relação dos direitos autorais e dos pagamentos. Os roteiristas exigem salários mais altos e uma participação maior nos lucros do streaming. Por outro lado, estúdios estariam tentando contratá-los em regime jurídico, sem vínculos empregatícios ou direitos.

É importante acompanhar o desenrolar dessa disputa para entender como os estúdios e plataformas irão se comportar, já que estão em conflito inclusive com seu modelo de negócios, entre as bilheterias de cinema e audiência na internet, pois se os serviços de streaming se mostraram atrativos no início, estes começam a ter a bolha furada por falta de retorno dos investidores e a limitação de novos investimentos, além da baixa qualidade de muitos dos produtos lançados.

Outro nó a ser desatado nessa questão é a atual evolução das inteligências artificiais. Os roteiristas querem que haja limitação para o uso de ferramentas de AI na construção dos roteiros, mas os estúdios não fecharam questão sobre isso.

É uma situação que promete ter muita briga e que deve ser vista com atenção por quem gosta de cinema e cultura pop. Afinal, os roteiristas são parte importante dessa estrutura e merecem condições dignas de trabalho.