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Banco Central mantém juros em 13,75%

A decisão veio em linha com a expectativa de vários economistas, mas a visão do BC não era unanimidade no mercado.

FOTO: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
A decisão veio em linha com a expectativa de vários economistas, mas a visão do BC não era unanimidade no mercado. FOTO: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Nathalia Garcia/Folhapress

 

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central não alterou sua estratégia nesta quarta-feira (3) e manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, em sua primeira decisão após a apresentação do novo arcabouço fiscal pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em tom conservador, o colegiado do BC voltou a dizer que a conjuntura demanda “paciência e serenidade” e manteve a mensagem sobre a possibilidade de voltar a elevar a Selic caso o processo de desinflação não transcorra como esperado, acrescentando que se trata de um cenário menos provável.

“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, disse o BC no comunicado.

A decisão do colegiado do BC veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro de que os juros ficariam estáveis pela sexta vez consecutiva a terceira desde que Lula tomou posse.

Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa praticamente unânime entre os analistas consultados apenas um apostava em redução de 0,25 ponto percentual.

A desaceleração da inflação indicada pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) em abril intensificou o debate público sobre a política monetária adotada pelo BC. Na semana passada, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, foi ao Senado em duas ocasiões para falar sobre o tema.

Na terça (25), o chefe da autarquia participou de uma audiência na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) e, dois dias depois, integrou uma sessão de debate no plenário sobre juros, inflação e atividade econômica ao lado dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento).

As declarações dadas por Campos Neto não apaziguaram a tensão com membros do governo, que vêm pressionando a autarquia para diminuir os juros.

Na segunda-feira (1º), no Dia do Trabalho, Lula voltou a criticar o patamar da Selic, dizendo que a taxa de juros “controla, na verdade, o desemprego”. Em entrevista à Folha, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, chamou Campos Neto de “empata gol” na economia.

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação para este ano se mantiveram em 5,8% e, para 2024, em 3,6%. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, ou seja, 2024, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023 e 2,9% para o ano que vem.

Em sua avaliação de riscos para a inflação, o BC manteve o balanço simétrico. Entre os fatores que puxariam os preços para cima, a autoridade monetária cita “a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco”.

O colegiado também incluiu a persistência das pressões inflacionárias globais e uma deterioração maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.