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Sociólogo Henrique Bortoluci lança o livro "O Que É Meu" em Belém

“O Que É Meu” é um ensaio biográfico que tem como ponto de partida entrevistas realizadas por Bortoluci com o pai, que durante 50 anos foi motorista de caminhão FOTO: CAIO OVIEDO/DIVULGAÇÃO
“O Que É Meu” é um ensaio biográfico que tem como ponto de partida entrevistas realizadas por Bortoluci com o pai, que durante 50 anos foi motorista de caminhão FOTO: CAIO OVIEDO/DIVULGAÇÃO

Aline Rodrigues/Diário do Pará

O escritor, doutor em sociologia e professor da Fundação Getúlio Vargas, José Henrique Bortoluci, lança hoje, 4, às 19h, em Belém, seu livro “O Que É Meu”, um ensaio biográfico que tem como ponto de partida entrevistas realizadas com o pai, que durante 50 anos foi motorista de caminhão, para retraçar a história recente do país e da própria família, em uma tentativa de reunir os caminhos. A noite de autógrafos será na Livraria Travessia.

“Belém é uma das cidades em que eu gostaria de lançar o livro. Era um sonho, na verdade, porque o Pará é muito importante para essa história do meu pai. É o estado onde ele passou mais tempo como caminhoneiro, no período em que muitas estradas estavam sendo construídas, usinas, muita coisa de infraestrutura, nos anos 1960 e 1970”, conta o autor, entregando em seguida que a cidade também foi destino da lua de mel de seus pais.

“Meus pais fizeram uma lua de mel, como eu conto no livro, na boleia do caminhão. Saíram de Jaú, uma cidade de São Paulo, onde eu nasci, e eles sempre vieram para Belém deixar carga. Foi a cidade mais longe a que minha mãe foi, e foi com meu pai. Era uma cidade onde meu pai passava sempre, então eu cresci ouvindo falar em Belém, no Ver-o-Peso, na região portuária e as aventuras todas do meu pai por ali, a lua de mel e os amigos”, diz Bortoluci, que está vindo a Belém pela segunda vez.

“É uma cidade que está muito no meu coração, então é um sonho que estou realizando de lançar o livro em Belém”, acrescenta o autor.

ESTREIA MUNDIAL

“O Que É Meu”, livro de estreia do autor, será publicado em dez idiomas por editoras de prestígio como Fitzcarraldo, Grasset, Iperborea, Aufbau, Literatura Random House, Nordsedts e Aschehoug. A ideia de escrever a obra veio de um desejo antigo de Bortoluci de recordar as histórias do pai, e pelas diferenças entre a sua vida e a dos pais.

“Meus pais eram muito instigantes para mim, a vida toda. Mais recentemente, eu estava buscando outras formas de escrita, distante da escrita acadêmica a que estou bastante acostumado, e me veio especificamente essa ideia de escrever um livro que cruzasse tanto a história dele com a história da classe dos caminhoneiros também”, diz o autor.

Ele considera essa uma categoria profissional muito importante para entender o Brasil e a história do país, “principalmente o histórico da construção do território brasileiro, das violências associadas com a construção de estradas e grandes obras de infraestrutura, uma violência dos povos que são diretamente afetados, mas também para os corpos dos trabalhadores”.

Isso também se tornou importante para a narrativa que Bortoluci constrói no livro. “É um cruzamento de interesses antigos com novos desejos de escrita e um desejo de contar essa história nesses cruzamentos”, conta o autor, que tem como objetivo principal mostrar que, a partir da história de um homem comum, de um trabalhador, caminhoneiro, é possível contar a história de um país, de um povo, território, e que essas histórias de pessoas comuns têm riqueza.

“O segundo objetivo é descobrir outras formas de escrita. Para mim foi muito rico esse processo de começar a me ver como um escritor além de um acadêmico”, pontua.

Durante o processo de construção de “O Que É Meu”, o escritor descobriu muitas coisas que eram suas nessa história, muitos pontos de encontro entre a sua vida e de seus pais que, na visão dele, ao olhar de forma rápida não se percebe.

“Eu sou doutor em sociologia, universitário, fiz doutorado nos Estados Unidos, e ele é um trabalhador, estudou até a terceira série. Olhando muito rápido, não dá para se perceber, mas examinado com mais atenção, mais escuta, a gente começa a perceber os esforços dos dois em construir um mundo juntos, de afeto, cuidado, às vezes um desentendimento de incompreensão, mas com respeito. Acho que isso é muito meu, construído na relação com meu pai e no processo de escrita do livro”, confessa.

Bortoluci diz que o livro também o ajudou no exercício de autocompreensão da sua história, a entender que existe um jeito que é seu, de falar de forma clara das coisas das ciências sociais, que podem ser exploradas com uma outra linguagem, com outro tipo de olhar e escrita.

O livro é narrado em duas vozes, a do autor e a voz que ele constrói a partir dos relatos do próprio pai, relatos gravados ou anotados. “O livro todo vai intercalando a minha voz com a voz do meu pai, isso está bem marcado no texto. E a divisão dos capítulos tem tanto a ver com um pouco de contar a história linear do meu pai, mas também tem o tempo todo nos capítulos, coisas do tempo presente”.

Uma das das questões do presente mais importantes é que quando Bortoluci começou a escrever o livro, o pai foi diagnosticado com um câncer no intestino. “Então, o livro todo é marcado pelo fato de eu ter escrito durante o tratamento de um câncer bastante sério, num homem idoso, com outros problemas de saúde, coração, rim, próstata, enfim, uma série de outros problemas. Ao longo dos capítulos, fico intercalando tanto essas vozes quanto o passado e o presente para a construção desse cruzamento”, descreve o autor.

NOITE DE AUTÓGRAFOS

Lançamento do livro “O Que É Meu” – Henrique Bortoluci
Quando: Hoje, 4, às 19h
Onde: Livraria Travessia (Trav. Alcindo Cacela, 1404 – Nazaré)
Quanto: Entrada franca.