Pará

Idosos estão "on-line" nas redes sociais

Foto: Wagner Almeida
Foto: Wagner Almeida

Luiz Flávio

Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban-Ipespe), intitulada “A Inclusão Digital dos Idosos”, mostra que 85% destas pessoas utilizam a Internet todos os dias ou quase todos os dias, e apenas 14% usam algumas vezes por semana.

O levantamento mostra ainda que 34% dos entrevistados acima de 60 anos usam a Internet para fazer consultas online, enquanto 75% usam serviços bancários digitais. Do total, 75% usam a Internet para assistir a vídeos via streaming. Além disso, 78% baixam aplicativos no celular, mas 85% utilizam a Internet para acessar as redes sociais.

Já o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), que monitora a adoção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no Brasil, aponta que o número de acessos dos usuários acima de 60 anos na Internet cresceu de 34%, em 2019, para 54% em 2021.

A realidade é uma só: a população idosa tem incorporado cada vez mais hábitos online na rotina diária e vem se conectando mais em busca entretenimento e serviços ,do que por motivos de saúde. A criadora de conteúdo digital Vera Lúcia Borges é um exemplo dessa realidade. Com 70 anos e aposentada desde os 60, a advogada usa seu tempo para viajar e conhecer novos destinos pelo Brasil e pelo mundo para ampliar sua rede de amigos e contatos, além de praticar filantropia.

“Sou voluntária há 18 anos numa creche muito pobre na cidade de São Vicente, perto de Santos, onde moro, chamada Creche da Vovó Alaíde. Depois que me aposentei, como sempre gostei de viajar, pensei que poderia fazer algo para ter mais visibilidade e poder ajudar mais as 87 crianças lá da creche”, comenta.

Foi aí que a aposentada resolveu reativar seu Instagram que não tinha quase nada. “Aprendi a utilizar essa ferramenta e comecei a mostrar a realidade dessas crianças, a necessidade que elas têm de alimentos. Com algumas parcerias, consigo o que necessito para auxiliá-las. Foi assim que conheci muitas outras pessoas que sempre me ajudam”, conta.

Ampliando a rede de contatos, Vera começou a descobrir outros lugares do Brasil todo e até do exterior. “Tive a oportunidade de conhecer muitos destinos interessantes e lindos nesse mundão e ainda unir tudo isso ao meu maior objetivo: dar visibilidade à creche e conseguir os recursos para ajudá-los…”

Segundo ela, as redes a ajudam para que esteja sempre se desafiando. “Aprendendo, tentando fazer algo interessante, descobrindo lugares lindos e sempre estar sonhando com a próxima viagem…”.

A conexão dos idosos nas redes sociais também foi bastante acelerada pela pandemia da Covid-19, que mudou sobremaneira os hábitos da rotina e a comunicação interpessoal seja através de interações sociais ou realizando tarefas essenciais do dia-a-dia, como comprar, cuidar da saúde, buscar educação ou entretenimento. A conectividade trouxe mais autonomia e conveniência para o dia-a-dia, inclusive para os idosos.

Redes sociais são práticas e aproximam

Projeções do IBGE mostram que até 2060 um quarto da população brasileira vai ter mais de 65 anos, serão 58,2 milhões de idosos. Ou seja, cada dia mais a população sênior estará mais conectada. Pesquisa global que inclui brasileiros, publicada no relatório do Tgi Trends, revela que, entre 2015 e 2022, houve um aumento significativo na proporção de adultos com mais de 65 anos usando as redes sociais por semana. O Facebook foi a principal delas, passando de 11% em 2015 para 67% em 2022.

Isso quer dizer que para cada novo usuário do Facebook com idade de 15 a 24 anos, uma média de 6 novos usuários acima de 65 anos começaram a utilizar a plataforma no mesmo período.

Apesar do avanço da integração de idosos com a Internet, a pesquisa da Febraban mostra que 52% das pessoas na faixa acima de 60 anos afirmaram nunca ter ouvido falar de inclusão digital para os idosos, o que é um desafio para ampliar as oportunidades de negócios dentro ou fora do ambiente digital.

Bancária aposentada da Caixa Econômica Federal, Arminda da Cunha Pinho, 85 anos– “muito bem vividos”, como costuma dizer – é de uma era totalmente analógica, onde a utilização de computadores e smarthphones era uma realidade muito distante e inimaginável. Ainda assim, apesar da idade, sempre procurou de adaptar às tecnologias impostas pela vida moderna.

Por falta de paciência, Arminda decidiu priorizar os aplicativos de mensagens no seu dia-a-dia. “Pelo Whatsapp faço tudo na minha vida, desde marcar minhas consultas médicas, aulas, atividades físicas, meus grupos de oração até os bingos, festas e comemorações com amigos. A internet facilita muito a nossa vida!”

Ela, que tem computador em casa, disse que se pudesse agradeceria pessoalmente ao inventor das redes sociais. “É uma ferramenta primordial na nossa existência. Graças às minhas secretárias e sobrinhos consigo enfrentar as barreiras tecnológicas e hoje estou perfeitamente adaptada!”, garante.

A aposentada Alda Célia Almeida, 75, casa, 3 filhos e 4 netos mantém atividade constante na internet e redes sociais. Tanta que chega a gerar reclamações na família. “Muitas vezes perco a noção do tempo e meus filhos e netos me chamam atenção e reclamam que não consegue falar comigo por causa desse vício, podemos dizer assim”, afirma.

Ela conta que está em vários grupos no Whatsapp e constantemente está em eventos (chás, aniversários, almoços e passeios) com suas amigas nos mais variados lugares. “Tenho muito cuidado em me expor para pessoas que não conheço. Já fiz algumas amizades, mas hoje a internet apresenta tantos riscos que prefiro me resguardar mais. Não aceito qualquer pessoa nas minhas redes”.

Alda é funcionária aposentada da Aeronáutica e conta que seus filhos tinham muito medo que ao se aposentar, ficasse depressiva. “Sempre viajei muito. Era muito ativa e recebi um convite para integrar um grupo de envelhecimento saudável onde dança, canta num coral e realiza atividades físicas e a internet me ajudou muito nesse processo de encarar o envelhecimento de maneira saudável. Não podemos parar no tempo. Jamais! ”, aconselha.

Alda Célia Almeida FOTO: Celso Rodrigues 
Arminda Pinho FOTO: Wagner Almeida 
Vera Lúcia Borges FOTO: reprodução