Não são poucas as vezes que o cinema comercial, principalmente o americano, recorre a animais como antagonistas de filmes de horror, principalmente. Bichos assassinos existem desde os primórdios da sétima arte, quando não havia CGI, mas sobravam filmagens em perspectivas, stop-motion e até fantasias toscas. Entre um e outro clássico absoluto (“Tubarão”, “Os Pássaros”), aparecem aquelas obras onde faltam orçamento e competência, mas sobra criatividade. Já tivemos de tudo: ratos, cobras, aranhas, cachorros, formigas, castores, crocodilos e até lampreias. Os tubarões, coitados, já atacaram em formato de tornados, na areia e até possuídos por demônios.
Mas acho que ninguém nunca pensou em criar uma ursa cheirada de cocaína. Com elementos baseados em história real (realmente um urso comeu a droga que caiu de um avião, mas morreu de overdose logo em seguida), em “O Urso do Pó Branco”, a diretora Elisabeth Banks transforma essa premissa absurda em uma comédia de erros com personalidade, mas com alguns percalços que tiram o pouco da experiência que poderia ter sido com um roteiro mais enxuto e foco em menos personagens.
O maior problema aqui é a indecisão da diretora em reconhecer a surrealidade da trama e perder tempo demais com pequenos dramas de personagens que, mais para frente, não terão sentido ou significado para a história. E também não consegue abraçar totalmente o nonsense típico de um filme de terror B, mesmo que carregue algumas cenas de mortes com muito gore (afinal, são ataques de uma ursa cheirada!). Em um filme com esse nome, a gente sempre espera que tudo vá até o limite do ridículo.
Pela demora em estabelecer uma narrativa minimamente coesa, deixamos de apreciar os momentos coletivos ou de interação com o animal, que parecem mais apressados. A cena final, na cachoeira, parece muito deslocada do restante da história, por exemplo.
Por outro lado, os efeitos especiais se destacam e a criatura, mesmo criada em efeitos especiais, soa factível, um feito, lembrando que se trata de uma produção de baixo orçamento.
Outra conquista admirável de Banks foi conseguir reunir um elenco tão diverso e talentoso, com o qual ela deve ter pago cachês só pela amizade. Destaque para o veterano Ray Liotta, falecido ano passado, em seu último trabalho.
Com pelo menos cinco núcleos de personagens para dar conta, a cineasta e atriz divide a trama entre o tresloucado geral, gags visuais divertidas, algum suspense, além de subtextos sobre maternidade e preservação ambiental. É um típico filme que passaria na Sessão da Tarde, se não fossem as tripas expostas ou membros arrancados. De qualquer forma, vale uma sessão regada a pipoca e risadas com os amigos.