Único pecado foi o desperdício
Pela lei natural das coisas, que não regem o futebol, o Remo poderia ter vencido por 3 ou 4 a 0. Jogou o suficiente para alcançar esse placar, perdendo três excelentes oportunidades ainda no primeiro tempo, mas o triunfo por 2 a 0 já foi o bastante para encantar a torcida que lotou o Mangueirão ontem à noite.
Fazer um gol logo de cara ajuda muito em jogos equilibrados. O Remo conseguiu isso, após contra-ataque mortal puxado por Richard Franco, um dos destaques da noite. Ele lançou Muriqui, que controlou a bola diante de Gil e tocou para Pablo Roberto na esquerda. O meia bateu rasteiro, forçando o rebote de Cássio para a finalização de Franco.
A jogada desenhada e executada com perfeição. Podia ter sido o segundo gol porque Richard Franco quase abriu o placar logo aos 2 minutos, cabeceando rente ao poste direito de Cássio.
A vantagem estabelecida no placar não trouxe acomodação ao Remo, que seguiu jogando na mesma intensidade. A bola era recuperada na defesa e os volantes Uchoa e Richard Franco acionavam de imediato os atacantes. No meio, Matheus Galdezani estreou de verdade, fazendo um bom trabalho de ligação, posicionado alguns metros atrás de Pablo.
Foi de Galdezani a segunda grande chance de gol. Bateu forte, de longe, a bola desviou e quase enganou Cássio. Em seguida, um cruzamento no segundo pau encontrou Richard Franco na disputa com a zaga paulista. Ele desviou a bola, que passou tirando tinta do poste esquerdo.
O Corinthians raramente incomodava na frente. Quando isso ocorria, Yuri Alberto não encontrava vida tranquila no embate com Ícaro e Diego Guerra, impecáveis no combate e na antecipação. Vinícius fez duas defesas fáceis em toda a primeira etapa.
Pode-se dizer, sem exagero, que o Corinthians foi para os vestiários no lucro. O placar mínimo chegou a ser injusto quanto à produção ofensiva dos dois times. O Remo, além disso, foi mais firme na retomada de bolas e eficiente nos avanços rumo à área inimiga.
O gol de Muriqui, em jogada iniciada por ele mesmo, foi uma perfeita demonstração do jogo coletivo aplicado com competência. Com oito jogadores em torno da área corintiana, a bola chegou à direita e foi cruzada para o próprio Muriqui finalizar e entrar com bola e tudo.
Um jogador foi fundamental para o excelente desempenho azulino: Pablo Roberto. Em grande fase técnica, conduziu as ações mais agudas e controlou a bola sempre com qualidade e esmero. Impressionou até a narração do canal Sportv pelo desembaraço com que se comportou em meio aos 300 volantes de Sparta que o Corinthians postou à sua frente.
Cansou no segundo tempo, coisa absolutamente natural. Mesmo assim, deu uma arrancada que quase terminou em gol. A exaustão física impediu uma finalização mais contundente. Enquanto teve fôlego, Pablo contribuiu de maneira grandiosa para a quase impecável atuação do Remo.
Pode-se dizer que o Leão só não cumpriu um jogo perfeito porque desperdiçou chances que dariam maior tranquilidade para o confronto de volta, em São Paulo, daqui a duas semanas. Mas, dentro do que era possível, o Remo realizou a sua grande atuação na temporada.
Alto rendimento do Leão redime Marcelo Cabo
Depois de ser alvejado impiedosamente pelas derrotas nos clássicos com o PSC, o técnico Marcelo Cabo conseguiu fazer as pazes com a vitória e com a torcida azulina. Em grande estilo, diga-se. A resposta veio com uma atuação taticamente impecável do Remo contra o Corinthians.
Os cartesianos empedernidos irão dizer que o Timão sofreu com a falta de um meia criativo, o que é verdade, mas isso relativiza a importância do triunfo remista, de resto inteiramente justo e merecido.
Acertou na opção por Matheus Galdezani como quarto homem no meio, o que deu a Pablo Roberto liberdade para jogar na intermediária corintiana, sem muita preocupação em voltar para marcar e à vontade para finalizações, como na bola que estourou no travessão.
Registre-se que Cabo segue ainda abusando da teimosia. Lançou Lucas Marques na etapa final dobrando a presença de laterais na direita. Podia ter deixado Diego Tavares por lá e lançar Ronald para infernizar o lento bloco de marcação do Corinthians, liderado pelo veterano Paulinho.
Além da excelente performance coletiva, o Remo teve em Pablo, Muriqui e Richard Franco seus grandes expoentes individuais.
Papão sofre derrota no Maraca, mas saiu no lucro
Quando o jogo terminou no Maracanã, ontem à noite, os jogadores do PSC manifestaram expressões de alívio e de aparente satisfação. Não entendi muito bem, mas deve ser porque o time não foi submetido à humilhação que se abateu sobre o Águia contra o Fortaleza. O Papão perdeu por 3 a 0, mas jogou de maneira aplicada e no final procurou controlar o resultado, entendendo que é possível reverter em Belém.
O Fluminense poupou o paraense Paulo Henrique Ganso, mas teve no veterano Marcelo peça fundamental para construir a vitória. Os gols, dois de bola aérea, expuseram erros primários do setor defensivo do PSC e também do goleiro Thiago Coelho, no lance do segundo gol.
No segundo tempo, porém, já perdendo por 3 a 0, o PSC ajustou mais a marcação, embora sem esboçar nenhum ímpeto ofensivo. E seguiu sofrendo com a pressão dos tricolores. Cano não fez gol, mas perdeu três boas chances, duas delas em função de intervenções precisas de Thiago Coelho, que se redimiu inteiramente.
O Flu, mesmo com a partida controlada, permaneceu no ataque o tempo todo, com intensa movimentação e a já conhecida participação dos zagueiros como peças de reforço no ataque. John Areas foi outra peça decisiva, jogando na extrema direita e criando boas situações.
O PSC fez o que estava ao seu alcance e evitou um placar mais dilatado, sem apelar ou cair na retranca braba. Saiu de campo com a tênue esperança de que pode ainda alcançar um milagre no Mangueirão.