Ana Laura Costa
O professor de inglês Ítalo Barroso, 29 anos, aproveitou a folga, pegou o equipamento fotográfico e passou na casa de um amigo, no último dia 27 de março, pouco antes de seguir para o Aeroporto Internacional de Belém, no bairro de Val-de-Cans.
Na ocasião, os dois participaram do evento Spotter Night Infraero 2023, onde registraram a chegada do Airbus A321 NEO LR (Long Range), em seu primeiro voo da quarta frequência de viagens da companhia aérea TAP, que liga Belém a Portugal, na Europa.
O evento oportunizou o encontro de fotógrafos amadores e profissionais, amantes da aviação, que puderam registrar, inclusive, o batismo da aeronave, um ritual que consiste na utilização de jatos d’água para festejar uma nova rota, homenagear a tripulação ou até a chegada de um novo modelo de aeronave.
Para o professor, que até então nunca havia presenciado a tradição, a experiência foi singular. “Foi uma oportunidade perfeita, ainda não havia presenciado um batismo e, com pessoas de outras cidades participando, o intercâmbio de informações e experiências foi muito bom!”, revelou Ítalo, um aficionado por aviação e não é de hoje.
A paixão de Ítalo pela aviação começou na infância, quando o pai o levava para eventos abertos ao público no antigo terminal de passageiros, hoje aeroporto internacional da capital. Caminhando com as próprias pernas, na adolescência, Ítalo se tornou “spotter” – que na tradução literal, significa “observador”.
O termo é originário da Segunda Guerra Mundial, quando pessoas ficavam encarregadas de avistar aviões e dar alertas sobre possíveis bombardeios. Hoje, na aviação, ser spotter está ligado à paixão pela observação, fotografia e vídeos de aeronaves.
O local preferido de ítalo eram as cabeceiras de pista do Aeroporto – que indicam ao piloto sobre a direção de pousos e decolagens das aeronaves. – Sempre sozinho e com um aparelho celular na mão, ele conta que ficava sabendo dos pousos e decolagens por meio de sites específicos e frequentava o espaço ao menos 3 vezes por semana para registrar as aeronaves.
O Spotter comenta que a fotografia tem valor importantíssimo para o registro de fatos históricos no mundo e, na aviação, não é diferente. “Ainda tenho alguns registros que fiz na adolescência, o aparelho celular que usava era um Nokia Asha 302. A fotografia conta como eram as coisas em determinado período, e para nós isso é interessante. Por exemplo, ainda tenho fotos do Boeing 747, um dos maiores aviões do mundo, que pousou em Belém, em 2013”, ressaltou.
E o amor pela aviação tem suas peculiaridades, há quem tenha preferência por registrar aeronaves exóticas, modelos militares e até colecionar os prefixos de nacionalidade – as letras estampadas na fuselagem e asas do avião – Já Ítalo preza pela diversidade de modelos na sua coleção de memórias.
“A gente costuma fazer muitas fotos de determinados modelos de avião, aí percebemos que pode estar faltando algum. No meu caso, não tenho foto do trimotor MCDonnell Douglas MD-11, e anseio preencher essa lacuna”, pontuou. Ítalo ressalta ainda as principais características para ser um bom Spotter. “Humanidade e olhar fotográfico apurado são essenciais. Muita gente acaba atrelando à qualidade do registro ou dos equipamentos, mas acredito que seja algo além disso, porque a gente precisa captar um determinado sentimento à experiência”.
Entre tantas experiências únicas e imagens registradas ao decorrer do tempo, Ítalo revela apenas um desejo para os próximos anos: espaços humanizados para que os ‘spotters’ sigam observando a história que sobrevoa, pousa e decola.
PROFISSÃO
Ser spotter é um hobby que também pode virar profissão. O fotógrafo Caio Cezar Finotelo, 29, que também faz parte da ‘tripulação’ de entusiastas por aeronaves, se mantém com a prática. Eclético, Caio destaca que para ele, fotografar no período diurno é a melhor escolha. Quanto aos modelos, as preferências são por aeronaves executivas; táxis aéreos; cargueiras, aviões comerciais e um pouco de asas rotativas.
A história de Caio com a aviação, começa ainda nos primeiros meses de vida. A casa em que morava com a mãe, no bairro da Sacramenta, era próximo ao extinto Aeroclube do Pará, rota de pouso para a pista 02 do Aeroporto Internacional de Belém. “Ao ouvir o som de alguma aeronave em procedimento de descida, eu saía engatinhando rumo à porta dos fundos de casa para ver o que era”, revelou o fotógrafo. A partir dali, quase todos os finais de semana, dos 8 meses de vida até aos 13 anos de idade, os familiares o levavam aos aeroportos para apreciar os transportes aéreos que seriam o seu principal objeto de trabalho atualmente.
Uma câmera analógica de uma tia e muita curiosidade foram as principais ferramentas para que Caio começasse a fotografar as aeronaves, aos 6 anos de idade. Os primeiros registros foram do famoso avião anfíbio Catalina da Força Aérea Brasileira (FAB), tombado como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2022. Atualmente, ele usa uma câmera digital de superzoom. Mas, para Caio, quem quer ser um bom spotter, não pode esquecer de carregar o principal equipamento: o amor pela fotografia de aeronaves.
Coincidentemente, Ítalo e Caio, compartilham de registros históricos que os marcaram, com o mesmo modelo de aeronave como protagonista. Em 2008, Caio fotografou pela primeira vez um “Jumbo”, o Boeing 747 da empresa estrangeira Air Bridge Cargo. Para ele, um momento simbólico, que todo spotter apaixonado sabe identificar e abraçar.
“Estava vindo da escola e avistei ele estacionado em uma posição remota no principal pátio do aeroporto. Fiquei surpreso, pois naquele ano ainda não existia aplicativos de rastreamentos de voos disponíveis ao público. Então, liguei para a minha mãe que me levasse ao aeroporto, explicando que tal aeronave estava em solo. Ela me buscou, mesmo debaixo de uma chuva torrencial”, encerrou