THIAGO AMÂNCIO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A acusação que colocou Donald Trump como o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos no banco dos réus vai além da compra de silêncio da atriz pornô Stormy Daniels e envolve pagamentos a outras duas pessoas durante a campanha de 2016: uma ex-capa da Playboy e até um porteiro que dizia ter muita história para contar do então candidato.
Os detalhes do processo contra Trump vieram a tona nesta terça-feira (4), quando ele se tornou oficialmente réu por 34 acusações de falsificação de registros comerciais. Na acusação formal contra o ex-presidente, o promotor Alvin Bragg afirmou que Trump “falsificou repetida e fraudulentamente registros comerciais em Nova York para ocultar conduta criminosa que escondia dos eleitores informações prejudiciais durante a eleição presidencial de 2016”, resumiu, ao afirmar que os envolvidos violaram leis eleitorais do estado.
Todo o caso envolve o tabloide National Enquirer, vendido em supermercados. Em uma reunião na Trump Tower em agosto de 2015, quando o empresário anunciou que se candidataria à Casa Branca, David Pecker, editor-executivo da American Media Inc. (AMI) -proprietária do tabloide à época- concordou em ficar de “olhos e ouvidos” abertos durante a campanha para notícias que pudessem prejudicar Trump, segundo a acusação.
Meses depois, no fim do mesmo ano, o National Enquirer descobriu que um porteiro da Trump Tower estava tentando vender informações sobre um filho que Trump teria tido fora do casamento. A editora então comprou a história com exclusividade por US$ 30 mil para impedir sua divulgação. Segundo a promotoria, Pecker falsificou o lançamento do pagamento em seus registros comerciais. A revista, mais tarde, concluiu que a história era falsa, mas o então advogado de Trump, Michael Cohen, instruiu a editora a não liberar o porteiro do acordo realizado até que passassem as eleições.
No ano seguinte, em junho de 2016, o tabloide descobriu que uma mulher alegava ter tido um caso com Trump anos antes, segundo a acusação –que não traz o nome de Karen McDougal, ex-modelo da Playboy. Pecker então pagou US$ 150 mil (R$ 761,4 mil) à modelo e também falsificou o registro do pagamento, diz a promotoria, com a condição de que seria reembolsada por Trump ou sua empresa.
Uma conversa em áudio de setembro daquele ano, pouco antes da eleição, mostra Trump e Cohen discutindo a melhor maneira de fazer o pagamento. Dias depois, a AMI falsamente “vendeu” a história para uma empresa fantasma criada por Cohen, no que seria uma maquiagem do pagamento.
O último caso é o da atriz pornô Stormy Daniels, em um acordo fechado em um momento ruim da campanha, quando foi divulgado vídeo de Trump dizendo que agarrava mulheres “pela vagina”. Preocupados com a imagem de Trump no eleitorado feminino, um editor da AMI avisou a chefia da empresa sobre uma nova mulher que alegava ter tido um caso com Trump enquanto ele era casado. A editora avisou Cohen, que fez um acordo, sob ordem de Trump, para pagar a Daniels US$ 130 mil. Trump chegou a orientar que atrasasse o pagamento o máximo possível, até depois das eleições. Por volta de 26 de outubro, Cohen abriu uma empresa fantasma que fez o pagamento à atriz, segundo a denúncia.
Trump venceu aquela eleição contra Hillary Clinton e tomou posse em 20 de janeiro em 2017. Durante a transição, encontrou-se com Pecker, agradeceu a ele por lidar com os escândalos e o convidou para a posse. Já no cargo, chegou a receber o editor em um jantar na Casa Branca, segundo a promotoria.
Na cadeira de presidente, Trump teve que reembolsar os pagamentos. Em fevereiro de 2017, reuniu-se com Cohen no Salão Oval para combinar os detalhes do dinheiro, diz a acusação, e concordou em pagar a ele US$ 420 mil pelos serviços, em doze parcelas mensais de US$ 35 mil ao longo de 2017. A cada mês, o advogado deveria lançar uma nota solicitando pagamento por honorários advocatícios, o que caracterizou o falseamento de gastos de campanha acusado pela promotoria.
O caso já havia sido analisado por procuradores federais em 2018, quando todo o escândalo veio à tona. Os investigadores consideraram o episódio uma violação das regras de financiamento de campanha, e Cohen se declarou culpado. Ele ficou preso entre 2019 e 2020. Procuradores chegaram a escrever que o advogado “agiu em coordenação e sob direção” do então presidente, mas Trump nunca foi processado em nível federal.
Trump nega as acusações, afirma que o caso é uma caça às bruxas e diz que o promotor promove interferência eleitoral, já que o republicano é pré-candidato à eleição da Casa Branca do ano que vem.