Diego Monteiro
“Este é um lugar maravilhoso, cheio de sonhos e de histórias”, é desta forma que o Reginaldo Farias, 73 anos, se refere ao local em que mora há 40 anos, na Cidade Nova II. Para quem conhece a região, localizada no município de Ananindeua, sabe que existem ainda outros bairros com o mesmo nome e o que muda entre um e o outro é a numeração.
Criado pela Companhia de Habitação do Pará (Cohab), o conjunto foi construído entre os anos de 1976 a 1986, incluindo a Cidade Nova do I ao IX. Sabe-se que a primeira etapa foi entregue em 1977, no qual havia apenas 600 imóveis e que foram sorteados para a população. De acordo com o programa habitacional, este atendia pessoas de baixa renda a realizarem o sonho da casa própria.
Nove anos depois, em 1986, mais uma fase da obra chegava ao fim e 120 unidades ganhavam novos donos e histórias. “Seu Naldo”, como é conhecido pelas redondezas da Cidade Nova II, veio de Recife, capital de Pernambuco, em 1983, para morar na região. Além da família que veio junto, o idoso trouxe malas e bagagens que dentro, além dos pertences, continham sonhos de começar uma nova vida por lá.
“Tudo era diferente do que é hoje! Abrimos uma farmácia para trabalhar e pagar as contas. Com o tempo, juntamos um dinheiro, mudamos de ramo e agora trabalhamos com venda de material de construção e variedade. Para mim, a Cidade Nova significa muita coisa. Como um pai que acompanha o filho, vi o bairro crescer e se desenvolver. Criamos laços e amamos estar aqui”, afirmou Reginaldo.
Juntas, as Cidades Novas contabilizam cerca de 4 milhões de metros quadrados de extensão, tamanho que colocou a região no topo da lista como o maior conjunto habitacional do Pará. Apesar de ter sido criado para servir de moradia, o local é uma verdadeira “cidade”, um bairro com inúmeros estabelecimentos comerciais, escolas, faculdades, hospitais, clínicas, bancos, postos de gasolina, entre outros serviços.
INÍCIO
Quando a Cidade Nova foi planejada pela Cohab, era preciso criar estratégias o substantivo “Nova” seria uma forma de deixar o espaço mais atraente e reduzir a rejeição de se morar em uma “periferia”. “Quando cheguei para morar não tinha asfalto e era só poeira. As casas eram todas iguais e pequenas. Bem simples mesmo! Lembro que devido às condições de trafegabilidade, o transporte público era precário e dava certo trabalho para se deslocar, principalmente para quem precisava ir à capital trabalhar”, lembrou Heliana Negidio, 58.
Assim que as casas começaram a ser ocupadas, o fornecimento de água era outro imbróglio da época, pois mesmo com a existência das caixas d’águas, o serviço era falho e a água não chegava nas torneiras. A solução encontrada pelos moradores então era captar água nas matas que ficavam nas adjacências para que pudessem suprir as necessidades do dia a dia.
Dona de uma papelaria que leva o próprio nome, Heliana sempre acreditou que a Cidade Nova um dia seria cobiçada pela população. “Graças a Deus hoje reina a prosperidade e nem dá para fazer comparações. Costumo dizer que ‘tudo que precisamos encontramos aqui’, exemplo é que nem precisamos ir para Belém para resolver diversos assuntos, como saúde e faculdade”, disse a empreendedora.
O avanço da pavimentação asfáltica amenizava a poeira a cada ano. A modernização arquitetônica foi aplicada nas casas simples – característica de um conjunto habitacional – que passaram a ter novas fachadas e formatos. No entanto, ao andar pelas ruas que cortam o bairro, é possível encontrar algumas residências ainda do mesmo jeito de quando foram entregues.
RUAS
Na WE 78, na Cidade Nova 6, a equipe do DIÁRIO DO PARÁ encontrou duas casinhas neste estilo, quase sufocadas com as mudanças no ambiente urbano “Lembro de quando eu me inscrevi na Cohab, pois morava de aluguel, e fui contemplado com a casa que eu estou hoje. Mexi poucas coisas, como uma cobertura para o meu pátio”, contou Raimundo Barros, 70.
Militar da reserva, seu Raimundo vive na mesma residência há 40 anos e ressaltou que não pretende sair do espaço. “Eu amo a Cidade Nova, pois me oferece tudo o que eu preciso para sobreviver, me sentir bem e tranquilo. Então que venham longos anos pela frente, sempre estarei aproveitando deitado na minha rede nesta que será a minha eterna moradia”, completou.
Apesar de morar há tanto tempo no bairro, o aposentado desconhece algumas curiosidades, como por exemplo, a forma com que as ruas foram nomeadas. Segundo conta a história, a Cidade Nova foi construída sob uma perspectiva desenvolvimentista cartesiana, desta forma, a maioria das vias receberam siglas de pontos cardeais.
Para entender melhor, basta observar a sigla WE, que significa “West, Este”, responsável por nomear as travessas. Já a SN, representada por “Sul, Norte”, são os nomes dados às arteriais (avenidas). Este é mais um ponto que a região se diferencia dos outros bairros, que geralmente priorizam vias com nomes de alguma personalidade, fatos históricos ou experiências de seus moradores.
Mas como toda regra tem uma exceção, a Estrada da Providência, na Cidade Nova VIII, se chama assim pois faz referência a existência de um convento nas proximidades do único cemitério do conjunto. “A Cidade Nova tem disso, cheia de características únicas. Mas ainda tem muito para crescer, mas já começamos, não é à toa que já temos os registros dos alguns prédios por aqui”, concluiu Raimundo.
A grande mudança que começou a fazer sentido ao nome Cidade Nova veio vinte anos depois, na segunda metade da década de 90, quando o prefeito Manoel Pioneiro, através de uma agressiva política de isenção de impostos, atraiu os olhares de grandes empresas em troca da geração de emprego para a população local.
A partir de então o bairro se desenvolveu e se tornou o que é hoje, um conjunto todo estruturado. “Cheguei aqui no meio desse avanço e deste então eu escolhi morar e trabalhar. Sou administrador de uma academia referência na região e pelo que percebo, hoje em dia, os moradores não precisam se deslocar mais para o Centro Comercial de Belém encontrar o serviço desejado”, frisou César Valente Teles, 40.