Dr. Responde

Com fígado novo, paraense comemora: 'Nasci de novo'

Ana Gabriela Mesquita Alves diz que nasceu de novo. Procedimento foi informado ontem por equipe de saúde do Estado FOTO: santa casa/divulgação
Ana Gabriela Mesquita Alves diz que nasceu de novo. Procedimento foi informado ontem por equipe de saúde do Estado FOTO: santa casa/divulgação

Diego Monteiro

O Pará se tornou referência em transplante de fígado, após a Santa Casa de Misericórdia realizar o primeiro procedimento via sistema público de saúde, serviço que garante mais qualidade de vida aos paraenses que antes precisavam sair do Estado para realizar o procedimento. As informações foram repassadas na tarde de ontem, durante coletiva à imprensa com a Secretaria de Saúde do Estado (Sespa).

Aos 40 anos, Ana Gabriela Mesquita Alves foi diagnosticada com um quadro de hepatite autoimune, mas nos últimos anos desenvolveu cirrose hepática, doença que não tem cura, a não ser que seja feito um transplante de fígado. A paciente foi submetida ao procedimento no último dia 26 de fevereiro, portanto, é considerada a primeira nesse procedimento após esperar por três meses na fila de transplante.

Segundo Gabriela, foram momentos delicados, mas com um final feliz.

“Os primeiros dias depois do transplante na UTI foram difíceis, mas agora estou mais tranquila. Nasci de novo. Quero me reestabelecer e seguir a minha vida, que foi interrompida. Me formei em serviço social, mas por conta da doença não pude trabalhar. Agora vou ter uma nova oportunidade de vida”, afirmou.

“Agradeço muito a toda a equipe que tornou esse transplante possível, e à família da doadora. Uma parte daquela pessoa vai ficar viva dentro de mim. Por isso, é muito importante falar sobre doação de órgãos e conscientizar a todos sobre o assunto, para a família autorizar e salvar outras vidas”, frisou Ana Gabriela.

De acordo com o médico Rafael Garcia, que também é coordenador da equipe de Transplante de Fígado da Santa Casa, após a confirmação de compatibilidade do órgão a paciente começou uma corrida contra o tempo, que durou em média 10 horas para que o fígado pudesse chegar nas mãos da equipe do cirurgião o quanto antes para que o procedimento de transplante pudesse ser feito.

Para o médico, esta é a “realização de um sonho pessoal”, ressaltou Garcia. “Foram muitos anos de treinamento e preparação, e aqui no Pará, e na Santa Casa, a gente conseguiu realizar esse primeiro procedimento. Estávamos ansiosos por cada oferta de fígado que víamos. Mas quando não era compatível, nós ficávamos muito frustrados. Ver esse resultado, com uma cirurgia, é a maior compensação”.

O processo não é tão simples, pois envolve dezenas de pessoas, desde a família enlutada, até as instituições, poder público e profissionais de saúde. Para se ter ideia da complexidade, somente no Pará, participaram direta ou indiretamente deste transplante uma equipe médica e multiprofissional especializada, com 26 profissionais da Central de Transplantes, Santa Casa e Albert Einstein.

IMPORTÂNCIA

Diante do esforço, o titular da Sespa, Rômulo Rodovalho, reforçou que este é um dia importante para a saúde do Pará. “Um transplante inédito e bem-sucedido. Esse é um serviço de relevância, que desde 2009 está sendo trabalhado para ser implantado aqui na Santa Casa, e hoje, temos a satisfação de colocar mais esse serviço à disposição da população”, disse o secretário.

No dia 18 de abril de 2022 já havia sido publicada no Diário Oficial da União a Portaria 134, na qual a Fundação Santa Casa do Pará estava autorizada a realizar a retirada e transplante de fígado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Agora, o hospital tem a capacidade de realizar pelo menos um transplante por semana, com uma equipe médica e estrutura completa para o procedimento.

Ao todo, a Santa Casa está com 11 leitos de enfermaria para atendimento hepático, além de investimentos em aparelhos técnico-hospitalares e de laboratório. “Desde 2019 o Governo do Pará vem fazendo investimentos na Santa Casa. Com a implantação do transplante de fígado, vamos tratar todas as doenças desse paciente do início até o momento do transplante”, concluiu Bruno Carmona, presidente da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará.