A novela “Vai na Fé” (Globo) brinca com o universo das celebridades (e subcelebridades) e tem um “fofoqueiro” para chamar de seu: Anthony Verão. Interpretado por Orlando Caldeira, o jornalista monitora os bastidores dos famosos em busca de notícias quentes para o público.
O processo de criação do personagem envolveu a pesquisa do estilo de diversos jornalistas de celebridades. Orlando confessa que o trabalho na trama das sete fez com que mudasse a visão sobre esses profissionais. Em entrevista ao TDB, ele soltou um spoiler. O personagem deve quebrar a “quarta parede” e ganhar uma ferramenta de divulgação na vida real, a exemplo do que está acontecendo com o cantor Lui Lorenzo (José Loreto).
A trama é um bom exemplo da diversidade há tempos desejada na teledramaturgia. Orlando se empolga ao falar sobre o assunto. Ele é um dos criadores do Coletivo Preto, no Rio de Janeiro, que pensa o protagonismo negro nas artes. “Essa pauta faz da minha trajetória artística a um bom tempo, eu inclusive desenvolvi, uma exposição fotográfica chamada ‘Projeto Identidade’, junto da minha amiga e atriz Noemia, na qual a gente questiona a representatividade fotográfica nas artes – usamos ícones da cultura pop originalmente brancos, fotografados por atores e modelos negros. Aí tínhamos a Monalisa negra, a mulher maravilha negra, entre outros”, destaca.
Além das telinhas, o ator está em cartaz com o espetáculo “Método Grönholm”, dirigido por Lázaro Ramos e Tatiana Tibúrcio. Também dirige dois projetos: “Pelada”, que estreia no Rio de Janeiro em abril, e o musical “A Hora do Blec”, baseado no desenho animado de Davi Júnior, com estreia em julho.
“Eu sempre fui do teatro, para além do Coletivo Preto, eu tenho uma Cia de teatro chamada Troupp pas D’argent, e há mais de 20 anos viajamos pelo Brasil e pelo mundo apresentando nossos espetáculos. Fizemos turnês na Europa, e ganhamos muitos prêmios, tanto no Brasil quanto fora. Então essa dinâmica está muito viva no meu cotidiano, é algo que já estou acostumado”, diz sobre estar na TV e teatro ao mesmo tempo.
ENTREVISTA EXCLUSIVA COM ORLANDO CALDEIRA
Certamente tivestes uma preparação e pesquisa para compor o personagem. Mudou alguma coisa na tua visão sobre o noticiário de celebridades?
Mudou muito. Para fazer o Anthony eu pesquisei diversos jornalistas especializados em celebridades, e antes eu tinha uma visão um pouco preconceituosa sobre esse ramo, mas agora não. Vejo que são pessoas que servem ao entretenimento e fortalecem essa indústria, porque hoje em dia você precisa ser assunto para conseguir movimentar, ser falado. E esses profissionais fazem isso de uma forma muito interessante. É claro que tem alguns que utilizam de caminhos não tão legais, como qualquer profissão, mas são uma minoria. É muito interessante ver a forma como essas pessoas conseguem captar a atenção do público, ainda mais hoje que vivemos na era da informação a todo momento. Esse ramo do jornalismo se mantém firme e forte, e tem ali seu público fiel e cativo que está atento a tudo o que está sendo dito.
O Anthony Verão parece ser daqueles que carregam no título, mas não topam tudo pelo clique. Como avalias esse aspecto profissional?
O que acho mais fascinante nele é essa discussão da ética – quando ele fala o bordão dele “maldade não, verdade”, isso vindo de um jornalista, ainda mais no mundo de hoje no qual estamos imersos em diversas fake news, há esse compromisso de checar fontes. E eu acho muito importante que a gente tenha na teledramaturgia brasileira um jornalista que se coloca nesse lugar, especialmente nesse ramo da fofoca e do entretenimento. Ele é uma espécie de homenagem aos jornalistas que seguem os princípios da ética.
O Lui Lorenzo ganhou perfil no streaming. Não está faltando um perfil de fofoca do Anthony? Logotipo já tem.
Com certeza, também acho, mas já vai vir. Teremos novidades chegando em breve.
Clicarias em uma notícia do Anthony?
Não só dele como de muitos outros. Hoje eu me transformei em um exímio consumidor de fofocas. Por conta da pesquisa do Anthony, principalmente nas minhas redes sociais, eu adicionei todos os fofoqueiros que eu tive acesso. Então eu naturalmente já consumo fofoca, e é bem interessante observar que os “fofoqueiros” (jornalistas que cobrem fofocas e celebridades), cada um tem uma assinatura muito própria. A mensagem chega de diferentes formas dependendo do jornalista. Mas eu com certeza clicaria nas fofocas do Anthony – eu sou suspeito pra falar – mas eu gosto muito do Anthony Verão, acho que ele é um cara muito gente boa, coração e com um senso de justiça muito aguçado, um pouco exagerado, mas um grande senso de justiça.
Já tivestes a experiência de cair na boca do povo? Como agiu ou reagiria?
Ah com certeza né? Todo mundo uma hora vira assunto. Mas das vezes que isso aconteceu comigo eu segui vivendo a minha vida, fazendo o que eu acredito sem tentar me abalar. E sempre foram coisas bem tranquilas, nada degradante. E acho que é isso, ninguém quer seu nome na boca dos outros de forma negativa, sempre queremos que falem bem da gente e eu me empenho pra isso.
O mundo da fofoca é cheio de roteiros, inclusive com desculpas fracas de quem foi cancelado nas redes. A exemplo do “tiraram de contexto” ou “caso alguém tenha se ofendido, não foi intenção”. Como avalias essas posturas, como Anthony e Orlando?
Nesse sentido eu acho que o Anthony é implacável, ele não tolera essas desculpinhas não. Para ele é tudo ali – desde que seja verdade, ele jamais diria mentira. Mas se a coisa está ali e for verdade, ele entrega. Mas acho que, tirando do contexto da novela e do personagem, a gente precisa ter muita atenção ao que se fala e ao que se faz, principalmente quem possui maior destaque e visibilidade, porque todas as atitudes delas comunicam algo a alguém e precisamos ser responsáveis e ter comprometimento com a nossa comunidade e nossa sociedade como um todo. Então esse é o preço que se paga por ter algum tipo de projeção, foi-se o tempo das estrelas que são excêntricas, que desrespeitam. Hoje em dia isso está caído, não existe mais esse lugar da ofensa e da agressão. Precisamos respeitar mais o outro, ser empático para que a gente consiga viver bem, em uma sociedade harmônica, e as celebridades, sobretudo, elas têm que se comprometer com isso – e os fofoqueiros também, rs.
Um dos elogios para a novela é trazer um elenco repleto de talentos negros. E, principalmente, negros sendo o que desejam ser e em todas as situações: mocinha, galã, vilão, advogado, universitário e, inclusive, jornalista. Como é a sensação de participar desse grande momento na TV?
Chegamos nesse momento em que vivemos, com essa emissora gigante que é a Globo, tendo em seu elenco uma grande representatividade negra é de dar muita alegria, e o resultado não poderia ser diferente. O público brasileiro quer se ver e é muito importante que a teledramaturgia, e a mídia de maneira geral, traga cada vez mais representatividade. É um tempo que com o tempo acabou se esvaziando, mas ele é fundamental, e tem uma potência muito forte na nossa vida, não só de quem é negro, mas de todos, porque precisamos enxergar o Brasil como ele é de verdade: diverso, misto e incrível. Então estou muito feliz. A Rosane, autora da novela, ela é incrível. A direção do Paulo Silvestrini também, toda a equipe na verdade. E estamos vibrando demais com esse momento que é grandioso e tem um impacto na vida das pessoas, e vamos dimensionar isso mais pra frente – mostrar o quanto essa novela transforma muitas vidas.
Fora das telas tens a oportunidade de viver a experiência do teatro, que nem sempre está nos holofotes. Como é viver essas duas oportunidades profissionais ao mesmo tempo: os palcos e a exposição de uma novela?
A dinâmica do audiovisual entrou na minha vida em 2019, quando eu fiz “Verão 90”, ao qual fui indicado ao prêmio Melhores do Ano, do Faustão. E de lá pra cá eu tenho curtido bastante essa experiência – agora em julho estreia o filme que eu fiz com o Lucas Neto, “Os Aventureiros – A Origem”, e eu confesso que essa demanda intensa de trabalho é algo que mais me estimula do que me exaure. O artista tem muita vontade de estar com o público, ele se realiza nessa comunicação, nesse fazer. E eu sou muito inquieto, tenho essa necessidade de estar contando histórias, me conectando e renovando o olhar, e o teatro ele propicia esse lugar de contar novas histórias em um curto espaço de tempo. E a televisão é fascinante porque ele propaga para milhões, para uma nação. E eu acho que pro artista isso é a coroação de um trabalho. Eu estou muito feliz, e no momento eu quero é mais.
Texto: Marta Cardoso, editora do TDB