Um marco histórico e inovador aconteceu, na quinta-feira, 2, no Hospital Regional Público do Araguaia (HRPA), na região sudeste do Pará, na cidade de Redenção, com a realização do primeiro procedimento de diálise hepática, tratamento que simula parcialmente a função do fígado por meio de um processo de filtragem enquanto o órgão se recupera de uma agressão sofrida.
De acordo com o hospital, a diálise hepática, ou Spad (sigla em inglês), consiste na substituição parcial do funcionamento do fígado e realiza a filtragem do sangue, com a retirada de toxinas do corpo e a devolução do sangue tratado ao paciente.
Esta terapia está indicada para pacientes graves, internados em unidades de terapia intensiva e que apresentem insuficiência hepática, aguda ou crônica agudizada, ou seja, uma nova agressão sobre um fígado já doente. Ela tem como objetivo permitir a sobrevivência do paciente nessa condição tão extrema.
Até pouco tempo, esse processo só era realizado em Belém, o que limitava a assistência a pacientes graves de regiões distantes da capital. Um tempo de deslocamento que poderia ser determinante para a sobrevivência das pessoas. Agora, pacientes críticos e internados em unidades de terapia intensiva, podem ter tratamento em Redenção.
Aliado ao tratamento da diálise hepática, o paciente também realiza a hemodiálise contínua devido quadro de insuficiência renal aguda, que é a substituição das funções dos rins. O diferencial dessa terapia é que ocorre de forma ininterrupta, sendo utilizada no mínimo por 72 horas.
Esse procedimento faz com que os órgãos tenham mais tempo para se recuperarem e reduz o risco de morte, permitindo o tempo necessário para a reabilitação. O HRPA é o único centro do interior do estado a realizar a hemodiálise contínua e um dos poucos serviços a dispor da terapia em todo o Brasil.
O primeiro caso trata-se de um jovem com quadro de malária complicada por falências agudas dos rins e fígado. O médico nefrologista, Giordano Ginani, comenta que se não fosse o tratamento oferecido da diálise combinada (hepática e renal) junto ao suporte de terapia intensiva, o paciente não teria chances de se recuperar.
“A falência do fígado e rins levam o paciente naturalmente à morte, agora, com o tratamento dialítico, temos a chance de reduzir esse risco na medida que damos o suporte vital ao paciente durante seu tratamento na UTI. O objetivo de tudo isso é permitir que a fase grave da doença seja superada, os órgãos voltem a funcionar e os pacientes sejam reabilitados para voltarem para suas casas.”, falou o doutor Giordano.
O médico ainda completa que o que está sendo feito na saúde pública do Pará é histórico. “Estamos vivendo um momento histórico para a saúde não só no Pará, mas do país como um todo. O que conseguimos fazer aqui deve servir de inspiração para outras unidades de saúde, outras regiões do Brasil. A medicina de alta complexidade deve ir onde se necessita dela, esses recursos devem existir em grandes centros, mas precisam ser implantados, de modo hierarquizado e organizado, também onde o acesso é mais difícil. Isso para permitir que mais pessoas se beneficiem e vidas sejam salvas. Não seria possível imaginar o transporte desse paciente, mesmo em uma UTI aérea, para ser submetido a essa terapia em outro local. Isso porque pacientes tão graves não conseguem ser levados de um local a outro com facilidade, imaginem por centenas de quilômetros”, finalizou o nefrologista.