Pará

Estupro vitimou 822 mil pessoas no país, 30 mil delas no Pará

O levantamento considera exclusivamente casos oficialmente registrados dessa forma pela polícia. Foto: Ney Marcondes/Diário do Pará
O levantamento considera exclusivamente casos oficialmente registrados dessa forma pela polícia. Foto: Ney Marcondes/Diário do Pará

Luiza Mello

De Brasília

Duas pessoas são estupradas a cada minuto no Brasil. Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chama a atenção para um problema crítico no país e que afeta principalmente as mulheres: o número estimado de casos de estupro por ano é de 822 mil, o equivalente a dois por minuto.

O pior é que apenas 8,5% dos crimes são registrados pela polícia e 4,2% pelo sistema de saúde. O estudo se baseou em dados da Pesquisa Nacional da Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNS/IBGE), e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, tendo 2019 como ano de referência.

Segundo o Sinan, a maior quantidade de casos de estupro ocorre entre jovens, com o pico de idade aos 13 anos. A publicação lançada em março é dedicada a ações em defesa da mulher.

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O levantamento mostra que o número estimado de estupros de maiores de 18 anos no Pará pode ter vitimado 29.204 pessoas ao ano. O Estado é o quinto em maior número de vítimas, sendo que São Paulo pode ter tido mais de 193 mil estupros, seguido pelo Rio de Janeiro (62.488), Bahia (52.664) e Goiás (33.491).

A notificação de ocorrência de estupro no Pará não passa de 166 registros entre as pessoas maiores de 18 anos, segundo o Ipea. Os registros de vítimas que são menores chegam a 1.694, o que totaliza 1.860 denúncias ou registros oficiais, o que não ultrapassa 0,49% das vítimas no Estado.

“O registro depende, em boa parte dos casos, da decisão da vítima, ou de sua família, por buscar ajuda no Sistema Único de Saúde”, explica o pesquisador do Ipea e um dos autores do estudo, Daniel Cerqueira.

Dessa forma, segundo ele, o número de casos notificados difere substancialmente da prevalência real, pois muitas vítimas terminam por não se apresentar a nenhum órgão público para registrar o crime, seja por vergonha, sentimento de culpa, ou outros fatores.

As vítimas principais são as mulheres. “Os impactos da violência contra a mulher, não só a sexual, incluem a violência auto infligida. Dentre os fatores de risco para o comportamento suicida em mulheres adultas, encontram-se violência por parceiro íntimo, ter sido vítima de abuso sexual na infância e ter mãe que viveu situação de violência por parceiro íntimo”, revela o estudo.

Em relação aos agressores, em termos de gênero, destacam-se os homens. “Ao se pesquisar estupro, a combinação “mulher vítima” e “homem agressor” salta aos olhos”, mostra o documento divulgado ontem, complementando que “recente revisão sistemática corrobora a associação entre masculinidade hostil (dominação sexual, hostilidade em relação às mulheres, aceitação do mito do estupro e aceitação da violência interpessoal) e agressão sexual”.