No último domingo (8) ocorreu o encerramento das Olimpíadas de Tóquio. Foram duas semanas intensas em que o mundo parou para assistir atletas tentando levar seus países ao topo do pódio, atingindo a glória máxima olímpica. A competição é quase sempre um momento de êxtase para quem está competindo, mas para Krystsina Tsimanouskay, atleta da Bielorrúsia, foram dias de tormenta que terminaram com ela pedindo asilo humanitário na Polônia. O seu país de origem é conhecido como ‘a última ditadura da Europa’ e, como em todo regime autoritário, algumas críticas feitas por Krystsina durante as Olimpíadas não foram bem aceitas, o que fez a atleta fugir por medo da retaliação.
A velocista de 24 anos foi a Tóquio para correr a prova de 200m rasos, mas foi informada de última hora pelo comitê da Bielorrússia que ela iria substituir outra atleta no revezamento de 4×400. Krystsina usou seu Instagram para dizer que não havia problema algum em ajudar seu país em outra disputa, mas que não tinha gostado da forma como isso foi tratado: ela alega que não houve comunicação e sequer explicações dos motivos.
Isso foi suficiente para que no dia seguinte ela fosse acordada logo cedo por membros da comissão, informando que ela tinha uma hora para arrumar suas coisas e em seguida seria levada para o aeroporto, porque havia uma ‘ordem superior’ para que ela retornasse imediatamente ao seu país. A atleta chegou no aeroporto e ligou para a sua avó, que imediatamente alertou para que não voltasse para casa, então ela usou o google tradutor e avisou às autoridades locais que estava em perigo. Em seguida, publicou um vídeo nas suas redes sociais clamando por ajuda do Comitê Olímpico Internacional, que prontamente se ofereceu para ajudar na segurança, além de expulsar a comissão bielorrussa da vila olímpica.
Krystsina causou comoção internacional, saiu do aeroporto e foi direto para a embaixada da Polônia, país que concedeu asilo humanitário para ela e seu marido, que estava na Bielorrúsia e fugiu imediatamente para a Ucrânia com medo. A atleta ainda teme pelo resto da sua família, mas está segura, infelizmente longe de casa.
A Bielorrúsia é um país localizado entre a Polônia e a Rússia. Desde 1994 é governado por Alexander Lukashenko, um ditador que não mede esforços para reprimir aqueles que ousam criticar o seu regime. Em 2020 o país sofreu a maior onda de protestos da era Lukashenko, que respondeu com repressão policial e prisões de manifestantes. Para se ter uma idéia da sua insanidade, no último mês de maio o ditador enviou um caça para interceptar um voo que sobrevoava o território bielorrusso, ameaçando com uma bomba caso o piloto não fizesse um pouso forçado em Minsk, capital da Bielorrúsia. Após o pouso forçado, autoridades entraram no avião apenas para prender um jornalista crítico ao governo.
Os autoritários têm tendência a sofrer da síndrome de Napoleão: se sentem muito maiores do que realmente são, como é o caso de Lukashenko. Seu país ainda vive sob a heresia do imaginário soviético, reprime todos aqueles que pensam diferente e é altamente dependente da relação com a Rússia para manter o regime de pé. Mas a história está aí para mostrar que a soberba sempre se torna a maior inimiga dos ditadores e não será diferente na Bielorrússia. A ruína de Lukashenko dá sinais cada vez mais claros de que está próxima.
Quanto a Krystsina Tsimanouskay, essa não é a primeira vez que a velocista causa incômodo ao governo. Em 2020 ela se juntou a outros atletas que assinaram uma petição alegando que as eleições no país haviam sido fraudadas. Todos sofreram retaliações, mas dessa vez a sua voz infelizmente lhe custou a fuga do seu lar, porém a atleta já alertou que isso não seria suficiente para lhe calar.
O esporte geralmente é uma das maneiras preferidas por ditadores para melhorar a imagem do país para o mundo, mas para Lukashenko, dessa vez o tiro saiu pela culatra.