Sete dias após o atentado às torres gêmeas, George Bush anunciou que os Estados Unidos iniciariam uma guerra contra o terrorismo em resposta ao ataque em solo americano. Um dos alvos era o Afeganistão, país então governado pelo Talibã e que se recusou a entregar a Al Qaeda, grupo terrorista liderado por Osama Bin Laden, aos Estados Unidos. Por isso, entraram no país com a justificativa de derrubar o Talibã e destruir a Al Qaeda. Vinte anos já se passaram e as tropas americanas continuam lá, nesse período até conseguiram tirar o Talibã do poder, mas não conseguiram destruí-lo, e agora que Joe Biden anunciou a retirada total dos seus soldados até o simbólico dia 11 de setembro deste ano, o grupo terrorista tem se fortalecido cada vez mais para retomar o poder.
Durante esta guerra que parecia não ter fim, os Estados Unidos já chegaram a ter mais de cem mil soldados em solo afegão para combater o Talibã, hoje são menos de três mil. A tropa americana precisou de pouco menos que dois meses para tomar o poder, obrigando os terroristas a fugirem para as montanhas de difícil acesso e, desde então, os dois lados têm travado conflitos em diferentes áreas do país.
Hoje o Afeganistão realiza eleições democráticas, mas é bom lembrar que eleições não são suficientes para sustentar uma democracia. As instituições civis permanecem frágeis, e enquanto estiverem assim, o país vai sofrer. O atual presidente afegão esteve na Casa Branca nesta semana para conversar com Biden e, embora compreenda a retirada das tropas americanas de seu país, Ashraf Ghani tem se demonstrado preocupado. O motivo é simples: hoje os soldados americanos protegem o território do Afeganistão e ajudam a manter o sistema democrático em pé. Quando saírem, o país voltará a ficar exposto ao Talibã, que vai iniciar uma ofensiva para tomar o poder.
A decisão de retirar as tropas do país chegou a ser uma iniciativa de Barack Obama, mas quando assumiu o poder ele acabou aumentando ainda mais o número de soldados enviados ao país. Donald Trump foi quem anunciou em 2020 que iria trazer os americanos no Afeganistão de volta para casa, e Biden concretizará essa promessa. A demora para fazer isso é por receio do Talibã voltar ao poder, porque caso isso aconteça, o Afeganistão voltará a ser um paraíso para grupos terroristas que ali entravam para fugir ou treinar seus membros, como fez a Al Qaeda antes de atacar os Estados Unidos. A grande verdade é que a dúvida não é se isso vai acontecer ou não, e sim quando vai acontecer.
O Talibã é um grupo terrorista sunita que governou o Afeganistão de 1996 até 2001, e quando estiveram no poder, implantaram a “sharia”, a lei islâmica. Violavam constantemente os direitos humanos ao realizar execuções em praças públicas, apedrejamento de mulheres e amputação da mão de quem roubava. Homens eram proibidos de tirar a barba, ouvir músicas e até mesmo empinar pipas; as mulheres sequer podiam sair de casa sem um homem ao lado. Desde o anúncio da retirada de tropas americanas do país, a milícia do Talibã já retomou o controle de dezenas de distritos, há até vídeos de soldados que antes combatiam os terroristas e agora já estão se rendendo.
Em 2001 os Estados Unidos invadiram o Afeganistão para combater o terrorismo, tiraram o Talibã do poder mas não conseguiram acabar com o grupo. A Al Qaeda foi enfraquecida, mas também continua na ativa. Além disso, os americanos demoraram dez anos para encontrar Osama Bin Laden e ele sequer estava no Afeganistão ou no Iraque, e sim no Paquistão.
A Guerra ao Terror foi uma resposta sem planejamento que Bush precisava dar de forma ágil após o 11 de setembro. Foram duas décadas em conflito para evitar a volta do Talibã ao poder e o crescimento de outros grupos terroristas na área. Ao que parece, tudo em vão, porque isso tudo deve acontecer muito em breve.
Os Estados Unidos se meteram em uma lambança que não souberam como lidar, será que saberão arcar com as consequências de um Afeganistão novamente tomado por terroristas? Dirão que sim, mas se tiveram dificuldades de lidar com o Talibã enquanto estavam escondidos nas montanhas, o que dirá quando retomarem todo o país…