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Argentina se tornou um país viciado no fracasso, em crise e está próximo do abismo

BUENOS AIRES - ARGENTINA: The Obelisk in Buenos Aires, Argentina
BUENOS AIRES - ARGENTINA: The Obelisk in Buenos Aires, Argentina

Quem já foi à Buenos Aires, se vislumbrou com aquela capital que mais parece ser um pedaço da Europa na América Latina. A cidade bem arborizada, cercada de parques e casarões bonitos é o retrato do país que já foi um dos mais desenvolvidos do mundo no século passado, mas não precisa de muito tempo para notar que Buenos Aires também sirva como uma maquiagem para esconder a nova realidade do povo argentino, um país fracassado, cada vez mais pobre, com uma classe política corrupta e acostumada a repetir as mesmas fórmulas ultrapassadas para solucionar problemas históricos. Por cima de tudo isso, uma pandemia veio para assolar de vez as esperanças de dias melhores, com um agravante: os indicadores mostram que vai piorar.

 

Para entender a Argentina é preciso falar de Juan Domingos Perón, um coronel da década de 1940 que era secretário do trabalho na ditadura e responsável pela criação de leis e estatutos trabalhistas, além de uma infinidade de direitos ao trabalhador que o tornaram extremamente popular. A idolatria a Perón fez o povo ir às ruas para levá-lo à presidência da República por três vezes. Sua mulher, Eva Perón, também era altamente popular entre os mais pobres, se tornou símbolo de justiça social após seu falecimento no auge da fama, e tem até hoje seu rosto estampado em toda a Argentina. Para se ter uma noção da popularidade de Juan Perón, a sua terceira esposa, Isabelita Perón, foi eleita sua vice-presidente no terceiro mandato, assumindo o poder com a morte do marido e se tornando a primeira mulher presidente do ocidente.

 

A ideologia peronista está presente na Argentina desde então. O peronismo defende, dentre tantas coisas, um estado forte, altos subsídios sociais, controle das exportações e a integração sul-americana. Impossível definí-lo como de esquerda ou de direita porque o peronismo engloba todos os lados. Aliás, o próprio Perón definiu muito bem o peronismo em entrevista à uma TV espanhola: “Olhe, a Argentina tem 30% de radicais (social-democratas), 30% de conservadores e um outro tanto de socialistas”, disse. “Mas onde estão os peronistas?”, perguntou o jornalista. “Todos somos peronistas”, respondeu Perón.

 

Esse modelo de estado se tornou altamente insustentável. O ambiente inóspito de negócios em solo argentino causou a fuga de capitais, o congelamento de preços causou escassez de produtos, o estado forte veio acompanhado de um enorme índice de corrupção, fazendo com que os recursos já escassos não cheguem naqueles que mais precisam. O resultado da má política sempre vem, no caso da Argentina ele veio com juros e correção monetária: inflação, hiperinflação, dívidas, calotes e muita pobreza.

 

O problema é que na Argentina, quando a beira do abismo parece inevitável, o país experimenta tempos bons onde tudo parece ter se consertado. Esses breves períodos se tornam a receita perfeita para que as velhas fórmulas políticas e econômicas ultrapassadas voltem a ser destaque, é como se fosse um sujeito viciado em apostas que sempre se dá mal, e quando tá perto de desistir da vida de apostas, acerta um pequeno bilhete premiado, suficiente para lhe fazer acreditar que vai ganhar de novo se continuar apostando. Assim funciona a Argentina.

 

Para piorar, veio a pandemia e o presidente argentino Alberto Fernández, um peronista declarado, decidiu tentar as mesmas práticas do passado. Congelou os preços dos alimentos, telefonia e TV para tentar conter a inflação e o resultado não poderia ser diferente: os mercados passaram a ser obrigados a vender o produto por um valor menor do que o da produção, então decidiram parar de vender esses produtos. Prateleiras vazias, escassez de alimentos e o povo sem ter o que fazer. Além disso, Fernández criou um imposto sobre grandes fortunas para que o estado arrecadasse mais recursos, mas os primeiros resultados já mostram que a arrecadação é 74% menor que o esperado porque apenas 2% dos que deveriam pagar, aceitaram o aumento. Esse é mais um episódio das velhas práticas intervencionistas que são carregadas de boas intenções, mas na prática não funcionam.

 

E como fica o povo com tudo isso? Além de irritado, está mais pobre. Em 2019 a pobreza na Argentina já era alarmante, cerca de 35%. Em 2021 esse número chegou a 42%, somando-se a uma classe média altamente endividada.

 

Como disse o jornalista Federico Rivas: “A Argentina é sempre a Argentina aos olhos dos demais. Moderna, sedutora e avançada nos tempos de bonança. Mentirosa, obscura, contraditória e um mau exemplo para o mundo quando mergulha no descrédito de uma recessão econômica”.