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Novos ares no Itamaraty, uma mudança necessária para a imagem do Brasil

Novos ares no Itamaraty, uma mudança necessária para a imagem do Brasil

Quem viaja a Brasília e passa pela Praça dos Três Poderes se impressiona com o Palácio do Itamaraty, que é considerado a sala de visita do Brasil e chama a atenção pela fachada, jardins e obras de arte. Na frente há uma escultura chamada O Meteoro, obra do brasileiro Bruno Giorgi que parece flutuar na água e representa os cinco continentes cujas relações pacíficas são a base da diplomacia. Apesar deste ser o espírito dominante das obras artísticas do palácio, um reflexo histórico da política externa brasileira, esse não foi o caminho adotado pelo recém exonerado ministro das Relações Exteriores e isso terá que mudar para que o Brasil melhore sua imagem de país cada vez mais isolado do mundo.

O Brasil, devido ao seu tamanho e influência por ser o país mais industrializado da América do Sul, tem o dever natural de ser protagonista na região. Sem nenhum acordo comercial significativo com países latinos, assistimos o Itamaraty do agora ex-ministro Ernesto Araújo romper com a tradição da casa e partir para uma retórica ideológica, fazendo o Brasil suspender relações com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribe (CELAC), além de pouco ter feito para evitar que a Argentina se retirasse das negociações do Mercosul, enfraquecendo o bloco e permitindo maior aproximação dos argentinos com Pequim. Além disso, há um impasse ocasionado pelo Brasil no acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia que ocorre por conta das políticas ambientais do governo brasileiro.

Empossado como novo ministro das Relações Exteriores no último dia 6, o embaixador Carlos França se mostrou comprometido em reconstruir pontes e tratar com urgência assuntos na área de saúde, comércio e meio ambiente. O ministro também falou em tratar os aliados “sem exclusões e sem preferências”, dando um claro recado à China, que mesmo sendo a maior parceira comercial do Brasil, vez ou outra era retaliada pelo seu antecessor. Sai o discurso ideológico e entra o velho pragmatismo.

A grande missão a longo prazo do novo ministro será a pauta ambiental, tema esse que nunca foi relevante na relação entre Jair Bolsonaro e Donald Trump, mas agora é prioridade para Joe Biden. Ao Brasil, o novo presidente americano avisou que o governo brasileiro poderia lidar com severas restrições econômicas caso não cessasse o desmatamento na Amazônia. A pauta voltará a ser assunto, mas dessa vez será com uma superpotência e o governo brasileiro terá que mudar o tom da conversa.

Para mudar a imagem do Brasil no mundo, será necessário reconstruir a agenda brasileira. Além disso, é preciso garantir independência ao novo ministro, já que um dos filhos do presidente é acostumado a dar pitaco no Itamaraty, mesmo tendo como única experiência no exterior um estágio em uma hamburgueria dos Estados Unidos.