Pará

Dois milhões no Pará vão receber o 'novo' salário mínimo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar nos próximos dias a Medida Provisória (MP) para instituir o salário mínimo de R$ 1.320 este ano. Foto: D'angelo Valente/Divulgação.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar nos próximos dias a Medida Provisória (MP) para instituir o salário mínimo de R$ 1.320 este ano. Foto: D'angelo Valente/Divulgação.

Carol Menezes

Em 1º de maio, quando entrar em vigor o segundo reajuste feito só neste ano, o valor correspondente ao salário mínimo, hoje de R$ 1.302 e que era de R$ 1.212 até dezembro de 2022, será de R$ 1.320. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), só este primeiro aumento, efetivado em janeiro, injetou cerca de R$ 351,4 milhões na economia da região Norte, impactando a vida de quase quatro milhões de pessoas.

Pouco mais da metade desse montante, algo em torno de R$ 179 milhões, ficam com dois milhões de paraenses trabalhadores ou beneficiários do INSS.

Apesar de reajustada em 7,42% e ganho real atingindo 1,41%, a renda mínima oficial do Brasil ainda compra pouca coisa – cerca de R$ 43,40 por dia. Havendo um novo salário mínimo de R$ 1.320, quem tem essa remuneração continuará com poder aquisitivo baixo, principalmente na parte alimentícia.

“A gente não está falando de um grande valor que pode fazer uma diferença significativa, embora não deixe de ser um incremento na economia”, avalia Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA. E o que vier a mais, vai direto para a compra de alimentos.

“O custo alimentar no Pará é muito elevado, e para os dois milhões de assalariados que recebem por mês apenas essa remuneração sobra muito pouco para fazer frente às contas do dia a dia – água, energia, aluguel, medicamentos, vestuário e outros. Tanto que vimos famílias buscando cartão de crédito e parcelamentos só para garantir a comida na mesa”, justifica.

No meio de 2022, o Brasil chegou a ter uma inflação da 12%, que praticamente só foi cair por manobras no ICMS dos estados objetivando o recuo nos preços dos combustíveis. A cesta básica dos paraenses hoje está custando, em média, R$ 655 – valor esse que deve ficar mais caro a partir deste mês de fevereiro, segundo Everson.

“Variações climáticas, bloqueios de estradas, custos dos meios de produção, tudo isso deve provocar uma nova alta. Esses aumentos devem ir até o fim de abril, e nossa torcida é para que não venham com a rapidez que vimos em 2022, em que os preços variavam de forma absurda de uma semana para outra”, analisa o técnico do Dieese/PA.

Everson aponta caminhos que envolvem políticas de valorização do salário mínimo, crescimento do mercado de trabalho, política de juros menores para reduzir o custo do crédito e não assustar investidores, dentre outros. “Uma conjuntura com preços mais equilibrados, condições para trabalhador consumir mais alimentos e cenário de inadimplência menor com salários mínimos e de outras categorias montando uma perspectiva econômica mais positiva. Todos ganham”, conclui.

 

Dois milhões de pessoas recebem o salário mínimo no Pará

Ana Márcia Silva Cardoso, de 48 anos, é auxiliar administrativo e está entre os dois milhões de pessoas que moram no Pará e tem o salário mínimo como rendimento mensal. Ela confirma que gostou do reajuste, mas acha que poderia ser melhor.

“Está tudo muito caro, e o aumento do salário não se compara ao aumento dos preços dos produtos. Não era esse valor que eu esperava, não só eu, mas todos os brasileiros, pais de família que precisam esticar cada centavo para pagar suas dívidas e dar o que comer a seus filhos” explica ela, que admite não ter esperanças em altas mais significativas do salário mínimo nos próximos anos.

Beneficiário do INSS, Alisson Alex Oliveira, de 43 anos, diz que mesmo recebendo um aumento não muito alto, o valor a mais vai fazer uma boa diferença em sua casa na hora de fazer a feira.

“A gente sempre espera um aumento salarial melhor, mas levando em conta os outros aumentos de 2020 para cá, podemos dizer sim que foi muito bom. Tenho muita esperança que daqui pra frente vamos ter aumentos mais significativos nos próximos anos. Os últimos anos foram de muita luta para poder sobreviver”, admite.

Já Edilsa Silva afirma que não vai fazer muita diferença entre hoje e 1º de maio. “Sinceramente, é tão mínimo esse aumento que não se vê efeito. Esse valor não dá para comprar um quilo de proteína, vai passar despercebido”, Todos nós gostaríamos de receber um aumento maior. Difícil criar expectativas com um reajuste de R$ 18”, lamenta.