Pará

Candidato com espectro autista é aprovado na UFPA após dedicação e terapia

Estão sendo ofertadas 28 vagas para o curso no Programa de Pós-Graduação em Reabilitação e Desempenho Funcional (PPGReab) . Foto: Divulgação
Estão sendo ofertadas 28 vagas para o curso no Programa de Pós-Graduação em Reabilitação e Desempenho Funcional (PPGReab) . Foto: Divulgação

Estudando sozinho em casa, em meio a livros e internet, o suporte de terapias cognitivas conduzidas pela equipe multiprofissional do Centro Especializado em Reabilitação (CER IV), setor integrado ao Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), foi essencial para que Antônio Ferreira, 27 anos, conquistasse a aprovação no vestibular da Universidade Federal do Pará (UFPA), no curso de Educação Física.

Na última quinta-feira (23), Antônio teve mais um dia de acompanhamento, e falou sobre a conquista da vaga aos terapeutas, que comemoraram com o usuário.

“O resultado saiu no dia 17, mas somente agora o Antônio teve terapia agendada. Ele estava muito ansioso para dar a notícia aos profissionais que o acompanham. Eles foram o suporte nesta caminhada de aprovação”, ressaltou Sueli Ferreira, mãe do agora novo universitário.

Antônio foi diagnosticado com autismo há quase três anos. A mãe contou que o rapaz enfrentou muitos desafios sem o diagnóstico. Moradores do município de Abaetetuba, distante mais de 120 quilômetros de Belém, Sueli e o filho vêm desde 2019 à capital fazer os procedimentos do plano terapêutico. Segundo ela, a psicopedagogia reforçou seu desenvolvimento e no conteúdo das disciplinas estudadas. Além desta especialidade, Antônio conta com Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Educação Física.

Antônio Ferreira concluiu o ensino médio aos 17 anos. Ao longo dos últimos anos ele tentou, por diversas vezes, conseguir a vaga no ensino superior. Sem o diagnóstico, Antônio estudava em cursinhos reparatórios, mas sem sucesso e suporte na aprendizagem.

“Tudo na vida acontece no momento certo. Almejamos planos, mas às vezes não acontecem da forma que queremos. E quando isso ocorre, ficamos tristes e logo desistimos. Foi o que estava para acontecer com o Antônio, pelas tentativas frustradas. Contudo, depois que iniciou as terapias e os profissionais conhecendo a história dele, incentivaram muito o meu filho a não desistir. Isso também foi fundamental, a rede de apoio”, enfatizou Sueli Ferreira.

Entre as terapias, ganha destaque a Psicopedagogia, especialidade que estimula o usuário a trabalhar a interação social mediante o raciocínio lógico, uma mistura de matemática com língua portuguesa, complementada pela leitura com habilidades.

Sueli Ferreira, Antônio e o psicopedagogo Robson Matos: comemoração pelo resultado de um tratamento eficiente. Foto: Divulgação

“O trabalho com o Antônio começou envolvendo a formação de palavras. Eu dizia a ele: – Vamos criar a palavra bola. Com o passar do tempo fomos aumentando o nível. Começamos a criar frases. Às vésperas do vestibular, o usuário já estava produzindo redações. Foi uma trajetória de terapias, desde 2019. Não foi de um dia para o outro essa evolução”, explicou Robson Matos, psicopedagogo, que considera a língua portuguesa um ponto essencial nas terapias.

Segundo o profissional, com a dinâmica a pessoa em reabilitação tem ideia de como escrever uma redação elaborando frases maiores. “Para aumentar o ritmo de aprendizado, ele levava para casa atividades de produção textual. Além disto, conversava com ele, em sala, temas de assuntos do cotidiano que poderiam ser abordados na prova”, acrescentou.