YURI EIRAS E BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dez meses após o último Carnaval, a Marquês de Sapucaí recebeu as escolas do Grupo Especial na noite de domingo (19). A primeira noite não teve enredos com apelos políticos, tendência em 2022.
A festa fez homenagens a figuras do samba e ao Nordeste –já ano passado pelo menos três escolas tiveram como enredo assuntos políticos, como a Viradouro, com críticas ao negacionismo na pandemia; a Beija-Flor, com protesto contra a violência policial, e a Unidos da Tijuca, com defesa aos indígenas.
Ainda antes dos desfiles, muitas pessoas se aproximavam da Sapucaí sem ingressos, somente para ver os carros. “Já fui pego de surpresa com as alegorias do Império, que estão muito grandes e bonitas. Vou voltar parra casa daqui a pouco para acompanhar as escolas pela televisão”, disse o técnico em refrigeração Luciano Amaral, 34, que voltava de um bloco.
Às 22h, a festa teve início com o retorno da Império Serrano à elite do samba fluminense.
Com o enredo “Lugares de Arlindo”, a escola de Madureira, zona norte do Rio, homenageou um dos seus principais baluartes: o músico e compositor Arlindo Cruz. Ele ainda se recupera de um acidente vascular cerebral sofrido em 2017. O enredo tem como base o sucesso do sambista “Meu Lugar”.
O sambista entrou na avenida no último carro, com familiares e amigos. A alegoria trazia um Arlindo Cruz gigante. Marcelo D2, que estava no carro, se emocionou ao falar de Arlindo. “Dá um nó na garganta. Talvez tenha sido meu melhor amigo na música. Eu sempre fui fã dele e ele sempre foi tão generoso comigo. Carrego um aprendizado imenso”, disse, ainda na concentração.
A atual campeã, a Acadêmicos do Grande Rio, foi a segunda a desfilar. Depois do sucesso sobre o orixá Exu, a escola tenta o bicampeonato com uma homenagem a Zeca Pagodinho, com enredo dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad. Durante o desfile, seriam feitas imagens para o longa “Deixa A Vida Me Levar”, que narrará a vida do cantor.
A primeira a desfilar na madrugada de segunda (20), a Mocidade Independente de Padre Miguel, assim como outras cinco escolas, tem como base para o seu samba-enredo o Nordeste do Brasil.
A escola da zona oeste do Rio foi ao Alto do Moura, maior centro de artes figurativas das Américas, em Caruaru (PE) para contar a história de Mestre Vitalino e dos artistas que o sucederam. Na apresentação, chapéus de cangaceiro e sombrinhas de frevo se misturam entre as fantasias em verde intenso e brilhoso –marca registrada da escola.
A noite ainda teria a Unidos da Tijuca, do carnavalesco Jack Vasconcelos, contando na Marquês de Sapucaí histórias do Recôncavo Baiano, usando a Baía de Todos os Santos como fio narrativo.
Em seguida, o Salgueiro, do carnavalesco Edson Pereira e da rainha de bateria Viviane Araújo, se apresentaria com o enredo “Delírios de um Paraíso Vermelho”, uma interpretação do paraíso a partir da obra do celebrado carnavalesco Joãosinho Trinta, que venceu três campeonatos à frente da agremiação vermelha e branca, na década de 1970. Trinta morreu em 2011, aos 78 anos.
Fechando a primeira noite, a Bahia volta a ser tema no desfile da Mangueira com o enredo “As Áfricas que a Bahia Canta”, da dupla de carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon, estreantes na Verde e Rosa.
A escola leva à avenida a marca da negritude na formação do Carnaval da Bahia, e o protagonismo das mulheres negras na construção dessa identidade.
Na noite desta segunda (20), a Sapucaí recebe os desfiles de Paraíso do Tuiuti, Portela, Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor de Nilópolis e Viradouro. A campeã sai após a apuração das notas, na quarta-feira (22).