Wesley Costa
O carnaval de rua voltou com força total em Curuçá, no nordeste paraense. Com o tema “Abram alas que o pretinho voltou”, o bloco “Pretinhos do Mangue”, uma das manifestações culturais mais tradicionais e vibrantes do Estado arrastou uma multidão pelas ruas da cidade, após dois anos sem festejar a data devido a pandemia da Covid-19. Criado em 1989, o bloco ecológico tem como principal objetivo celebrar o Carnaval chamando atenção pela luta, resistência e respeito ao meio ambiente.
O responsável pelo bloco, Edmilson dos Santos, conta que a iniciativa que chegou a sua 34ª edição, continua sendo uma grande homenagem ao mangue, ecossistema utilizado como principal fonte de renda e sustento da comunidade. Porém, não deixando de lado a realidade que muitos povos enfrentam, enfatizando a importância da garantia dos direitos dos povos originários como os índios Yanomamis.
“O bloco voltou com alegria, saúde para trazer a cultura de volta que estava esquecida, assim como os índios Yanomamis que foram esquecidos pelo poder público e virando vítimas dos garimpes Ilegais. Esse e outros povos merecem nosso cuidado e respeito. Tem que respeitar a vida. Viva o mangue, viva os Yanomamis e viva o meio ambiente”, celebrou o coordenador.
Levando ainda uma mensagem de inclusão, o desfile do bloco é um verdadeiro espetáculo de alegria e energia, reunindo pessoas de todas as idades e classes. Por lá, o abadá utilizado vem da própria natureza. Para cair na folia, basta cobrir o corpo ou parte dele, com a lama dos próprios mangues que cercam a cidade.
“A saudade era tamanha que não tem como economizar nessa lama divina. Foram dois anos tristes, mas hoje estamos aqui com muita saúde para celebrar a vida de todos”, disse Silvana Oliveira, 48.
Após a preparação, os brincantes saem pelas ruas do município acompanhados pelos seus carros alegóricos em um percurso de aproximadamente 1,5 km. Além da lama natural, um dos principais símbolos da festa é o mascote do bloco: um caranguejo de 4 metros de comprimento e um de altura. O “Pretinhos do Mangue” também levou para avenida o Carro da Ostra, para homenagear o cultivo do marisco que também é forte no município, na Vila de Lauro Sodré, e a beleza da mulher curuçaense.
“Há alguns anos venho no carnaval de Curuçá, que é um dos melhores do nosso Estado. Mas essa foi a primeira vez que vesti o abadá original do bloco. É sempre muito bom estar aqui com toda minha família e curtinho essa alegria e energia positiva que vem dos mangues. Quem ainda não conhece essa festa precisa vir e desfrutar desse melhor momento do ano”, diz Beatriz Mendonça, 26.
Vale destacar que o bloco foi tombado como Patrimônio Cultural do Estado do Pará, em 2010. O “Pretinhos do Mangue” é símbolo de resistência e de celebração da diversidade cultural. É uma manifestação que deve ser preservada e valorizada, não apenas pelo seu valor histórico e cultural, mas também por sua importância na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
“Há quase 30 anos estou presente nesse bloco que é uma grande aula ambiental. A missão de mostrar que o mangue representa vida deve ser levada sempre em nossos corações e mentes. Vamos preservar e cuidar do que é nosso para que essa vida seja sempre renovada e boa para todos”, pediu o aposentado Paulo Fernandes Neves, 65.