Justiça do Rio absolve réus do incêndio no Ninho do Urubu, relembrando a tragédia que matou dez jovens do Flamengo em 2019.
Justiça do Rio absolve réus do incêndio no Ninho do Urubu, relembrando a tragédia que matou dez jovens do Flamengo em 2019.

Quase nove anos após o incêndio que matou dez adolescentes no centro de treinamento do Flamengo, a Justiça do Rio de Janeiro absolveu, nesta terça-feira (21/10), os sete réus que ainda respondiam pelo caso. A decisão reacendeu a lembrança de uma das maiores tragédias do futebol de base brasileiro e renovou o sentimento de impunidade entre familiares das vítimas. O incêndio ocorreu na madrugada de 8 de fevereiro de 2019, em um alojamento improvisado dentro do Ninho do Urubu, em Vargem Grande, na Zona Oeste da capital. Os garotos dormiam em contêineres adaptados, instalados em uma área sem alvará da prefeitura para funcionar como dormitório.

A tragédia, que deixou um rastro de dor e luto, não apenas impactou as famílias das vítimas, mas também levantou questões sobre a segurança e a infraestrutura das categorias de base no Brasil. O incêndio começou em um aparelho de ar-condicionado e se espalhou rapidamente devido ao material altamente inflamável que revestia as estruturas metálicas. O fogo deixou dez mortos e 16 sobreviventes, que conseguiram escapar por uma única porta. As vítimas tinham entre 14 e 16 anos e eram promessas do futebol brasileiro.

As vítimas e a tragédia

As vítimas do incêndio foram: Athila Paixão, Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique, Rykelmo de Souza, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías. A dor das famílias se intensificou com a absolvição dos réus, que incluíam ex-dirigentes do Flamengo, engenheiros e representantes das empresas responsáveis pelos contêineres e pelos aparelhos de ar-condicionado. O juiz Tiago Fernandes de Barros entendeu que não havia provas de que os acusados tivessem agido de forma direta para causar o incêndio.

O Ministério Público do Rio informou que vai recorrer da decisão, que se soma às outras quatro absolvições já proferidas em etapas anteriores. O órgão pedia a condenação por incêndio culposo e lesão corporal grave, mas a Justiça decidiu que não havia evidências suficientes para sustentar as acusações. Essa decisão gerou revolta nas redes sociais, onde muitos torcedores expressaram sua indignação.

Reações nas redes sociais

Nas redes sociais, a reação quanto à decisão foi imediata e contundente. “Eu sou Flamenguista, amo meu time, mas isso aí é de torcer muito o nariz. Até um leigo em ritos processuais entende toda a manobra. Uma decisão absurda!”, escreveu um torcedor. Outro desabafou: “Imagina viver em um país onde a ‘justiça’ absolve os responsáveis por queimarem seu filho vivo.” Essas manifestações refletem um sentimento de frustração e desamparo entre os familiares das vítimas e a sociedade em geral.

A negligência e a fragilidade das estruturas

A tragédia do Ninho do Urubu não deixou apenas um rastro de luto, mas tornou-se um símbolo da negligência e da fragilidade das estruturas que sustentam o sonho de jovens atletas no Brasil. O caso expôs a falta de regulamentação e fiscalização nas condições de alojamento e treinamento das categorias de base, que muitas vezes são tratadas como secundárias em relação ao time principal.

Além disso, a situação levantou questões sobre a responsabilidade das instituições esportivas em garantir a segurança de seus atletas. A falta de um ambiente seguro e adequado para os jovens jogadores é uma preocupação crescente, especialmente em um país onde o futebol é uma das principais paixões nacionais.

O futuro das categorias de base

Com a absolvição dos réus, o futuro das categorias de base no Brasil permanece incerto. A tragédia do Ninho do Urubu deve servir como um alerta para a necessidade de mudanças significativas nas políticas de segurança e infraestrutura. É fundamental que as instituições esportivas adotem medidas rigorosas para garantir a segurança dos jovens atletas, evitando que tragédias como essa se repitam.

O debate sobre a segurança nas categorias de base deve ser ampliado, envolvendo não apenas os clubes, mas também as autoridades competentes e a sociedade civil. A tragédia deve ser lembrada como um marco para a transformação e melhoria das condições de treinamento e alojamento dos jovens talentos do futebol brasileiro.

Fontes:

Editado por Clayton Matos