Uma promessa de amor erguida durante o “período de ouro” de Belém. Essa é uma das definições do icônico Palacete Bolonha, localizado no final da av. José Malcher, centro da capital. Envolvido em recente polêmica sobre uma tatuagem, o local guarda mobiliário, pinturas e detalhes de grande valor artístico e arquitetônico na cidade.
Os detalhes e bastidores da construção estão no livro “Palacete Bolonha: uma promessa de amor”, escrito pelos pesquisadores Célio Lobato, Euler Arruda e Aurea Helyette. O nome “promessa” não é por caso: o prédio foi erguido em homenagem à esposa de Bolonha, a pianista Alice Tem-Brink.
Francisco Bolonha nasceu em Belém, no ano de 1872 e viajou para estudar no Rio de Janeiro, em 1890, onde concluiu o curso de Engenharia Civil no ano de 1894. Da capital carioca, o engenheiro partiu para a Europa e fixou residência em Paris, onde fez diversos cursos de aperfeiçoamento.
No Velho Continente, Bolonha se especializou em hidráulica e teve contato com o engenheiro Gustave Eiffel, com quem aprendeu novas técnicas no uso de metais e cristais, na construção civil.
Ao retornar para o Rio, Bolonha casou-se com a pianista Alice Tem-Brink e voltou a morar em Belém, na casa de seu pai. Alice não queria sair do estado de origem e recebeu de Francisco a promessa de que moraria em um palácio semelhante às construções européias da época.
A construção e os desafios do Palacete Bolonha
Hoje um local privilegiado no centro, no início do século XX o terreno onde o palacete foi erguido era bem diferente. O livro sobre o prédio afirma que a área era “um grande alagadiço” no inverno e no verão, “um matagal onde proliferavam insetos e roedores, com risco de doenças aos moradores das proximidades”.
Segundo relato de familiares, Bolonha, em uma roda de amigos, comentou a sua intenção em construir um palacete no local adquirido, todos riram e não acreditaram nas palavras do engenheiro.
O “boom” da borracha que influenciou a “Bela Época” de Belém, no início do século 20, foram fatores primordiais para que o engenheiro cumprisse a promessa. À época, além de um engenheiro conceituado, Bolonha era o maior importador de cimento no Pará. Recebia o material da Europa e Estados Unidos em grandes quantidades.
A seu dispor, também tinha engenheiros estrangeiros que moravam em Belém para auxiliar a construção de outros empreendimentos na capital. Foi com este “arsenal” de recursos que o palacete foi construído, no período de 1905 a 1908.
Ferramentas pneumáticas, como cravadores, mandris, furadores, cortadores, martelos, calafetadores e máquinas de pintar, além de bombas de aspiração foram empregadas no terreno.
A conclusão da edificação deixou a promessa cumprida à vista de toda a cidade: um dos prédios mais altos de Belém na época, com cinco pavimentos, incluindo a mansarda, onde o engenheiro criou espaços que usava como depósito. Nesse pavimento, fica o mirante para visualizar a cidade.
Detalhes e inovações do Palacete
Os compartimentos incluem sala de refeições e dormitórios para empregados, despensa, sala de lavanderia e de frigorífico, cozinha, banheiro, tanque para lavagem de roupas e motor elétrico. O prédio tinha gás e água encanada, uma novidade para o período. Mas a ousadia de Bolonha não parou aí.
O palacete também contava com refrigerador elétrico americano, tipo industrial, onde eram conservados os alimentos; fogão americano esmaltado e com forno; depósito d’água e estufas e coifa sobre o fogão, acoplado a uma tubulação de ferro, que conduzia o ar quente da cozinha para a chaminé, com saída no telhado.
Além do mobiliário, o imóvel foi enriquecido com painéis, frisos e balaústres. Foram usados materiais como mármore preto e branco, lajota hexagonal, lajota pastilha, tábua e outros elementos em madeira de lei e placas de vidro.
A cobertura apresenta três tipos de telhas: telhas de barro tipo francesa, importadas da cidade do Porto, em Portugal; telhas em ardósia que cobrem a área da mansarda e o sótão, além de telhas de vidro, usadas para iluminar a área da mansarda.
No hall de entrada do palacete, passa-se por portão em gradil elaborado, em estilo art-nouveau. No piso há um mosaico com um grande cão preto e a inscrição em latim “cave canem” – “cuidado com o cão”. Engenheiros e profissionais estrangeiros foram trazidos por Bolonha para concluir todos os detalhes previstos na planta.
Passados 117 anos, a “promessa de amor” segue imponente no centro da capital, sendo uma testemunha do período onde Belém foi um “pedaço da modernidade europeia”, no coração da Amazônia.
Os detalhes e uma entrevista com remanescentes da Família Bolonha podem ser conferidos neste material, editado pela EDUFPA: https://fauufpa.org/wp-content/uploads/2011/05/livro-bolonha1.pdf
Segundo a prefeitura, a visitação ao museu ocorre de terça-feira a sexta-feira, com entrada franca. Há visitas guiadas por um mediador às 9h30, 10h30, 11h30, 13h30 e 14h30.
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Editado por Débora Costa