
Pará - O chamado “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos em agosto de 2025 — tarifa padrão de 50% sobre uma ampla gama de produtos brasileiros exportados para o país norte-americano — vem causando impacto severo à economia nacional, com efeitos especialmente graves para as regiões Norte e Nordeste, onde estados como o Pará já registram perdas e vulnerabilidades significativas.
Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE) Impacto de dois meses do tarifaço dos EUA, revela que houve quedas profundas e disseminadas entre estados com pautas concentradas e forte presença de itens tarifados.
O levantamento mostra que o Pará está no grupo de Estados com quedas entre 20% e 40%, registrando uma queda nas exportações na ordem de 37,2%. Nos dois últimos meses.
Embora ainda não existam números públicos detalhados para o Pará isoladamente no estudo, é possível inferir que o estado enfrenta perdas relevantes por dois motivos: primeiro, sua pauta exportadora inclui bens industriais, madeira, celulose e minerais — segmentos apontados como vulneráveis ao tarifaço.
Segundo, a região Norte como um todo está entre as menos favorecidas pelas isenções concedidas pelos EUA. Portanto, o Pará opera em um cenário de risco elevado. O estudo da FGV ranqueou os estados mais vulneráveis considerando fatores como grau de exposição, percentagem de produtos não isentos e concentração setorial — nessa avaliação, estados das regiões Norte e Nordeste se destacam negativamente.
Perdas regionais e desigualdade acentuada
A distribuição dos impactos é desigual. O estudo da FGV aponta que a Região Norte fica em situação particularmente vulnerável: apenas 17,4% das exportações do Norte foram beneficiadas por isenções na lista divulgada pelos EUA.
Por conseguinte, estados com menor diversificação exportadora e maior dependência de cadeias de valor vulneráveis se veem mais expostos.
Em relação ao Norte especificamente — e ao Pará de forma indireta — há alerta de que essa baixa cobertura de isenções e a forte dependência de produtos industriais ou intermediários para exportação tornam a região mais suscetível ao impacto negativo do tarifaço.
Consequências para a economia local
Para o Pará isso significa: perda de competitividade nos mercados externos, pressão sobre setores exportadores tradicionais, possível retração de empregos nas cadeias exportadoras e aumento da insegurança quanto à sustentabilidade de receitas vindas de comércio exterior. O choque tarifário pode causar retração em exportações que servem como motor de arrecadação de estados da Amazônia e dos produtos florestais ou minerais.
Além disso, o fato de poucas isenções atingirem a região agrava o cenário: os Estados Unidos concederam cobertura de isenção maior a regiões como Centro-Oeste ou Nordeste (dependendo do produto), deixando o Norte relativamente de fora.
A gênese do tarifaço
Em 6 de agosto de 2025 entrou em vigor um pacote tarifário anunciado pelos EUA, que previa sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para aquele mercado.
Antes disso, já haviam sido anunciadas medidas preparatórias e listas de isenção, mas a regra passou a valer de fato naquele mês. Segundo análises, mais de 55% da pauta exportadora brasileira para os Estados Unidos estaria afetada.
Impactos gerais para o Brasil
Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE), as vendas brasileiras aos EUA recuaram abruptamente no mês seguinte à entrada em vigor, mostrando que parte das exportações já havia sido antecipada em julho para tentar mitigar o choque.
O governo brasileiro, por sua vez, estimou que o impacto agregado sobre o PIB seria “modesto” — cerca de 0,2 ponto percentual entre agosto de 2025 e dezembro de 2026 — embora salientando que setores específicos, como madeira, papel, têxteis e químicos, sofrerão de forma mais intensa.
O que está em jogo
O tarifaço coloca em xeque a inserção internacional do Brasil e a competitividade de suas exportações. No Pará, um estado que busca diversificar sua economia e aproveitar a pauta da Amazônia Legal, o risco é duplo: afetar tanto agronegócio de base florestal quanto mineração e produtos relacionados à bioeconomia.
Se não houver resposta rápida — diversificação de mercados, apoio à exportação, adaptação logística — o impacto poderá se estender para além da queda de receitas, atingindo empregos, arrecadação estadual e até investimentos em infraestrutura.
Editado por Débora Costa