Posto de saúde na floresta ajuda vítimas de picadas de cobra


A poucos meses da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), histórias que refletem os desafios e avanços da Amazônia começam a ganhar visibilidade nacional. Uma delas é a de Prainha do Maró, comunidade ribeirinha localizada no oeste do Pará, cuja transformação na área da saúde chamou a atenção do país após reportagem publicada pelo portal da revista Veja, assinada pelo jornalista Matheus Leitão.

O texto destaca o impacto da chegada da conexão via satélite no posto de saúde local — a Unidade Básica de Saúde (UBS) de Prainha do Maró —, que reduziu pela metade o tempo de resposta médica em casos de emergência. O local fica a 22 horas de barco do hospital mais próximo, em Santarém, e enfrenta um índice elevado de acidentes com serpentes peçonhentas, especialmente a pico-de-jaca, a maior das Américas e segunda maior do mundo, segundo o Instituto Butantan.

Até 2022, a comunicação era feita apenas por rádio, cartas ou mensagens repassadas de boca em boca. A moradora Luci Martinho lembra de um episódio trágico, quando perdeu o avô por falta de atendimento médico adequado. Ele faleceu 24 horas após ser picado por uma cobra, sem acesso ao soro antiofídico. Recentemente, em uma nova ocorrência, Luci Martinho também foi picada — mas, desta vez, sobreviveu graças à conexão de internet via satélite. “Eu fui picada pela cobra umas 9 horas da manhã. O avião veio e me pegou aqui. Quando foi 5h30 da tarde, eu já estava medicada em Santarém. Fiquei com medo de morrer”, contou.

Segundo o Ministério da Saúde, a região Norte lidera o ranking de acidentes com serpentes peçonhentas, com 9.400 casos registrados e uma taxa de 50,35 para cada 100 mil habitantes — quase o triplo da média nacional, de 14,86. A maioria das ocorrências (75%) se dá em áreas rurais.

Transformação na Saúde da Amazônia

A transformação em Prainha do Maró é resultado do projeto UBS da Floresta, parceria entre o Projeto Saúde e Alegria e a Fundação Banco do Brasil, que leva energia solar, internet via satélite e equipamentos médicos a comunidades remotas da Amazônia. As unidades foram revitalizadas e agora contam com autoclaves, nebulizadores, oxímetros e eletrocardiogramas digitais, além de kits portáteis para os agentes comunitários de saúde.

Marcela Pinheiro, uma das coordenadoras do programa, explica que a energia solar é essencial para garantir o armazenamento seguro de vacinas e o funcionamento contínuo da unidade. “Esses equipamentos são fundamentais para salvar vidas, como o desfibrilador, o kit de oxigênio e o eletrocardiograma, que agora poderá ser enviado via telemedicina para emissão de laudos à distância. Também garantimos energia contínua para conservar vacinas e permitir atendimentos noturnos em casos de emergência”, detalhou.

O agente comunitário de saúde Carlos Alberto dos Santos reforça o sentimento de pertencimento e visibilidade que a iniciativa trouxe. “A gente era muito esquecido na nossa região. A chegada da Starlink mudou muita coisa no nosso trabalho. A gente conseguiu se conectar com outras comunidades. Se acontece um acidente, a gente já sabe que tem como se comunicar com as pessoas. E brevemente a gente é atendido”, disse.

Telemedicina e Inovação na Amazônia

Com a conexão estável, a UBS de Prainha do Maró passou a realizar atendimentos online e utilizar a telemedicina como ferramenta de diagnóstico remoto, permitindo que laudos e exames sejam emitidos à distância. A experiência, que une tecnologia, inclusão e saúde pública, sintetiza o tipo de inovação que vem emergindo da Amazônia e ecoando globalmente às vésperas da COP30, que será sediada em Belém em novembro.

Editado por Luiz Octávio Lucas