
Um estudo inédito desenvolvido pela Embrapa Acre revelou queos feijões cultivados no Vale do Juruá, no Acre, apresentam alto valor nutricional e grande diversidade genética, reforçando a importância da agricultura tradicional na conservação da biodiversidade amazônica. A pesquisa avaliou 14 variedades de feijões ao longo de três anos e confirmou teores de proteína e antioxidantes superiores aos encontrados em outras regiões do país.
As variedades Costela de Vaca e Manteiguinha Branco, ambas do tipo caupi (Vigna unguiculata), apresentaram teor de proteína de até 27%, valor acima da média nacional e mundial, que gira em torno de 20%. Segundo o pesquisador Amauri Siviero, da Embrapa Acre, e a professora Guiomar Almeida Sousa, do Instituto Federal do Acre (Ifac), os resultados reforçam o potencial dos grãos amazônicos para diversificar a produção de alimentos e gerar renda a pequenos agricultores.
Outro destaque foi a presença de antocianinas, substâncias antioxidantes naturais que ajudam na prevenção de doenças cardíacas, câncer e Alzheimer. Os feijões Preto de Arranque e Preto de Praia apresentaram índices entre 420 e 962 microgramas por grama, superando variedades brancas e coloridas. Além do alto valor nutricional, os grãos também demonstraram boa conservação após 12 meses de armazenamento, mesmo em diferentes tipos de embalagens.
Durante o levantamento, foram catalogadas 23 variedades crioulas apenas no município de Marechal Thaumaturgo, o que torna a região o principal centro de conservação “on farm” de feijões caupi e comum do mundo, segundo o professor Eduardo Pacca, da Universidade Federal do Acre (Ufac). O estudo também resultou na criação de um mapa da diversidade de feijões do Acre, abrangendo áreas ribeirinhas e de várzea nos rios Juruá, Breu, Tejo e Amônia.
Descobertas e Impacto do Projeto RSAT Alto Juruá
A pesquisa integra o projeto “Registro dos Sistemas Agrícolas Tradicionais do Alto Juruá (RSAT Alto Juruá)”, desenvolvido por uma rede de instituições — incluindo a Embrapa Amazônia Oriental, sediada em Belém (PA) — e tem como objetivo reconhecer o valor cultural e genético dos cultivos amazônicos. O trabalho será apresentado na AgriZone da Embrapa, durante a COP30, em Belém, destacando os sistemas agrícolas tradicionais como exemplos de produção sustentável e conservação da natureza.
De acordo com os pesquisadores, as descobertas abrem caminho para políticas públicas de valorização e certificação dos feijões do Juruá, como o Selo Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil e futuras indicações geográficas de origem. “Essas variedades representam um patrimônio genético e cultural único, resultado da sabedoria ancestral dos povos da floresta, que produzem de forma sustentável e mantêm viva a biodiversidade amazônica”, afirma Siviero.