A origem da corda está ligada a um imprevisto: naquela época, a berlinda era transportada por cavalos, e uma cheia no Igarapé do Piri
São muitas histórias entrelaçadas por toda a extensão da corda do Círio, um dos principais símbolos de fé e amor em Nossa Senhora de Nazaré, todos os anos. O DIÁRIO conta algumas delas

Anunciando a chegada da berlinda com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, a corda carregada pelas milhares de mãos é um dos grandes símbolos da devoção e da força da fé do povo paraense na Virgem de Nazaré. Tão representativa do Círio, a corda foi utilizada pela primeira vez em 1855 e, apesar de ter perdido a função inicial, trinta anos mais tarde acabou sendo incorporada oficialmente à procissão.

A história aponta que, no ano de 1855, no período em que a Berlinda com a imagem de Nossa Senhora ainda era transportada em um carro puxado por cavalos, uma cheia no Igarapé do Piri, hoje transformado na avenida Boulevard Castilhos França, fez com que o carro que levava a Berlinda ficasse atolado e os cavalos utilizados à época não conseguissem puxá-lo. A solução veio de uma corda emprestada que possibilitou que os fiéis retirassem o carro do atoleiro.

“Um homem, pescador ou comerciante do local, trouxe uma corda para resolver o problema. Ela foi amarrada no meio da parelha de cavalos, naquela peça em madeira, onde os cavalos são atados para controlar seus galopes, puxaram a corda e os animais e a Berlinda saíram do atoleiro”, explica a historiadora e escritora Mízar Klautau Bonna, em seu livro ‘Meus 80 Círios’.

O fato foi determinante para que o horário de realização do Círio fosse modificado. Se antes era realizado no período da tarde, quando se concentra a ocorrência de chuvas na região, o Círio passou a ocorrer sempre no período da manhã, horário que segue até hoje. Apesar de ter sido usada pela primeira vez em 1855 em decorrência de uma necessidade, a corda só foi incorporada oficialmente ao Círio em 1885, trinta anos depois. Já sem a necessidade de desatolar a Berlinda, a corda se concretizou como uma das grandes manifestações de dos devotos de Nossa Senhora de Nazaré.

No livro “Dois séculos de fé”, Mízar Bonna descreve um pouco do que representa a corda para o Círio de Nazaré e para os devotos da padroeira dos paraenses. “No momento da corda do Círio realiza-se o sonho de Jesus꞉ que todos sejamos um em comum unidade com ele. A corda tem o aspecto simbólico de sacrifício, pois os romeiros se aglomeram segurando a corda no decorrer da procissão até chegar ao seu destino final”.

Madrugada e a Corda

MADRUGADA

E quem toma para si a missão de puxar a corda que movimenta a Berlinda de Nossa Senhora de Nazaré precisa iniciar a jornada ainda durante a madrugada. Para garantir um pequeno espaço que permita fechar a mão em torno da corda, centenas de promesseiros passam a noite na Avenida Boulevard Castilhos França, onde o símbolo de devoção é esticado no chão para aguardar o momento do atrelamento à Berlinda.

Diante do céu ainda pouco iluminado da madrugada de domingo, o reencontro dos romeiros com a corda de Nossa Senhora de Nazaré é vivenciado de diferentes maneiras. Durante a espera pelo momento de levantar e puxar a corda que conduz a Berlinda até a Basílica, muitos aproveitavam o clima ainda tranquilo para descansar, com o corpo repousado sobre a corda; outros se distraem conversando e ainda tem quem encontre uma maneira de incentivar os outros promesseiros que passam de joelhos, aplaudindo o esforço e a fé alheia.

História e Evolução da Corda

CORDA

Utilizada pela primeira vez em 1855, mas incorporada oficialmente ao Círio apenas em 1885, a corda passou por várias mudanças ao longo dos anos. Confira alguns marcos históricos relacionados:

*Em 1922 foram separados homens para um lado da corda e mulheres para o outro.

*A corda chegou a ser abolida do Círio no período entre 1926 e 1930, pelo então Arcebispo Dom Irineu Jofily.

*Até 2003, o formato da corda era de “U” com as duas extremidades atreladas à berlinda. A partir de 2004, por motivos de segurança, a corda ganhou formato linear dividida em cinco estações confeccionadas em duralumínio, que ajudam a dar tração à corda e ritmo às romarias.

*A corda usada na Trasladação e no Círio é confeccionada em cisal torcido, possui 400 metros de comprimento (para cada uma das romarias) e duas polegadas de diâmetro. 

Fontes: Site oficial do Círio de Nazaré e Dossiê do Círio – Iphan.