
Quando o Círio de Nossa Senhora de Nazaré toma as ruas de Belém, ele traz consigo um conjunto de símbolos que dão forma física à fé, à identidade e à tradição de um povo. Elementos introduzidos pela organização da festa ou incorporados de forma espontânea pelos romeiros, como a corda, a berlinda, os brinquedos de miriti e as réplicas em cera, compõem a essência da procissão que homenageia a Virgem de Nazaré. Mais do que simples representações, são expressões vivas de devoção que tocam o cotidiano e a emoção dos paraenses todos os anos.
Imagens
A imagem original de Nossa Senhora de Nazaré, encontrada por Plácido José de Souza, mede 28 centímetros, tem os cabelos caídos sobre o ombro direito e carrega o Menino Jesus despido, com um globo nas mãos. Guardada no altar-mor da Basílica Santuário de Nazaré, ela não acompanha a procissão. Em 1968, o então pároco Padre Luciano Brambilla, com apoio da historiadora Mízar Bonna, encomendou ao escultor italiano Giacomo Mussner uma réplica da santa. Essa nova versão, usada nas procissões, recebeu traços amazônicos: a Virgem ganhou feições da mulher da região e o Menino Jesus, características indígenas e caboclas. É essa imagem, conhecida como Imagem Peregrina, que segue à frente da multidão durante o Círio.
Berlinda e Corda: Símbolos Centrais do Círio
Berlinda
Símbolo central da festividade, a berlinda passou a integrar o cortejo em 1882, por sugestão de Dom Macêdo Costa. Antes disso, a imagem era conduzida no colo do capelão do Palácio do Governo. A berlinda atual, a quinta já construída, foi confeccionada em 1964 pelo escultor João Pinto. Feita em cedro vermelho e em estilo barroco, ela é decorada anualmente com flores naturais, que ajudam a compor o cenário de fé e beleza durante o Círio e a Trasladação.
Corda
Talvez o mais emblemático símbolo de fé do Círio, a corda surgiu de forma inesperada, em 1885. Naquele ano, uma enchente na Baía do Guajará alagou a área próxima ao Ver-o-Peso e atolou a berlinda. Sem que os cavalos conseguissem puxá-la, os fiéis improvisaram: utilizaram uma corda emprestada para conduzir a santa até o destino. Assim nasceu uma das tradições mais fortes da festa. Hoje, a corda mede cerca de 400 metros, possui formato linear e é dividida em cinco estações, unindo milhares de mãos em um mesmo gesto de fé.
Elementos Devocionais e Históricos do Círio
Carros
Treze carros integram a procissão, representando histórias, milagres e promessas. O primeiro a compor o cortejo foi o Carro de Dom Fuas Roupinho, incluído em 1805 a pedido da rainha Dona Maria I, em agradecimento ao milagre de 1182, quando o fidalgo português foi salvo de cair de um penhasco após invocar Nossa Senhora de Nazaré. Entre os mais conhecidos está também o carro que faz referência ao milagre dos náufragos do brigue São João Batista, um dos episódios mais lembrados pelos devotos.
Cartaz
Colado nas portas das casas, o cartaz do Círio é um dos sinais mais visíveis da chegada da festa. Mais que uma simples peça de divulgação, é um gesto de homenagem à padroeira dos paraenses. A tradição remonta a 1826, quando foi produzido o primeiro cartaz — feito em Portugal, desenhado à mão e impresso posteriormente. Desde então, a imagem do cartaz tornou-se um marco da devoção popular e um dos símbolos afetivos do Círio.
Hinos
Os hinos entoados ao longo da procissão evocam de imediato a atmosfera da fé que envolve o Círio. O mais conhecido deles, “Vós Sois o Lírio Mimoso”, é considerado o hino oficial da festividade. Composto em 1909 pelo poeta maranhense Euclydes Faria, marcou o momento da implantação da pedra fundamental da atual Basílica Santuário.
Ex-votos
Manifestação da gratidão dos fiéis pelas graças alcançadas, os ex-votos podem assumir diferentes formas: velas, partes do corpo humano moldadas em cera, tijolos, livros ou pequenas maquetes. Durante a procissão, esses objetos são levados pelos romeiros como testemunho de fé e depois depositados nos carros dos milagres ou na própria Basílica, em um espaço destinado especialmente a eles.
Cultura e Fé Materializadas no Círio
Brinquedos de Miriti
Coloridos e leves, os brinquedos de miriti compõem um dos cenários mais encantadores do Círio. Produzidos a partir do caule da palmeira de miriti, reproduzem aves, peixes, barcos e personagens da vida amazônica. Expostos à venda em mostruários de madeira erguidos sobre a multidão, os brinquedos são símbolos da criatividade e da cultura popular paraense.
Fitas
As fitinhas de Nossa Senhora de Nazaré enfeitam pulsos, malas e roupas de quem participa da festa. Segundo a tradição, ao amarrá-las, deve-se fazer três nós e, a cada nó, um pedido. Mais do que lembrança, a fita é uma forma de carregar a fé consigo o ano inteiro.
Basílica
Com 20 metros de altura, 24 de largura e 62 de comprimento, a Basílica Santuário de Nazaré começou a ser construída no início do século XX pelos padres Barnabitas, em substituição à antiga igreja. Em 1992, foi elevada à condição de Santuário. É lá que repousa a imagem original encontrada por Plácido — o ponto de partida e de chegada da maior procissão religiosa do Pará.
Fonte: Com informações do site oficial do Círio de Nazaré e do Dossiê do Círio – Iphan.